“Adoção não é caridade, adoção é amor”

Em referência ao Dia Nacional da Adoção, DIÁRIO entrevistou a assistente jurídico Morena Maria Ribeiro Gomes Pena

 

CARATINGA – O Dia Nacional da Adoção é celebrado anualmente em 25 de maio. Esta data visa promover debates sobre um dos princípios mais importantes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): o direito da convivência familiar e comunitária com dignidade.

Para a assistente jurídico Morena Maria Ribeiro Gomes Pena, 38, a adoção foi literalmente uma escolha de amor, já que antes de ser mãe adotiva, ela foi mãe biológica.

Em entrevista ao DIÁRIO DE CARATINGA, Morena fala sobre a importância da adoção e destaca que “adoção não é caridade, adoção é amor”.

Morena é casada com o bancário Alfredo de Souza Pena, 37, e mãe biológica de uma menina de 11 anos, e adotiva de um menino de oito anos, que terá sua identidade preservada.

 

Quando decidiu que queria adotar uma criança?

Adoção sempre foi muito presente em minha vida, tenho irmãos adotivos, tenho tios, tenho primos, e quando casei tinha um desejo, que era ser mãe. Eu sabia desde quando era adolescente que queria ser mãe biológica e mãe adotiva, apesar de não gostar muito desse termo, acho que sou mãe. Quando casei dividi isso com meu marido, quando estava grávida da minha filha, e falei que tinha sonho de adotar. Ele também tinha vontade e logo que minha filha fez três anos a gente entrou na fila de adoção.

 

Você e seu marido tinham escolhido um perfil para adoção?

 

A princípio a gente tinha um perfil, e a gente sempre fica ansioso quando o processo está todo pronto. Quando a gente foi habilitado, que a gente estava apto a adotar, a gente ficou um tempo na fila, e minha filha foi crescendo, e falei para o meu marido para alterar o perfil. Nosso primeiro perfil era de zero a três anos, depois a gente alterou para de zero a cinco, e depois foi de zero a cinco e onze meses.

 

Quanto tempo ficaram na fila?

Nós ficamos na fila cinco anos para o nosso telefone tocar a primeira vez. Tocou a primeira vez e não deu certo, por vários fatores. Mas no dia que não deu certo, a assistente social do fórum me falou que meu telefone não demoraria a tocar de novo, pois eu estava em tal lugar no cadastro regional. Existem dois tipos de cadastro, o regional e o nacional. O nosso era o regional, porque era Minas, porque se você habilitar nacional tem que estar disposto a ir em qualquer lugar do país quando te ligarem. Então como Minas é muito grande, optamos por regional. Não passaram 30 dias do primeiro telefonema, nosso telefone tocou. Hoje entendo nossos cinco anos de fila, porque nosso filho veio com cinco anos, tenho certeza que era Deus preparando tudo pra gente. Não tivemos problema algum com adaptação, não tivemos problemas com nada, tudo aconteceu do jeito que tinha que acontecer.

 

Em sua opinião, o processo é demorado?

Eu tinha tanta certeza que queria ser mãe, meu pai teve cinco filhos, cresci com casa cheia, então queria isso pra mim também, pois sei o quanto é bom ter irmãos. Durante o processo a gente fica ansioso para ver a coisa acontecer, mas hoje com a coisa realizada, entendo o porquê disso. Ele é demorado em razão do perfil que as pessoas escolhem. Quando a gente vai se habilitar, a gente precisa colocar o perfil da criança que a gente quer receber, então lá tem várias características, com doença tratável ou não tratável, questão racial, menino ou menina, idade, tem que definir o que seu coração está preparado. Tem gente que tem o sonho de ter um bebezinho, e esse na verdade era o meu sonho e não era o meu sonho, porque já tinha passado por isso tudo, tinha uma certeza que não queria engravidar de novo. Fiquei grávida, minha filha nasceu com saúde, não tive problema, mas tinha a certeza que queria adoção. O que faz demorar na fila justamente é a questão do perfil. Sigo mães na internet que o perfil delas era grupo de irmãos, crianças com 10, 11,12 anos, que ficaram uma semana na fila e tudo aconteceu. Meu perfil era criança de zero a cinco anos e nove meses, eu não queria grupo de irmãos, porque achava que não daria conta, mas hoje vejo que daria conta, tanto é que continuo na fila. Isso fez o processo demorar.

 

O processo de adaptação foi difícil?

 

O dia que nosso telefone tocou e a assistente social falou que era uma criança que tinha cinco anos, foram muitos dias de oração, dias de ansiedade, porque eles precisam de tempo para preparar a criança, e é o tempo que a gente tem para preparar. Foi o tempo que a gente fez nosso enxoval, tempo que a gente mandou fazer o guarda-roupa no quarto, que a gente trocou a cama, e por aí vai.

 

E como foi o encontro de vocês?

 

A gente foi até a cidade e a gente foi preparado para ficar alguns dias porque podia haver rejeição da criança e outras coisas. Mas foi tudo tão lindo, tão mágico, que quando a gente chegou ao fórum, nós chegamos antes dele, levamos os meninos porque foi orientação da psicóloga (minha filha e meu irmão), e quando ele chegou, meu marido abaixou para abraçar ele, ele olhou nos olhos do meu marido e falou assim: você vai ser o meu papai?

Então a gente não teve problema alguma de adaptação, já saímos de lá chamados de papai e mamãe, que é o que ele fala até hoje. E quando voltamos pra casa, estava no início da pandemia, ele começou a estudar e passou uns dias e aulas pararam, tivemos tempo de ficar em casa. Meu marido que não parava, parou dez dias no início da pandemia,  então para ele foi excelente.

 

Por que no caso de crianças mais novas o processo é mais demorado?

 

Em função da destituição, costuma demorar. Porque tem que ser feito todo um estudo social, para ter certeza que a criança não ficará naquele núcleo. Não tenho conhecimento a fundo disso, mas sei que existe um estudo com a família para tentar reintegração da criança, tudo antes de tirar a criança da família, é tudo feito com muita segurança, porque a adoção sempre visa o bem da criança. Estamos falando de uma vida, tem que evitar a devolução de crianças, hoje existe todo um estudo. Entendo as famílias que querem passar pelo bebezinho, mas precisam estar dispostas a esperarem.

 

Qual o conselho que deixa para quem pensa em adotar?

 

Que entre na fila; e para os que estão, que se prepararem. O preparo é muito importante, converse com toda família, que estejam preparados para receberem as crianças, porque o que elas querem é amor. Adoção não é caridade, é amor. Hoje o bem que meu filho me faz é muito maior que o que faço por ele.