A SOLIDÃO DO “EU” FRENTE AO HOMEM CONTEMPORÂNEO: VOCÁBULOS ASSASSINADOS

 * Simone Aparecida de Sousa Capperucci

“E um dia o pequeno príncipe sentiu solidão em seu planeta, despediu-se da rosa e foi à procura de novos amigos”. Essa paráfrase tem o objetivo de nos fazer analisar como o ser humano necessita de outros seres humanos para ser feliz, sentir-se completo, entretanto, na atualidade, cada vez mais, as pessoas têm se isolado dentro de seus mundos, esquecendo-se da máxima humana de que ninguém é feliz sozinho.

Importa salientar que essa relação não significa a obrigatoriedade de ter um relacionamento amoroso, no sentido sexual da palavra, mas de relacionar-se com alguém de sua espécie, entrelaçando-se na cumplicidade de humano para humano. O resultado desse isolamento são as crises existenciais constantes com as quais nos deparamos, quando paramos e damos um pouco de atenção ao outro: sofrimentos, angústias, depressões profundas que não são amenizadas pelos ambientes virtuais, pelos milhares de seguidores do instagram ou milhões de amigos do facebook, mas só podem ser curadas nas relações de humanos para humanos.

Um dos livros mais envolventes e profundos que li, é um intitulado ‘Olhai os lírios de campo “de Érico Veríssimo, talvez seja o grande livro a ser lido nessa atualidade, pois mostra como os bens materiais não preenchem o vazio existencial humano, pois a triplicidade do homem (corpo, alma, espírito) o faz sentir necessidade de muito mais. Sair, cada um de seu próprio mundo, e ser parte dessa irmandade de seres humanos é o grande desafio da humanidade atual. Sair um pouco das redes sociais virtuais e integrarem-se no mundo real, nas verdadeiras relações sociais.

Nesse contexto, vocábulos que foram deixados de lado precisam ser resgatados. Acompanhado de um sorriso, precisamos aprender a olhar nos olhos das pessoas e dizer um sincero “tudo bem?” Não apenas no sentido educado do cumprimento, mas na preocupação sincera com o bem-estar do outro; precisamos dizer “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, no desejo profundo de que as pessoas tenham, verdadeiramente, momentos bons e felizes; em síntese, nosso desafio é sair de nosso mundo, do egocentrismo exacerbado que nos consome e nos colocarmos numa relação com o outro.

Esse desprendimento individual e comprometimento com o outro será capaz de fazer com que uma rede de relações humanas humanizadas seja construída e vocábulos normalmente descartados na atualidade, tais como: solidariedade, altruísmo, longanimidade retomem seus importantes significados no meio interacional. O senso de pertencimento de uma espécie, ao mesmo tempo em que a consciência de não sermos, na individualidade, o centro da mesma nos possibilitará sermos mais sadios, com relações saudáveis que façam de nós parte de um meio de seres que são eternamente responsáveis por todos os que cativaram, como disse a raposa: “amar é criar laços” e é o tempo que gastamos com as relações interpessoais que as fazem tão importantes.

Assim, a soluço para a solidão encontra-se não em mim, mas no outro. O cerne da minha felicidade é o bem-estar coletivo, não a lei do cada um por si, mas a lei do todos por todos. Esse princípio da alteridade é apregoado desde sempre como a base de pessoas e relações saudáveis.

Apesar de sabermos que a língua é um organismo vivo, dinâmico, e que as palavras, tais como todas as demais coisas vivas, nascem, desenvolvem-se e morrem, alguns vocábulos não estão tendo a oportunidade de viverem, estão sendo assassinados e levando com eles muitas oportunidades de um aprimoramento humano. Vocábulos assassinados. Bom dia, tudo bem, saudades de você, bom ver você novamente e obrigada por terem compartilhado esse meu pensamento, através desta leitura.

 

* Simone Aparecida de Sousa Capperucci, Formada em Língua Portuguesa e suas literaturas pelo Centro Universitário de Caratinga (UNEC) em 1997, pós –graduada em Língua Portuguesa em 1998 pelo UNEC, especialização em Literatura e Linguística aplicada em 2005. É professora de Língua Portuguesa nas séries finais do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino do Estado de Minas Gerais, desde 1996, mestre em Educação e Linguagem pelo UNEC em 2010. Professora do Centro Universitário de Caratinga nos cursos de Pedagogia, Letras.

 

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