(Noé Neto)
Apesar de não ser uma festa originalmente brasileira, o carnaval tem a cara do Brasil. O povo canta e dança pelas ruas, abraça-se e festeja ao som das marchinhas, do axé, do samba enredo, do frevo e do maracatu.
O carnaval tem tanto a cara do Brasil, que aos poucos ele foi deixando de ser um evento de um final de semana e se estendendo para o ano inteiro, em um verdadeiro desfile de atrocidade e desrespeito ao povo que, por sua vez, segue sambando para pagar a conta das alegorias e adereços que envolvem os nossos mestres-salas e porta-bandeiras.
Assim como no desfile das escolas de samba os quesitos são claros, os julgadores, que somos nós, é que nem sempre estão atentos e acabam reelegendo sempre a mesma escola para renascer das cinzas na quarta, enquanto ardemos em brasa o resto do ano.
Para julgar, a primeira avaliação é da bateria. Deseja-se a perfeita conjugação dos sons com o samba enredo, criatividade e versatilidade. Mas a sensação que o ouvinte mais atento tem é que cada instrumentista executa um ritmo diferente, adequado ao seu próprio gosto, sem se preocupar com o conjunto. E quanto a criatividade e versatilidade, já não são vistas há muito tempo. Ainda assim, os desafinados instrumentistas continuam sambando diante de um público embriagado que lhe dará a oportunidade de no próximo desfile permanecer na avenida fazendo a cuíca e o povo chorarem juntos.
No quesito samba-enredo, avalia-se a letra, a melodia, riqueza poética e o bom gosto, percebendo se o samba facilita o canto e a dança dos componentes. Não preciso nem dizer que a letra já decoramos, afinal, mesmo trocando de puxador o samba é sempre o mesmo. Uma letra que envolve muita riqueza, mas que não é nem um pouco poética. Quanto ao bom gosto é uma questão de ponto de vista, quem está de camarote acha tudo lindo, já o povo da geral, não consegue ter a mesma empolgação. Sobre tal samba, somente uma coisa é certa: o povo dança, ele sempre dança.
Em harmonia a nota é 10! O entrosamento entre os componentes e o puxador é perfeito. Todos cantam juntos, o mesmo samba, no mesmo ritmo, quase sempre na calada da madrugada. Aqui a disputa chega a ser uma fantasia, pois se for de interesse das (arqui)bancadas, os jurados não hesitam em aprovar com unanimidade, tudo é situação, nada de oposição.
O progresso da dança é avaliado no critério evolução, que poderia até ganhar um nove se não fosse a punição prevista quando existem atrasos, retrocessos e correrias. Que os sons da escola de samba Unidos do Plenário, colocam o povo para dançar ninguém questiona, o problema é que para isso acontecer há muita correria quando é de interesse da escola e muito atraso quando o interesse é do público. Quanto aos retrocessos, são tantos que corre um sério risco de na evolução a escola ficar em débito com os jurados.
Alegorias e adereços, são os elementos cenográficos do mais alto nível, onde mais se vê investimento. É fácil enfeitar, colocar grandes destaques nos carros, apresentar o samba na mais cobiçada mídia e assim fazer o público se esquecer facilmente de observar os detalhes escondidos, como os carros da educação e da saúde que estão quebrados e novamente não vão deixar a concentração e passar pela avenida.
Mesmo diante de tudo isso, é certo que o povo brasileiro vai sambando e sorrindo, cantando e crendo que no próximo carnaval teremos um novo enredo.
É carnaval no Brasil e sonhamos com o dia em que o tema da nossa festa maior seja a felicidade do seu povo que trabalha duro o ano inteiro para despejar confetes e lançar serpentinas, mantendo viva a esperança que chegue logo a Páscoa e que ela traga a ressurreição do nosso país, com uma comissão de frente competente, harmônica e dedicada em trazer felicidade para a avenida, sem máscaras, sem fantasia, chegando junto do povo à praça da apoteose.
Prof. Msc Noé Comemorável.
Escola “Prof. Jairo Grossi”
Centro Universitário de Caratinga – UNEC
Escola Estadual Princesa Isabel