Paulo Ricardo se apresentou na noite de quinta-feira (26) no palco do Piedade Fest. Em entrevista à imprensa, o cantor fez um balanço de sua carreira e mostra que é um artista que se reinventa a cada trabalho
CARATINGA- Paulo Ricardo foi a atração principal da última quinta-feira (26), do Piedade Fest, com a turnê ‘Sex On The Beach’. Antes da apresentação, o cantor concedeu entrevista à imprensa no Vind’s Hotel e fez um balanço de sua carreira. O prefeito de Piedade de Caratinga, Edinilson Lopes, ainda realizou a entrega de uma placa de homenagem ao músico.
Além dos sucessos atemporais, Paulo Ricardo é um artista que sempre procura se reinventar. Ele frisou que quem gosta de música está sempre empolgado com as novidades. “E sempre existem várias coisas que nós gostaríamos de fazer. Naturalmente, uma ponta de frustração por, obviamente, não conseguir fazer tudo que a gente gostaria. Às vezes me preocupo com esse ecletismo e com esse paradoxo natural de ser brasileiro, mas vir musicalmente falando do Pop Rock, que é um gênero de origem anglo-saxão. Então, ao longo da minha carreira, venho misturando parcerias como Milton Nascimento, ter a honra de cantar com Caetano e o Roberto, poder gravar com o Toquinho. Mas, ao mesmo tempo as coisas que acontecem no rock e no pop, na música eletrônica, me interessam muito”.
AS TURNÊS
Atualmente, o cantor segue em duas turnês. Com ‘Sex On The Beach’, Paulo Ricardo traz para os palcos uma nova fase em sua carreira e em sua vida. Canções como “Anjo e Serpente”, “Ela Chegou” (já nas rádios de todo o Brasil) se misturam a rocks modernos como “Novo Single”, “Raios-X” e a dançante “Juntos”, produzida pelo DJ FTampa. Os grandes sucessos de sua carreira solo também estão presentes, como “Dois”, “Tudo por Nada” e sua versão (a única autorizada por Yoko Ono) de “Imagine”. Vários covers e homenagens também fazem parte deste grande show como “Pro Dia Nascer Feliz” de Cazuza e Frejat e “Tempo Perdido” de Renato Russo do Legião Urbana. Paulo ainda se permite incluir alguns dos grandes sucessos de sua antiga banda, o RPM, como “Rádio Pirata”, “A Cruz e a Espada”, “London London”, “Naja”, “Olhar 43” e muitos outros grandes sucessos. Tudo isso embalado por ousados telões, lasers, infláveis e toda a tecnologia que se tornou uma de suas marcas nesses mais de 30 anos de carreira.
Divisor de águas do show business brasileiro dos anos 80, o espetáculo ‘Rádio Pirata Ao Vivo’ ganhou reedição. Há tempos os fãs de todas as idades pediam que Paulo Ricardo voltasse a apresentar o repertório do show histórico de 1985, lançado posteriormente em um álbum ganhando os palcos em uma superprodução.
“Sei também que o tempo todo as pessoas têm essa ligação com aquela cena muito forte do rock brasileiro dos anos 80 e eu estou caminhando agora como um típico workaholic, com duas turnês ao mesmo tempo. A turnê ‘Sex On The Beach’, o show que a gente vai apresentar hoje (quinta-feira) traz um pouco de tudo que eu já fiz, inclusive a fase do chamado pop romântico e tal. E a gente estreou 7 de setembro no Rio de Janeiro, os 35 anos da turnê ‘Rádio Pirata ao Vivo’, que é uma homenagem não só àquele espetáculo, período, repertório dos dois primeiros discos Revoluções por Minuto e o disco que foi consequência da turnê, o mais vendido da indústria fonográfica; mas também uma homenagem ao trabalho primoroso que o Ney Matogrosso fez como diretor, introduzindo elementos totalmente revolucionários na época, como raio laser, muito bom gosto”, recorda Paulo Ricardo.
O momento é um misto de nostalgia e novidade. Para aqueles que viveram a época, uma verdadeira viagem no tempo; para a nova geração a oportunidade experimentar o auge do rock. “Aí a gente mexe com aquela emoção, aquela saudade, é muito interessante rever pessoas que visivelmente estiveram lá em alguns dos 250 shows dessa turnê que estreou em setembro de 85 e terminou em dezembro de 86. Mas, também filhos e até netos, enfim, um momento marcante do rock nacional que merece ser lembrado. Esse é o momento em que enquanto eu trabalho para as próximas coisas que vão acontecendo em termos de gravações e tudo mais, na estrada a gente está muito feliz com esses dois espetáculos”.
NOVIDADES
Paulo Ricardo segue falando das novidades que está preparando. “‘Sex On The Beach’ inclusive já tem DVD gravado com participações especiais do Zeeba do ‘Hear me Now’, que fez esse grande sucesso com o Alok, que por acaso é filho do meu médico, já conhecia o Zeeba desde garoto; o Milton Guedes também, um grande artista, músico, tocou mais de 30 anos com o Lulu Santos. Esse trabalho está pronto, é uma parceria com o Canal Brasil. E em novembro vamos para o Japão participar de um evento, são duas datas em duas cidades, com outros artistas do pop rock, gente muito talentosa e grandes amigos com quem eu já trabalhei: Flávio Venturini, Kiko Zambianchi, Thêdy Corrêa do Nenhum de Nós e minha querida Sandra de Sá. Então, muita coisa bacana acontecendo”.
Mas, o músico disse que está “particularmente empolgado”, com sua participação no Rock in Rio. “Eu gravo com o Altas Horas na terça-feira, dia 1º, que vai ser exibido dia 5 no sábado; e na quinta-feira, dia 3 de outubro eu vou participar do Rock in Rio no palco de música eletrônica ‘New Dance Order’ como convidado do Beowülf, que é um carioca, um jovem DJ, que está fazendo maior sucesso na cena e nós já fizemos uma coisa juntos. Ainda não vou dizer qual, mas, vamos lançar duas músicas naquela tarde, o show vai ser às 17h. a música eletrônica tem uma outra dinâmica, não é a mesma coisa do rock, também é bom que a gente não disputa com o Palco Mundo. Estou muito empolgado com isso porque é uma galera jovem, tem muita gente que vai estar lá que nem sabe direito quem eu sou”.
“A música eletrônica é hoje o que foi o rock”
Paulo Ricardo ainda fez um paralelo entre a música eletrônica e o rock. “Ao mesmo tempo acho que a gente começa a nossa carreira profissional no momento em que a música eletrônica, justamente, começa a se popularizar, são os primeiros embriões dos sintetizadores, baterias eletrônicas e eu me sinto muito à vontade com a música eletrônica, que de lá para cá, nesses mais de 30 anos evoluiu barbaramente e hoje rivaliza com festivais de rock, como o próprio ‘Rock in Rio’, ou seja, festivais próprios como ‘Tomorrowland’ e ‘Ultra’”.
O cantor também comentou sobre o impacto dos seus novos trabalhos, para aqueles que ainda estão mais apegados ao bom e velho Rock and Roll. “Ainda há um certo, digamos, ciúme. Se eu chego com uma música que tem uma cara um pouco mais, um pop eletrônico moderno, como minhas duas últimas canções ‘Ela chegou’ e a regravação de ‘Pro Dia Nascer Feliz’, meus últimos clipes que estão lá no Youtube, as rádios rock ainda ficam: ‘É, mas tá muito eletrônico, não sei o que’. Acho isso uma bobagem. Essa música nova que a gente tá fazendo é bastante eletrônica, mas ela também tem guitarras, me parece e soa bastante Rock’n Roll assim, no sentido da pegada. E de certa forma acho que em muitos aspectos a música eletrônica é hoje o que foi o rock, no sentido da ousadia, da novidade”.
Por outro lado, o músico reconhece que com mais de 30 anos de carreira não dá para se considerar novidade. “Você pode ser considerado um clássico, um veterano, é muito bacana você ver essa passagem do público. Mas, continuo muito interessado pelo novo e por fazer coisas que eu ainda não fiz, pela pegada. Acho que é um fenômeno mundial; o Hip Hop muito presente nos Estados Unidos, artistas como Drake que vai encerrar a primeira noite do Rock in Rio, é o número 1 do mundo; todas as grandes vozes são produzidas praticamente por DJs ou pelo Jay-Z. Então, é inegável que de uns 10 ou 15 anos pra cá o topo das paradas tá tomado pela cultura do Hip Hop que não faz parte ainda da nossa música de uma maneira fluente”.
Ele ainda considerou que atualmente há um natural “declínio do rock” no mundo inteiro. “Os últimos, sei lá, três discos do U2 não foram bem, o último sucesso deles está quase fazendo aí uns bons 20 anos; a última banda que realmente fez algum grande barulho foi Coldplay, que já não é tão rock. Temos aí o Foo Fighters que já é um apêndice do Nirvana. Então, acho que temos que lidar com naturalidade com esse processo natural das coisas. O rock teve o seu apogeu nos anos 70 e 80 e agora ele vai graciosamente sentando do lado do Jazz e do Blues, da MPB, como um gênero que vai continuar tendo seus seguidores, mas não é mais, como a gente fala, a bola da vez”.
Por fim, Paulo Ricardo enfatizou que continua interessando pelo novo, demonstrando que a ousadia de se reinventar é a tônica para sua carreira de sucesso. “Me sinto muito à vontade trabalhando com essa garotada nos três últimos singles, shows produzidos por gente com menos de 30 anos. Então, uma ou outra coisa já está incorporada aos shows e eu estou, particularmente, nervoso e curioso para ver o que vai acontecer nesse Rock in Rio”.