Ginecologista e obstetra especialista em saúde da Mulher do Casu Hospital Irmã Denise, Marina Moura, fala sobre este gesto de amor que é vital para criança
CARATINGA – O mês de agosto é marcado pela campanha Agosto Dourado, que é uma iniciativa que visa a valorização de ações em apoio e estímulo ao ato de amamentar. O tema envolve muitos fatores relacionados a mãe e ao bebê, e merece total atenção das gestantes e das parturientes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a amamentação na primeira hora de vida e ela pode reduzir em até 22% a mortalidade neonatal.
Convidamos Marina Moura, que é ginecologista e obstetra especialista em saúde da Mulher do Casu Hospital Irmã Denise, para conversar sobre o assunto que causa tantas dúvidas e até polêmicas.
Qual a importância da amamentação para a saúde dos bebês?
Para o bebê, o benefício é imensurável: adapta o sistema respiratório à vida extrauterina, protege quanto ao desenvolvimento de alterações como a icterícia, acelera o desenvolvimento da mucosa intestinal e possibilita o desenvolvimento do sistema imunológico. O leite humano é considerado “vivo”, porque sua composição se modifica a cada mamada acompanhando as necessidades fisiológicas do bebê. Na primeira hora, geralmente o leite ainda não tenha “descido”, mas isso de verdade não importa. O contato pele a pele estabelecido entre mãe e filho supera a ausência do líquido tão precioso e é fundamental para estimular sua descida mais rápida e adequada.
E para as mães o ato de amamentar traz algum benefício?
Durante o ato de amamentar o contato pele a pele entre mãe e filho, o toque, o cheiro e o calor desencadeiam uma série de eventos hormonais que estimulam o cérebro a liberar substâncias que favorecem a produção e saída de mais leite. Ao mesmo tempo tais substâncias são capazes de reduzir a ansiedade da mãe, aumentam sua tranquilidade, favorecem sua recuperação física e seu restabelecimento psíquico. Se a amamentação é realizada com carinho, dedicação, o bebê sente conforto e prazer em ser segurado pelos braços da mãe, de ouvir a voz, sentir o cheiro, perceber os embalos e carícias. Esse sentimento de segurança compensa o vazio deixado pela separação repentina que ocorre durante o parto, sendo capaz de corrigir a sensação de abandono e agressão, característica desse momento. A mãe precisa ser orientada a transformar o momento da mamada em um momento especial e único de contato com seu filho.
Quais são as orientações que as mamães que realizam o parto no Casu recebem com relação à primeira mamada e a amamentação em geral?
No pós-parto imediato a mãe encontra-se fragilizada, às vezes cansada, e a equipe de profissionais do Casu está preparada para assisti-la e orientá-la neste momento. A equipe médica assistente deve orientar essa mãe durante o acompanhamento da gestação sobre a importância do preparo das mamas e da vitalidade do leite materno para o bebê. Ainda deve orienta-la sobre o efeito da amamentação na recuperação física e mental da mãe durante o puerpério. A equipe de enfermagem do Casu é preparada para auxiliar a mãe no posicionamento adequado para amamentação, no contato barriga a barriga, na pega adequada (a boca do bebê deve estar aberta, de frente para a mama e abocanhar não só o bico/mamilo, mas toda a aréola). A pega adequada evita dor e fissuras nas mamas da mãe. Orienta também sobre a observação se o bebê mamou o suficiente. A amamentação inicialmente deve obedecer a livre demanda, ou seja, sempre que o bebê quiser o leite materno deve ser oferecido. Em caso de dificuldades no processo de adaptação à amamentação, o Casu oferece suporte com a equipe de fisioterapia, auxiliando as mães na prevenção e tratamento de possíveis lesões ou contratempos causados pela descida do leite e pega inadequada.
O tema da Semana Mundial de Amamentação deste ano é: “Capacite os pais e permita a amamentação, agora e no futuro!” Tem a ver com aprendizado e apoio dos diferentes setores para as famílias que estão amamentando, além de destacar que o aleitamento é um papel dos pais e não só da mãe. Em sua opinião, como os familiares podem auxiliar a mãe neste momento?
Embora seja descrito como um ato natural, o aleitamento materno nem sempre é fácil de ser praticado. Faço sempre questão de conversar com a família sobre isso. Amamentar é difícil, amamentar é cansativo, amamentar requer uma série de cuidados e muita dedicação e persistência. As mães precisam de apoio emocional e de informações corretas para terem sucesso na amamentação. É comum sentirem dores, cansaço excessivo, ficarem angustiadas e extremamente sensíveis. O apoio familiar é determinante nesse processo. O leite materno é um alimento completo. Mas existem pessoas que ainda acreditam em leite fraco, que não sustenta. A interferência de pessoas com esse tipo de pensamento conturba e prejudica o processo de amamentação. O leite materno contém vitaminas, minerais, gorduras, açúcares, proteínas, todos apropriados e cuidadosamente preparados para atender as necessidades do organismo do bebê. Além disso, contém substâncias nutritivas e de defesa, que não se encontram em nenhum outro leite, e, é produzido especialmente para o estômago do bebê, portanto, de mais fácil digestão. É adequado, completo, balanceado, suficiente e preparado exclusivamente para o seu bebê. Sem contar que em termos práticos o leite materno é econômico, encontra-se sempre pronto e na temperatura ideal para o bebê. A disponibilidade de todas essas informações às pessoas que cercam mãe e bebê é determinante para o sucesso durante o processo de amamentação.
Como a amamentação contribui para a construção do vínculo entre mãe e filho?
Amamentar é um ato de amor, de carinho e de doação. Aumenta os laços afetivos, faz o bebê se sentir querido e seguro. A repercussão no desenvolvimento emocional da criança e no relacionamento mãe-filho, apesar de difícil de mensurar, traz benefícios psicológicos para a criança e para a mãe. As crianças que mamam no peito tendem a ser mais tranquilas e fáceis de socializar-se durante a infância. Para a mulher, a amamentação representa a superação do trauma da separação imposta pelo parto e promove reconforto à medida que promove a sensação de continuar gerando vida através do alimento que brota do seu corpo. O aleitamento materno é a “expressão do amor da mãe para com seu filho”. Amamentar é “dar o melhor de si para o bebê”. Essas constatações influenciam positivamente e fortalecem o vínculo entre mãe e filho.
Mas e a mãe que não consegue amamentar?
Gostaria de ressaltar a importância de também tratarmos desse assunto. Deparar-se com esta situação é um tanto frustrante. É comum escutar no consultório: “Não consegui porque sou despreparada. Mas me informei tanto, segui todas as recomendações para que tudo desse certo. O que há de errado comigo? Não sou uma boa mãe? Não vou conseguir estabelecer um vínculo adequado com meu bebê?” E isso se transforma realmente em um problema quando as pessoas que cercam essa mãe a acusam de ser fraca, mole, incapaz de doar-se ao filho. Se de fato a mulher não consegue ou está impossibilitada de amamentar as fórmulas lácteas hoje em dia facilitam parte do problema, são as mais apropriadas para substituir o leite materno na alimentação da criança no primeiro ano de vida, uma vez que possuem composição nutricional adaptada à velocidade de crescimento do bebê. No entanto, as substâncias de defesa que fortalecem a saúde do bebê ainda não foram sintetizadas. São individuais, únicas e impossíveis de serem copiadas. Mas, na alimentação utilizando a mamadeira o contato mãe-filho é prejudicado pela distância imposta pela mamadeira. Sim e não! Depende! Há sim, como a mãe minimizar essa distância doando seu amor e cuidado para o filho, mantendo o olho no olho, pele na pele, de maneira que o bebê se sinta também seguro mesmo não sugando na sua mãe. A mamadeira também pode ser dada com amor.