Esta semana o meu olhar vai para um homem que vendeu a vida por US$10.000,00. Quem tem o direito de condenar um seu semelhante à morte?
Marco Archer Cardoso Moreira, instrutor de voo, tentou entrar no aeroporto de Jacarta com 13,5 kg de cocaína, que ele confessou trazer do Peru e pelo transporte ganharia dez mil dólares. Realmente nada a contestar do crime de tráfico, mas condenar um ser humano a morte? Que Estado de Direito pode pensar ter o poder divino de tirar uma vida humana?
54 países ainda mantém a pena de morte, quase todos africanos e asiáticos, e em fase de desenvolvimento, exceção feita ao Japão, Coreia Sul e Estados Unidos (em alguns estados). A data da última execução (pena de morte) no Brasil foi em 1876. Pelo menos 778 pessoas foram executadas em 22 países ao longo de 2013, de acordo com o relatório anual sobre pena de morte da Anistia Internacional. O número aumentou em 15% em relação a 2012 em virtude do posicionamento político de Irã, Iraque e Arábia Saudita. No ano passado, pelo menos 1.925 sentenças de pena capital foram proferidas. Responsáveis por 80% das execuções, esses três países do Oriente Médio contrariam a tendência global de abolição da pena de morte, aponta a Anistia Internacional. Contudo, esses números não incluem as pessoas executadas na China, país onde não há estimativas confiáveis que possam ser utilizadas pelo fato de os dados serem considerados segredo de Estado. Segundo o relatório, logo após esses países, estão os Estados Unidos – único das Américas a realizar execuções – com 39 mortes registradas.
Voltando a execução de Marcos Moreira, o que não consigo entender é que a pena de morte na Indonésia tem o total apoio da população. Com Marcos foram executadas outras cinco pessoas: Daniel Enemuo (da Nigéria), Namona Demisa (de Maláui), Ang Kiem Soel (da Holanda), Tran Tri Bich Hanh (do Vietnã) e Rani Andriani (da própria Indonésia). O governo Brasileiro tentou junto às instâncias da Indonésia, o Vaticano também apelou, mas os senhores absolutos da verdade executaram da mesma forma, dando forma a tolerância zero. Estes mesmos indonésios que apelam a este poder divino, em 1975 invadiram Timor (antiga colônia portuguesa) e mantiveram uma ocupação bárbara até 2002, matando milhares de timorenses. Esta ocupação sem motivo aparente, a não ser o da diferença de religião, sendo Timor católico e a Indonésia o maior país mulçumano.
O que me deixou algo perplexo foi a falta de vozes a gritarem a indignação no Brasil, a tentarem nos meios sociais demonstrar o desacordo com esta lei de execução Indonésia. Eu sei que cada país tem as suas leis e que as devemos respeitar, mas ao homem o que é do homem, a Deus o que é de Deus.
Estas vozes tem que se levantar porque se nada acontecer outro brasileiro será executado, o paranaense Rodrigo Muxfeldt Gularte também está sentenciado à morte pela Justiça da Indonésia por tráfico de cocaína. A execução está prevista para o próximo mês.
Temos que gritar a nossa indignação!!!
E como escreveu Vinícius de Moraes em 1954.
A MORTE
A morte vem de longe
Do fundo dos céus
Vem para os meus olhos
Virá para os teus
Desce das estrelas
Das brancas estrelas
As loucas estrelas
Trânsfugas de Deus
Chega impressentida
Nunca inesperada
Ela que é na vida
A grande esperada!
A desesperada
Do amor fratricida
Dos homens, ai! dos homens
Que matam a morte
Por medo da vida.