Padre José de Fátima fala sobre a importância da data e da situação do negro no Brasil
DA REDAÇÃO– O Dia da Consciência Negra foi comemorado ontem em todo o país. A data homenageia o Zumbi, um escravo que foi líder do Quilombo dos Palmares. Zumbi foi morto em 20 de novembro de 1695. “O objetivo do Dia da Consciência Negra é fazer uma reflexão sobre a importância do povo e da cultura africana, assim como o impacto que tiveram no desenvolvimento da identidade da cultura brasileira”, explica padre José de Fátima Rosa, que é da Pastoral Afro-Brasileira da Diocese de Caratinga e pároco de Dom Cavati.
Para enfatizar a importância do Dia da Consciência Negra, padre José de Fátima, inicialmente, usa um trecho da Revista Mensageiros do Coração de Jesus, que traz a seguinte mensagem: “O Dia da Consciência Negra é o dia do Brasil, negros do Brasil somos quase todos, por isso o Dia da Consciência Negra celebrado em 20 de novembro é o dia do próprio Brasil, que é mestiço na pele e negro de alma”.
O texto ainda traz um questionamento sobre os serviços de saúde ofertados à população negra, como destaca padre José de Fátima. “As mulheres grávidas brancas sempre são melhores acompanhadas nos hospitais no pré-natal, segundo publicação de um jornal. E negam essa realidade quando são questionados. As instâncias públicas de saúde se deixam levar pelo preconceito e reforçam todos os índices de qualidade de vida dos negros do Brasil. A pesquisa foi feita pela Fundação Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro, mas também se aplica a boa parte do país. Claro que há muitas mulheres e homens preconceituosos, crianças aprendendo com os pais a serem preconceituosos, padres preconceituosos também. Mas no geral, em todo dilema que aponte para a necessidade de quebra de padrões que já se demonstram obsoletos, é a mulher que vai à frente e diz ao homem: ‘Podemos fazer diferente’. Podemos fazer o Brasil diferente, tratar as pessoas com igualdade”.
O padre segue de acordo com a publicação, que enfatiza que o preconceito racial brasileiro é “disfarçado e com falsa cordialidade”. “As pessoas negras devem ser respeitadas, incluídas, aceitas, diferentes fundamentalmente, quando as pessoas negras extirparem de suas entranhas o preconceito bebido com leite materno. A pior tradução do preconceito é o sentimento de inferioridade exposto durante séculos de escravidão. Trabalho mal remunerado, falta de acesso à escola, saúde e moradia. Não há negros inferiores, mas inferiorizados. Faz toda a diferença. A inferioridade é imposta, forçada à goela a dentro. Deveríamos parar de dizer: esse é um ‘preto de alma branca’. Negro que é negro não precisa nem se quer branquear a pele, muito menos a alma. Bom mesmo é ter alma negra, consciência de nossas origens. Deixar de associar negro com preguiça, moleza e caráter duvidoso. Todas essas mazelas humanas independem da cor da pele, são fruto da falta de educação humana, de escolas, oportunidade de trabalho, não é destino de nenhuma raça. Resultado do que os governos fazem com seus governados”.
O texto também cita que no Dia da Consciência Negra é necessário assumir que “somos quase todos negros”. Segundo o padre José de Fátima, igualdade que não virá sem escolarização, “porque a educação e o único caminho para o avançar de um povo”. “Não precisamos de branqueamentos, imitar o que nunca seremos. Como padre negro, digo que não existe a diferença de ser negro ou branco. É raça e todo mundo tem conhecimento, saber e inteligência basta querer, hoje temos muito meios de pesquisar e estar por dentro da atualidade. O que importa é a competência humana e é pelos frutos que se conhecem as árvores, não pelas suas cores. Isso vale para todas as pessoas”, afirma padre José de Fátima.
A revista também traz a reflexão de que a atitude de reconhecer ao outro, a plenitude, humanidade e direitos fará com que aos poucos “possamos eliminar de nossas relações sociais a marca do preconceito”. “É quando veremos crianças negra e brancas frequentarem a mesma escola, preparando-se para construir no futuro um país que aceite mostrar a própria cara. No mundo artístico há vários talentos negros no mundo todo. Para que todas as pessoas possam conquistar o reconhecimento de seus esforços e recompensas de suas conquistas. Sem contar que mascarar o preconceito racial é mantê-lo vivo, atitude bem pouco evangélica”.
AGRADECIMENTOS
Padre José de Fátima aproveita para fazer alguns agradecimentos àquelas pessoas que contribuíram para a realização da Novena e Festa do Jubileu do Tricentenário 1717-2017. O tema foi ‘Padroeira do Brasil: 300 anos de bênção e de graças: 100 anos de Nossa Senhora de Fátima’.
“Agradeço às autoridades culturais que estiveram presentes em Dom Cavati, principalmente o Clube de Carros Antigos e de motoqueiros de Ubaporanga. Os grupos culturais de Cocais, foliões, congados e grupos de consciência negra de nossa região. O Tiro de Guerra de Caratinga com os bombeiros de Inhapim e Ubaporanga, autoridades militares presentes. Aos religiosos que vieram de Belo Horizonte, Ubá, Conselheiro Lafaiete e de Caratinga. Pequenas Irmãs da Divina Providência de Belo Horizonte e as Irmãs Gracianas e Irmãs Nossa Senhora de Fátima, pelos 100 anos. Também a presença de todos os padres e seminaristas, que estiveram durante a novena pelos 300 anos de Bênçãos de Nossa Senhora Aparecida e 100 Anos de Nossa Senhora de Fátima; ao prefeito Juninho e o presidente da Câmara de Dom Cavati, Jackson; o secretário da Cultura e todas as equipes que trabalharam nas barracas e na cozinha. Ao bispo dom Emanuel, uma jovem da África e seu Daniel, que tem 116 anos e desfilou. Todos que contribuíram para a realização da festa. Organização das crianças, com equipe da catequese, infância missionária, coral de crianças e a juventude; além dos coordenadores de nossa paróquia. Aos visitantes de toda região, nosso muito obrigado. Desejo desde já um feliz natal e um próspero ano novo”, afirma.