CARATINGA — Um caso de violência envolvendo crianças dentro de uma escola municipal revoltou a comunidade e acendeu o alerta sobre a necessidade de acolhimento e respeito às crianças com deficiência em Caratinga. Um garoto de seis anos, diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Transtorno Opositor Desafiador (TOD) e má formação congênita no cérebro, foi agredido por dois colegas no pátio da Escola Municipal Nossa Senhora do Carmo, no bairro Esplanada.
A mãe da criança, Camila, desabafou sobre o episódio e a falta de providências por parte da instituição. “Ontem eu estava trabalhando, aí minha irmã me ligou e falou que dois meninos estavam batendo no meu filho quando ela chegou para buscar. Meu filho estava no chão, com a mochila toda suja, com a roupa toda suja, ele está com o bracinho machucado”, relatou, visivelmente abalada.
Camila registrou boletim de ocorrência. “Eu quero justiça, gente, porque tem muita mãe que tem medo de falar. ‘Ah, eu não vou falar porque não vai ter efeito, porque meu filho vai ser tratado diferente na escola’. Não, eu quero mesmo que tenha tratamento melhor para as crianças atípicas, como o meu filho”, cobrou.
Camila também relatou a dificuldade de diálogo com a direção da escola. “Falei com a diretora, ela falou pra mim que o meu filho não para quieto, e que tinha que buscar ele mais cedo. Aí eu te falo: meu filho tem que sair mais cedo porque ele é especial? As crianças é que têm que aprender a ter respeito. Os pais têm que ensinar. Não é uma criança atípica que tem que sair mais cedo, não”, desabafou.
MOVIMENTO COBRA PROVIDÊNCIAS
Quem também se manifestou foi Viviane Ferreira, representante do Movimento Famílias Atípicas de Caratinga, grupo que reúne mães e responsáveis de crianças com deficiência e transtornos mentais na cidade. “É difícil falar sobre isso. Fui surpreendida com essa notícia hoje de manhã pela Camila, muito transtornada, muito frustrada. Todas as mães do movimento estão sofrendo junto com ela”, relatou.
Para Viviane, o comportamento da escola foi inaceitável. “A gente ficou surpreso com a atitude da escola, com a falta de empatia, de acolhimento, de respeito. Uma criança com transtorno mental ser tratada da forma que foi, agredida, torturada psicologicamente, porque duas crianças maiores a agrediram, deixaram ela jogada no chão e a escola não fez nada. E, pelo contrário, no momento em que deveria acolher a mãe e a criança, intimidou a mãe. Disse que era amiga de autoridades em Caratinga, inclusive dentro da Secretaria de Educação. Isso, para a gente, é inaceitável”, denunciou.
Viviane ainda reforçou que o movimento vai acompanhar o caso de perto. “Exigimos respeito. Essa família precisa ser acolhida, ter acompanhamento psicológico e a escola tem que ser responsabilizada por esse ato. Nós estamos atentos. Onde houver uma mãe passando por isso, nós vamos acolher e lutar pelos direitos dessas crianças. As crianças não estão desprotegidas”, concluiu.
PROVIDÊNCIAS
O caso foi registrado na polícia e será encaminhado ao Conselho Tutelar, que deve ouvir as partes envolvidas e avaliar as medidas cabíveis.
Em nota oficial a secretaria municipal de Educação diz que: “A Secretaria Municipal de Educação de Caratinga, juntamente com a equipe gestora de uma escola da rede municipal, vem a público manifestar solidariedade e prestar esclarecimentos sobre um episódio lamentável ocorrido no ambiente escolar.
Na ocasião, a mãe de um estudante procurou a direção da unidade escolar para relatar que seu filho, uma criança atípica de 6 anos, foi agredido por dois colegas de 8 anos ao término das atividades escolares. A gestão da escola acolheu o relato da mãe, reconheceu a gravidade da situação e reafirmou seu compromisso com o bem-estar dos estudantes.
A reunião contou com a presença de representantes da Secretaria Municipal de Educação e de um representante do conselheiro tutelar, familiares da criança.
A equipe escolar pediu desculpas à família pelo ocorrido e reforçaram o compromisso com medidas imediatas e eficazes para que situações semelhantes não se repitam.
Reafirmamos nosso compromisso com a inclusão, o acolhimento e a segurança de todas as crianças e adolescentes da rede municipal. A escola deve ser um espaço de proteção, respeito e desenvolvimento integral, e seguiremos trabalhando com responsabilidade e seriedade para garantir isso”.