*Eugênio Maria Gomes
Esta semana, como sempre acontece quando uma boa alma deixa o nosso convívio e retorna para a sua morada de origem, mais uma vez me pus a questionar o porquê das pessoas boas morrerem. Pessoas boas não deveriam viver eternamente? Não deveriam morrer, apenas, as pessoas más? Se há no planeta, infelizmente, tanta gente de má índole, capaz de causar mal ao seu semelhante, de cometer, descaradamente e sem culpa, as maiores atrocidades, não deveriam ser eles os primeiros da fila de embarque para o outro mundo?
São muitas perguntas, muitas dúvidas, muitas respostas evasivas e poucas certezas. Dentre elas a de que, quando morre uma pessoa boa, o bem fica, de alguma forma, enfraquecido.
Nos últimos dias, certamente o “bem” e Caratinga perderam uma baluarte do trabalho social e dos bons costumes com a morte da D. Maria Coutinho. Com sua partida, na última segunda-feira, todos nós perdemos um pouco. Seus amigos mais próximos e, principalmente, os seus familiares, certamente, perderam mais. Mas, quem perdeu muito, muito mais, foi a responsabilidade social, a solidariedade e a caridade. A dama gentil, educada, paciente e espiritualizada praticava o bem como se estivesse trocando de roupa ou bebendo um gole de água. Ajudar o outro, doar-se em ações sociais e reconhecer o Cristo – aquele Cristo transfigurado na pessoa do faminto, do miserável e do sofredor – na pessoa do outro, parece que fazia parte de sua rotina, como se fosse um hábito, um modo de vida, tão necessário e importante para ela como a sua própria respiração.
Há poucos meses, tive a oportunidade de receber a ilustre senhora em meu local de trabalho, quando lá se dirigiu para pegar 100 (cem) exemplares do sétimo volume da obra “Radiografias do Cotidiano”, cuja renda foi destinada ao início da construção do Centro Pastoral São João Batista. O livro contou com um texto, escrito pelo acadêmico Humberto Luiz Salustiano Costa, homenageando o Centro Espírita Dias da Cruz – instituição que presta relevantes serviços sociais à comunidade – dirigido por D. Maria Coutinho. Ela estava feliz, embora sofrendo a pior de todas as dores que uma mãe pode sentir, qual seja a da perda de um filho. D. Maria passou por este difícil momento em sua vida com dignidade e resignação e, a dor, não limitou em nada a sua vontade de ajudar. Ela vendeu os exemplares adquiridos, transferindo a renda à Catedral.
Na medida em que vou escrevendo este texto, relembrando passagens de pessoas boas e queridas, a exemplo dos meus pais, da minha esposa e alguns amigos, a principal divagação, que deu origem ao seu título, vai se dissipando a cada palavra digitada. Não, as pessoas boas não morrem. Elas permanecem através de seus exemplos, de suas obras. Deixam rastros de luz, capazes de iluminar caminhos e vidas por um tempo infinito e são lembradas como se tivessem, apenas, feito uma breve viagem e pudessem voltar a qualquer momento. Como acontece comigo, com você leitor, com todos os que perderam pessoas, que, de tão boas, fazem com que a lembrança doa, permanentemente, como se a perda fosse recente.
Ainda não é dado a nós, os homens, compreender, em sua plenitude os desígnios de Deus, as incertezas próprias do acaso, enfim, os mistérios da existência. De toda a sorte, porém, qualquer que seja, nenhuma explicação será suficiente para atenuar a profunda dor que sentimos na alma, ao perdermos alguém que nos é especial. Nenhuma, senão o Tempo, o Tempo que tudo resolve, que tudo apazigua, que tudo acalma…
“Um vazio, uma falta… É algo apertando dentro da gente. Mesmo na saudade, pessoas especiais nunca são ausentes. Quando se ama de verdade, ficam no coração, eternamente…”
*Eugênio Maria Gomes é professor e escritor. Membro das Academias de Letras de Caratinga, Teófilo Otoni e do Núcleo de Escritores e Artistas de Buenos Aires, Secretário de Educação e Cultura do Grande Oriente do Brasil – MG.