Ildecir A.Lessa
Advogado
Esse artigo, escrevo num contexto, de uma afirmação, já antiga e com muita convicção do meu colega advogado, Dr. Aladim, que sempre diz: “O homem veio evoluindo, até passar para uma esfera superior ” . Essa afirmação provoca fazer uma garimpagem na história, buscando uma informação de que o homem apareceu tão recentemente, que a maioria das técnicas para determinar as épocas geológicas, não são suficientemente exatas para fornecer as respostas. Logo, quem quer que escreva sobre a origem do homem deve usar literalmente dos “provavelmente” e dos “talvez”. Há na documentação grandes lacunas, algumas das quais talvez nunca serão preenchidas.
O certo é que, nos últimos cento e cinquenta anos, assistimos ao desenvolvimento de extensa literatura sobre o homem e à formulação de numerosas teorias a respeito do status relativo a este mesmo homem – literatura e teoria que em parte devem levar à conta do interesse cada vez maior de todos os ramos científicos. O certo é que, o homem, não se aquieta no constituído e nem nos próprios limites. É como anota, Hegel; “O conteúdo concreto da certeza sensível faz aparecer imediatamente essa certeza como o mais rico conhecimento, e até como um conhecimento de riqueza infinda, para o qual é impossível achar limite”. Esse homem se coloca como um projeto num processo de crescimento que se dá de dentro para fora, ao mesmo tempo em que os condicionamentos culturais e sociais do espaço e do tempo constituem para ele uma camisa de força para que seja moldado de acordo com os padrões existentes. É da observação de Erich Fromm que “O homem era – e ainda é – facilmente seduzido para aceitar determinada forma de ser humano como sendo a sua essência. Mas a essência do ser humano não se define pela sociedade com a qual se identifica. Os grandes homens e mulheres foram aqueles que visualizaram algo que é universalmente humano”.
Remota a sociedade grega da era clássica, em que se buscava uma auto-compreensão fundamentada na razão, o homem passou a ser entendido como Homo sapiens, ou seja, aquele que ultrapassa o nível do senso comum, das opiniões enganadoras, para chegar ao conhecimento das coisas como elas realmente são. O homem moderno, no afã de fazer coisas, de se apropriar delas e de acumulá-las, chegou a definir a sua essência pela sua atividade industriosa, transformando-se no Homo faber. Mas, considerando-se que a sociedade industrial dos dois últimos séculos, que estabeleceu a globalização como meio eficaz para estabelecer o mercado de consumo, criou como mecanismo de controle da mão-de-obra um exército imenso de desempregados ou de pessoas que não se situam na esfera do mercado, a essência do ser humano não pode ser o que ele faz, nem mesmo no âmbito da sociedade industrial.
As sociedades antigas e medievais formavam uma totalidade em que os indivíduos, integrados nos sistemas sociais existentes, nem sequer se percebiam como tais, uma vez que a consciência que se podia ter era a de uma existência associada à grande família, à religião, às normas estabelecidas e que muitas vezes eram vistas como de ordem natural ou divina. A sociedade contemporânea é uma sociedade onde as ideologias buscaram camuflar a verdadeira essência do ser humano. Pontua Hannah Arendt, “… o pensamento ideológico emancipa-se da realidade que percebemos com os nossos cinco sentidos e insiste numa realidade ‘mais verdadeira’ que se esconde por trás de todas as coisas perceptíveis, que as domina a partir desse esconderijo e exige um sexto sentido para que possamos percebê-la”. É a doutrinação ideológica presente nas instituições educacionais e particularmente nos meios de comunicação de massa, em que se faz de tudo para “libertar o pensamento da experiência e da realidade” procurando sempre injetar um “significado secreto” em cada evento público e farejar “intenções secretas” atrás de cada ato político, de tal forma a fazer acreditar que aquilo que se diz da realidade seja o que realmente é. Mas também podem despertar a sua consciência adormecida e encontrarem na esperança, que é um dos elementos essenciais da humanização de nosso ser, a força para viver e construir um mundo novo, sabendo que, para essa construção terá de enfrentar a realidade presente que é o seu ponto de partida.
O amadurecimento do ser humano consiste na descoberta e na vivência de sua verdadeira essência que está na integração de suas dimensões física em que se situam os cinco sentidos; intelectiva, pela qual se chega à compreensão do âmago das coisas; espiritual, que nos abre para o transcendente e nos possibilita acolher as imperfeições e limitações de nossa vida para remetê-las à totalidade; e social, que nos coloca, desde o nascimento, em relações com os demais seres humanos, dando-nos a consciência de que não podemos viver isolados e de que a nossa sobrevivência depende, e muito, dessas relações com os nossos sócios. Na maioria das vezes essa relação que se dá na vida em sociedade é conflitiva. Mas é nas situações de conflito que nos colocamos diante dos limites de nossa humanidade para poder superá-los e assim chegarmos ao amadurecimento individual e social. O homem sim , na linha do tempo teve sua evolução, dentro de um contexto social, da vida em sociedade, nesse ponto está correta a afirmação do meu colega advogado, mas “passar para uma esfera superior” exige uma imaginação extraordinária !