Em busca de novas parcerias, o objetivo é inserir mais recuperandos no mercado de trabalho
CARATINGA- O programa Próximos Passos, projeto de apoio a recuperandos da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) de Caratinga é promovido desde o ano passado pelo Sebrae Minas. O objetivo é capacitar os internos, envolver a comunidade local, sensibilizar os empresários para a reinserção dos recuperandos na sociedade e no mercado de trabalho e melhorar a gestão da entidade, a fim de torná-la autossustentável.
Dentre as ações estão diagnósticos empresariais nas unidades produtivas, com proposta de plano de ação para o desenvolvimento de cada uma delas; implantação do programa Educação Empreendedora, para os professores da escola da APAC; e aproximação da instituição da comunidade local, das entidades e do poder público, criando, assim, um ambiente favorável aos recuperandos que regressam à sociedade.
Como parte deste programa, após a APAC de Caratinga ter participado da Feira de Negócios Agropecuários do Sicoob Credcooper (Fenasc), em espaço cedido pela cooperativa; na manhã de ontem foi um realizado um Café Empresarial na sede da Associação. Vários empresários atenderam ao convite e foram conhecer o trabalho desenvolvido.
De acordo com Adriana Luppis, diretora da APAC, esta é a primeira edição do evento, com a intenção de buscar novas parcerias. “Para mostrar para a sociedade de Caratinga, nossos empresários a importância da parceria deles dentro da ressocialização do recuperando. Essa ideia surgiu em uma parceria com o Sebrae e alguns comerciantes de Caratinga, para que os empresários possam conhecer o trabalho, nossos recuperandos saem daqui já com cursos profissionalizantes, ensino médio completo, já com formação e adequação para se inserir no mercado de trabalho”.
Adriana afirma que os recuperandos saem qualificados, prontos para o mercado de trabalho. Ela afirma que são muitos os casos de sucesso na APAC de Caratinga. “Hoje temos aqui um índice grande de recuperandos que estão inseridos no mercado de trabalho em Caratinga, em padarias, restaurantes, lojas de produção, muitos deles contratados como pedreiros. Podemos afirmar que esses recuperandos tem a possibilidade de retornar para a sociedade, eles precisam de uma oportunidade. Muitos deles saem daqui e pela discriminação não têm essa nova oportunidade, nosso objetivo é que eles tenham. Acredito que as pessoas que estão aqui é porque acreditam que todo ser humano, por mais que erre, tem uma nova chance de vida”.
Como parte da programação foi realizada a palestra ‘Inovação no atendimento ao cliente – como gerar experiências que marcam?’, que será ministrada por André Gonçalves, proprietário de uma loja de roupas de Ipatinga. “É muito interessante frisar essa importância de tratar as pessoas bem. Tenho pra mim que as pessoas hoje não compram produto, mas relacionamento. E estar aqui hoje na APAC falando para empresários, pessoas que com certeza podem dar oportunidade para esses recuperandos, acho que é muito importante ter essa conscientização. Com certeza eles cometeram erros, mas nós como pessoas do bem podemos dar oportunidade, nós vimos vários depoimentos de profissionais aqui, de muitas áreas que muitas vezes o mercado está até carente”, frisou o palestrante.
Como empresário, André disse ter se surpreendido com o método APAC. “Estou aqui com muita satisfação de conhecer, não conhecia esse projeto, mas vendo a apresentação inicial me tornei fã e estou me colocando à disposição para ajudarmos. Com certeza queria até ter a oportunidade de ter uma pessoa dessa na minha empresa”.
EMPRESÁRIOS
Leonardo Sathler, presidente da Associação Comercial e Industrial de Caratinga (ACIC), destaca que a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados tem um papel fundamental na sociedade. “Temos percebido dentro da própria comunidade que realmente o trabalho que a APAC faz não só em Caratinga, mas em todo o Brasil tem um resultado muito superior ao de uma pena restritiva dentro de um presídio. O índice de recuperação das pessoas aqui chega em torno de 75%, ao passo que o índice de recuperação do presídio chega em torno de 15% a 25%. É um trabalho feito com muita excelência”.
Ele destaca que os empresários acreditam e apoiam a APAC de Caratinga. “Esse trabalho que está sendo feito agora visa justamente a capacitar essas pessoas dentro de um sistema rígido, mas que faz com que essas pessoas que tiveram esses delitos cometidos possam se reintegrar dentro da sociedade. Nós como empresários temos que conhecer o trabalho que é feito aqui, para que possamos validar e quando esse recuperando finalizar sua pena, ter a oportunidade das empresas abrirem suas portas, para que sejam recebidos normalmente no mercado de trabalho. Vemos com excelentes olhos, por si só os números já validam isso”.
MÃO DE OBRA QUALIFICADA
Consuelo Silveira Neto, juiz da 1ª Vara Criminal e de Execuções Penais, ressaltou que a APAC é reconhecida nacionalmente pela forma que aplica e desenvolve o método, que envolve 12 princípios básicos. “Pela maneira que trabalham a recuperação daqueles que um dia cometeram um erro na vida, foram condenados, estão em cumprimento de pena e que com essa metodologia possam retornar ao convívio social recuperados, longe da criminalidade. O método APAC tem êxito porque o índice de reincidência é significativamente menor para aqueles que passam aqui, se comparando com o sistema tradicional. E também o custo do recuperando para o estado é um terço do custo do preso que se encontra cumprindo pena no sistema tradicional. Não tem a pretensão de substituir por completo o método tradicional, mas se apresenta como uma alternativa, uma forma de trabalhar aquele que verdadeiramente quer mudar de vida, quer ser reinserido em sociedade”.
A unidade possui diversas atividades voltadas para a capacitação dos recuperandos, como marcenaria, padaria, fábricas de pizzas, pré-moldados, vassouras e uniformes, além de ateliê de artesanato, escola, biblioteca e consultório odontológico. Várias formas de prepará-los para o mercado de trabalho, conforme cita Consuelo. “A APAC de Caratinga conta com uma escola regular, através da Superintendência Regional de Ensino, a Landinha, que acolheu nosso pedido e hoje é o segundo endereço da escola do distrito de Santa Luzia, aqui mais de 100 homens estão em sala de aula e também trabalhando. Quem estuda de manhã, trabalha à tarde e quem trabalha de manhã, estuda à tarde”.
Com mão de obra qualificada, o objetivo é chamar o empresariado a se unir nesta meta de ressocialização. “É muito importante, agradecemos aos empresários que estão conosco nessa manhã, sabemos que o Brasil vive um momento de crise, em que o crescimento econômico está estagnado e nós convidamos os empresários através de parceria com o Sebrae, para um café, para que a APAC se apresente como parceira desse processo. Temos aqui recuperandos qualificados, que receberam cursos profissionalizantes, estão aptos ao mercado de trabalho e se firmada alguma parceria, o empresário ganhará pela qualidade do trabalho, da mão de obra e, por outro lado, também o cunho social, porque o empresário estará trabalhando na recuperação, ressocialização, retorno à sociedade daquele que quer dar continuidade a sua vida e obrigações familiares”.
A APAC de Caratinga tem capacidade para 150 recuperandos, sendo 55 em regime fechado, 27 em regime semiaberto e 32 em regime semiaberto com trabalho. Os números representam uma trajetória construída com dedicação e apoio. “A APAC é uma construção, não é um sistema imposto dentro de uma comunidade; para nascer e se desenvolver depende do apoio da comunidade. Aqui em Caratinga temos esse apoio, a maioria ou até a totalidade apoia e reconhece o seu valor. Quando iniciamos o trabalho aqui em Caratinga eram 80 vagas, hoje são 150 vagas. Tudo isso fruto desse reconhecimento e apoio da comunidade”, finaliza o juiz Consuelo.