– Uma Pequena Reflexão Sobre a Necessidade de Aprovação –
Hoje, mais do que nunca, vivemos em uma sociedade que vive inteira e completamente de aparências, a realidade se tornou obsoleta; em nossos dias, quase ninguém vive o que realmente é. Todos, insatisfeitos com a realidade que se apresenta, vivem ostentando ser o que não são, enquanto seguem na busca incessante de tornar realidade suas projeções e, invariavelmente, para atender as projeções de outros feitas em cima de cada um.
Vivemos em um mundo movido a projeções. Há todo instante, e em toda e qualquer situação, estaremos envolvidos e expostos a situações que nos levam a projetar em alguém, ou em algo, as nossas próprias expectativas, ou que levem alguém a projetar em nós as suas próprias expectativas e, até certo ponto, isso não é ruim, e é até natural, desde que tais projeções feitas sobre nós não tenham o poder de moldar nossas ações, nossos sentimentos, desejos, nossa maneira de pensar, e nos prive de nossa própria personalidade, de nossa própria individualidade.
Como seres humanos, carregamos dentro de nós a vontade de agradar as outras pessoas, de atender à suas expectativas com relação a nós, principalmente aquelas pessoas mais próximas e que mais estimamos, que sempre projetam ou esperam algo de nós, e isso não é ruim, desde que não vivamos só para agradar e satisfazer as expectativas dos outros, em detrimento, muitas vezes, de nossa própria saúde, física e, principalmente emocional e psicológica.
Todos nós, principalmente adolescentes e jovens, temos alguém cuja opinião é muito importante para nós, mas não podemos ser submissos a ponto de deixarmos que todas as nossas decisões sejam tomadas de acordo com a opinião de uma ou outra pessoa, opiniões muitas vezes contrárias a nossa própria vontade, contrárias a aquilo que julgamos ser o melhor.
Há uma diferença entre se ter desejo de aprovação e ter necessidade de aprovação. O desejo de ser aprovado, de corresponder às expectativas, é normal, desde que não vivamos em prol disso, é normal desde que a opinião, as expectativas e as projeções das outras pessoas não interfiram naquilo que nós almejamos para nós mesmos, e nem na imagem que temos de nós mesmos. Por outro lado, a necessidade de aprovação, a dependência da aprovação dos outros para dirigir nossas vidas, a negação sem limites de si mesmo em prol da aprovação do outro é uma característica de um transtorno chamado Transtorno de Personalidade Dependente (TPD), onde há a necessidade, a dependência de aprovação social, a vontade de viver de acordo com o desejo dos outros.
Mesmo em uma sociedade cada vez mais egoísta, como a nossa, é comum encontrar esse triste contraste: pessoas que negam a sua individualidade, sua personalidade, que são capazes de subordinar suas vontades, desejos, e maneira de pensar, à opinião de outras pessoas, para agradar a outros.
Pessoas que sofrem com essa necessidade de aprovação, por terem medo de serem reprovadas pelas outras pessoas, são sempre as mais agradáveis; são mansas, dóceis, amáveis, admiráveis, são pessoas dispostas a dar tudo de si, leais, inquestionáveis, compreensivas, esforçadas, carinhosas, atenciosas, etc. Por terem personalidade tão passiva, tendem a deixar não só seus desejos e vontades, como também tendem a abrir mão de seus princípios e distorcer seus próprios valores para sustentar a idealização, a projeção feita por alguém. Por medo de serem rejeitadas, preferem concordar com coisas que acreditam ser erradas do que arriscar a perder ou magoar tais pessoas.
A partir disso, surgiu-se a necessidade da busca pelo corpo perfeito, pela mulher perfeita, pelo homem perfeito, esposa perfeita, marido perfeito, pais perfeitos, etc., e tantas outras coisas que foram tomadas como padrões, e foram engessadas e estabelecidas como parâmetros de perfeição aos olhos da “sociedade”, os chamados padrões “modelo”, contribuindo assim, para essa corrida incessante das pessoas pela necessidade de aprovação diante de tais padrões, fazendo tudo o que é possível para poder entrar na forma que lhe fora apresentada. Por terem a autoestima baixa, pessoas com tal necessidade de aprovação não medem esforços para corresponder as expectativas das outras pessoas, ou de algum grupo social, seja na família, com os amigos, na escola, na sua “tribo urbana”, no trabalho, na academia, etc.
Por falar em grupo social, em seu trabalho Psicologia de Grupo e Análise do Ego, Freud fala sobre a influência dos grupos sobre o indivíduo citando algumas passagens do livro Psychologie des foules, de Le Bon. Em uma dessas passagens, Le Bon diz;
“A peculiaridade mais notável apresentada por um grupo psicológico é a seguinte: Sejam quem forem os indivíduos que o compõem, por semelhantes ou dessemelhantes que sejam seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados num grupo coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria e agiria caso se encontrasse em estado de isolamento. Há certas ideias e sentimentos que não surgem ou que não se transformam em atos, exceto no caso de indivíduos que formam um grupo.” (Além do Princípio de Prazer, Psicologia de Grupo e Outros Trabalhos (1920 – 1922), pág. 79-80. Sigmund Freud – Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud), grifo nosso.
Quantas pessoas, buscando a aprovação e adesão em certos grupos, deixam de lado seus próprios princípios, e chegam a fazer coisas que elas mesmas abominariam, se não estivessem cegas em sua busca? Quantas pessoas desrespeitam os limites de seu próprio corpo e de sua saúde na busca do corpo perfeito, na busca de se igualar à padrões sem sentido? Que venhamos refletir sobre isso: temos desejo de aprovação, ou temos necessidade de aprovação? As pessoas com necessidade de aprovação acreditam mais nas opiniões dos outros do que nas suas próprias.
Que não venhamos viver pela necessidade de aprovação dos outros para nos afirmarmos como pessoas. Podemos conviver com as pessoas, ter relacionamentos felizes, sem que tenhamos que neutralizar nossa personalidade. Precisamos voltar a ser espontâneos, agir, pensar, tomar decisões, fazer as coisas, sem nos incomodar com a opinião dos outros e sem nos preocupar em nos enquadrar em algum tipo de padrão preestabelecido.
A beleza das pessoas não pode ser padronizada pelo formato do rosto, do corpo das/dos modelos, ou das roupas, joias, e acessórios que usam, e tantas coisas mais que a mídia nos apresenta. Cada pessoa tem o seu valor. Cada pessoa é única e especial. Seja feliz com quem você é, sem se preocupar com a aprovação dos outros. Aprove a si mesmo, e seja feliz com suas próprias projeções e sonhos, tendo em mente que, as pessoas que realmente importam para nós nos amarão e nos aceitarão da maneira que nós somos.