Preparação II: Afastar-se de status quo contrário ao plano divino
Talvez o preconceito maior que precisaria ser quebrado em nossos dias é que “Jesus disse que sempre tereis pobres entre vós”. Esta afirmação tem sido usada como desculpa, mas ela com certeza não foi usada na comunidade de Jerusalém. Eles eram uma comunidade de irmãos: uma família e responsáveis uns pelos outros.
Segundo a cientista social Marilena de Souza Chauí, o neoliberalismo “diviniza” o mercado. Essa tem sido a posição consciente e muitas vezes, inconsciente da grande maioria de cristãos em relação à economia de uma forma geral, e particularmente, cada um de nós está envolvido no dia-a-dia nesta ‘malha mundial’ de ‘cooperar’ com o sistema econômico. (Isso, por um lado, é inevitável – estamos neste mundo! Mas ser controlado por ele, nos mínimos detalhes, e ‘doutrinando’ nossos pequenos a estar ‘dentro’ desde pequenos – isso é prisão!)
É absurdo acreditar que os mecanismos do mercado são por si só, capazes de trazer mais organização à vida social, política e econômica. Por que não? Segundo Chauí, porque não geram solidariedade, mas sim, conflitos e antagonismos. É preciso que o Estado, o conjunto das forças políticas do país, seja o organismo regulador e disciplinador do mercado, para que os interesses da minoria privilegiada não se sobreponham aos da maioria da população.
O que isso diz respeito à formação do novo líder? Também na igreja precisamos pensar como um sistema, o que exige que o líder encare seus posicionamentos. Nessa nova visão, quem era um consumidor aprisionado é liberto, arrancado de sua impotência ou reação impulsiva, e se torna um agente criador do seu futuro, à luz do exemplo de Cristo e dos seus seguidores. Os falsos ídolos precisam ser desmascarados. (Assim, não cairemos no erro de uma considerável multidão de cristãos no primeiro mundo: alinham-se ao neoliberalismo, e o defendem, como se estivessem defendendo o próprio Evangelho.)
A visão precisa ser clara: o alvo é desenvolver uma comunidade na qual todos se sentem amados, respeitados, não importa como suas vidas e carreiras ou negócios estão de momento, progredindo ou não, no vermelho, etc.
Como disse Assmann: “Os dominadores creem que a humanização acontece na acumulação da riqueza e do poder e no subjugar outros seres humanos e nações, e não percebem que a humanização só pode ocorrer no encontro de pessoas-sujeitos que se reconhecem como tais e na luta contra as relações de dominação”.
Conclusões sobre as Implicações
Numa escola formadora de líderes temos a oportunidade de preparar homens e mulheres para transformar o mundo – cada um na posição em que for colocado. São três – quatro anos de encontros, de exposições, de silêncio, de experiências, de aventuras de fé, de lágrimas, lutas e batalhas em prol da causa – mas os pequeninos do Senhor Jesus não devem ser esquecidos.
Para uma missão desta natureza, é preciso uma constante verificação se o grupo diretor está compreendendo o plano que está sendo executado, e que uma unidade de propósito deve ser buscada. Deveremos usar as técnicas mais modernas de administração para que o consenso possa estar presente especialmente no momento de decisões críticas e de impacto.
Por outro lado, o plano de ensino apresentado em sua essência exige um envolvimento profundo com o aluno. (Não queremos esquecer: temos a consciência da operação de Deus, transformando-nos em elementos que fazem uma diferença no mundo necessitado. Como o caso do sal, que cumpre sua função de forma normal, sem alguma alteração ou afetação. Ou como a luz: não propaga suas qualidades, mas age de acordo com elas. Sua presença e atuação sempre são reconhecíveis, e na hora certa).
A Linha Vermelha, além de oferecer a sequência nas diferentes Estações, também norteará a todas as outras disciplinas quanto aos aspectos que deveriam ou poderiam ser enfocados ou buscados. As disciplinas, de forma geral, se nortearão pelos padrões aconselhados pelo MEC, mas também cuidarão de colocar o elemento ‘prática’ de forma bem real no contexto.
Pois, não fomos chamados para levar vida dupla, do acadêmico e da pessoa normal, ou, do sagrado e do profano. Os princípios que seguimos funcionam em qualquer ambiente, e por isso podemos prever nossa inserção em qualquer comunidade de forma natural, e no tempo certo, sem o uso de manobras, ou subornos.
A oportunidade de ser o criador e maior artífice de um projeto de ajuda aos necessitados (Atos de Justiça) propiciará ao aluno a mesa de design ou laboratório experimental de sua futura comunidade agindo diretamente na sociedade. E o líder como aquele que injeta a qualidade de generosidade que irá frutificar.
A escola de liderança preparará novos líderes para entender bem essa sua função aonde quer que possam ir e ministrar.
(Extraído do nosso livro/e-book A GENEROSIDADE COMEÇA DE CIMA, Parte III, Ideias e sugestões para os nossos tempos, Págs. 96-98)