De acordo com o psicólogo Gabriel Sathler, é essencial dar conhecimento do assunto ao maior número de pessoas possíveis para que possam identificar e iniciar ajuda a quem precisa neste momento tão difícil da vida
CARATINGA – Este mês é marcado pela campanha de conscientização e prevenção ao suicídio, mais conhecida como Setembro Amarelo. Criada em 2015 é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). A proposta envolve a promoção de eventos que proporcionem espaço para debates sobre suicídio, além da divulgação do tema e de alertas sobre a importância de sua ampla discussão.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 32 brasileiros se suicidam diariamente. No mundo, ocorre uma morte a cada 40 segundos. O suicídio já é a segunda maior causa de morte de jovens entre 15 a 24 anos no Brasil. E a pesquisa da OMS aponta ainda, que nove em cada dez dessas mortes poderiam ter sido evitadas. Por isso, a conscientização e informação se tornam fatores tão importantes.
Mas, porque é tão importante falar sobre o suicídio? Quem responde essa pergunta é o psicólogo hospitalar do Casu – Hospital Irmã Denise, Gabriel Sathler, nesta entrevista.
O tema da Campanha Setembro Amarelo é: “Falar é a melhor solução!”. Em sua opinião, qual a importância em falar sobre a temática do suicídio?
Essencial para dar conhecimento do assunto ao maior número de pessoas possíveis para que possam identificar e saber iniciar uma ajuda a quem precisa neste momento tão difícil da vida. É através de conversas, palestras, e espaços como este, que muitas pessoas passam a dar atenção à sinais de familiares ou conhecidos que necessitam de uma orientação para buscar auxílio.
Dados da OMS apontam que o suicídio é a segunda maior causa de morte de jovens entre 15 a 24 anos, perdendo apenas para as mortes causadas por acidentes de carro. Existem motivos para este público estar mais suscetível ao suicídio?
Os jovens, como é do conhecimento de todos, estão cada vez mais cedo criando interesse, tendo acesso e tomando decisões sobre questões que exigem maior maturidade para serem administradas. Além desse acesso precoce, há mais intensidade no envolvimento dessas atividades, muitas vezes sem conhecer seus limites. Problemas com álcool, droga, relacionamentos desestruturados, pressão nos estudos para entrar no mercado de trabalho, uma segunda vida nas redes sociais. O envolvimento nessas atividades de forma precoce, intensa, sem preparo e sem conhecer seus limites, geram frequentes frustrações, que resulta em adoecimento mental.
E pessoas com transtornos mentais e psíquicos estão mais suscetíveis?
Em pessoas que já possuem um transtorno psicológico, apesar de termos os agravantes da própria condição, ao mesmo tempo estão sendo acompanhados por um profissional da área, seja um psiquiatra ou psicólogo, além dos familiares que costumam se envolver e estar mais sensíveis aos sinais. Pelo maior envolvimento de pessoas, há mais atenção, diferente dos jovens que geralmente tentam lidar sozinhos com os próprios problemas.
Quais os principais sinais e sintomas que indicam um comportamento suicida?
Começa a partir de uma ideação, de uma vontade de não viver mais. A pessoa passa considerar esse tipo de possibilidade. Essas ideias evoluem para um planejamento de como executá-las, pensando de que maneira, em qual local e quando. Por fim, a tentativa ou concretização do autoextermínio. Nessas fases, passam por estados de ambivalência, onde ao mesmo tempo que querem terminar com a própria vida, também querem viver. Outras agem por impulso, muitas vezes devido a frustrações frequentes no dia-a-dia. Outras têm o pensamento mais rígido, convencido, estão firmes que o único caminho e solução é a morte. Por isso é preciso estar atento ao ato de se isolar e haver comunicação efetiva para entender em que situação se encontra.
Como lidar com uma pessoa que já tentou o suicídio?
É preciso ouvir com atenção, ter empatia, ser honesto em sua ajuda, não interromper frequentemente nas conversas, nem menosprezar os motivos e problemas da pessoa. Não é aconselhado resumir as conversas em apenas “vai ficar tudo bem” e muito menos julgar a situação apenas em um viés religioso ou social. É importante lembrar que é mito dizer que não devemos falar sobre suicídio com quem já tentou, muito menos considerar que a pessoa por ter exposto sua situação, não tem coragem para realizar tal ato.
Qual seria sua orientação para alguém que pensa, ou já pensou, em tirar a própria vida?
Que há solução para sua angústia. Os profissionais da área de saúde mental são preparados para acolher, ouvir e ajudar a dar condições para resolver problemas de qualquer tamanho. Procure um psicólogo e um psiquiatra, sem constrangimentos, pois a vida vale muito a pena ser vivida de modo saudável.