*Marcos Miguel da Silva
Em um passado não muito remoto ouvia-se toda sorte de denominações para essa ou aquela situação; deficientes eram chamados de aleijados, pessoas de pele negra eram chamadas de pretos ou crioulos e para completar eram normais as piadinhas e brincadeiras entre jovens e crianças e ninguém se sentia menos humano ou inferiorizado por conta disto. Preconceito, intolerância, homofobia, feminicídio, bullying, discriminação, etc., pareciam não fazer parte do vocabulário.
Externar pensamentos ou pontos de vista jamais era entendido como violação de direitos de outrem. Se discordasse de algo poderia manifestar tal discordância de forma tranquila e obviamente era respeitado por reprovar ou por não aceitar essa ou aquela atitude ou situação.
Contudo, o suposto progresso trouxe consigo o avanço tecnológico e o imediatismo das técnicas modernas de comunicação e compartilhamento de acontecências e nessa mesma bagagem veio uma nociva e maquiavélica mudança comportamental, que passou a semear arestas e supostas diferenças entre os humanos, que na verdade jamais existiram. Afinal, Deus criou todos os humanos à sua imagem e semelhança: se somos humanos, somos iguais, mortais e de sangue vermelho, independentemente da forma plástica, cor da pele, existência ou não de alguma deformidade física, orientação sexual, credo, etc.
Com o advento desse novo momento, embalado, dentre outras coisas, pelo domínio cibernético, parece ter abalado sentimentalmente ou tornado mais frágeis aqueles que por conta desta ou daquela condição de adversidade, foram, são e sempre serão tão ou mais fortes do que se imagina.
Por exemplo, hoje fala-se de cotas para negros em universidades, como se a cor da pele os tornasse menos capazes que os de pele clara. Quando se depara com uma pessoa fisicamente deficiente, tem que tratá-la como portadora de necessidades especiais, como se aquela deformidade a tornasse uma pessoa desvalida e sem nenhuma serventia. Ora… É claro que a disponibilidade de condições de acessibilidade para aqueles dotados de mobilidade reduzida é uma obrigação legal de quem de direito, e deve ser respeitado.
Parece que deram novo significado à palavra intolerância. Se determinada pessoa faz algum comentário, ainda que não pejorativo, acerca da cor da pele de alguém, isto pode ser entendido como intolerância racial. O mesmo acontece com as questões de cunho religioso, orientação sexual e tudo mais que se vive hoje e que nem se pode minuciar muito, sob pena de uma possível interpretação distorcida.
A situação ficou tão melindrosa que as memes insinuam que quando alguém declara intolerância à lactose, assume o risco de ser processado pela vaca. Brincadeiras à parte, imperioso é que todos saibam se dar o verdadeiro valor, que se conquista com eficiência naquilo que cada um faz, respeitando as próprias limitações e habilidades.
Sabe-se das exceções da regra, porém baixar a cabeça por conta de falsos conceitos de comportamento é subestimar as próprias condições.
Ninguém é menos importante por ser portador de alguma deficiência física, ainda que possua certas limitações. A cor da pele jamais pode ser entendida como sinal de inferioridade ou discriminação. Outras situações como preferência religiosa ou orientação sexual jamais podem ser encaradas como condição de hipossuficiência em relação aos demais.
Importante, entretanto, é respeitar as preferências e escolhas alheias, ainda que não comungue destas, como também é preciso ser sensíveis ao entendimento, sem hipocrisia, de que todos nós somos iguais e que a cor da pele, condição social e demais aspectos ou possíveis limitações e preferências não devem ser encarados como diferenças.
E apimentando mais as coisas, surgiu a palavra bullying, que foi a forma americanizada de inibir as brincadeiras e gozações que no passado reforçavam os laços de amizade e jamais eram vistas como desrespeitosas, enquanto que hoje inventaram a expressão intitulada de “politicamente correto”, castrando liberdades e estimulando o esfriamento das relações, que nada mais serviu senão para semear desditas entre os povos.
Enquanto a hipocrisia se preocupa com essas frescurites, tentando camuflar a realidade ou quiçá desviar as atenções, o mundo assiste impotente a inversão de valores, o domínio do poder paralelo decorrente do tráfico de drogas, a banalização da vida, a falência da instituição familiar, a prevalência da corrupção e demais crimes do colarinho branco e tantas outras situações ultrajantes.
Contudo, quer queiram, quer não: SOMOS SIM, TODOS IGUAIS.