Os casos são investigados com seriedade pela Polícia Civil e suspeitos já foram presos até fora de Minas Gerais
CARATINGA – A violência tem deixado marcas profundas em Caratinga ao longo do primeiro semestre de 2025. De janeiro a julho, 15 pessoas foram assassinadas em diferentes regiões da cidade, distritos rurais e municípios vizinhos. O número assusta moradores, desafia as autoridades e já coloca este ano entre os mais sangrentos da história recente do município.
A escalada de homicídios tem múltiplas faces: há crimes com indícios de execução ligados ao tráfico de drogas, feminicídios cruéis, brigas familiares que terminam em tragédia, acertos de contas e até mortes com suspeita de queima de arquivo. As vítimas, em sua maioria, são homens jovens, mas o cenário também inclui mulheres assassinadas de forma brutal e, até, mesmo um idoso que foi morto por engano.
Uma análise retrospectiva dos casos de homicídio registrados recentemente em Caratinga revela um cenário preocupante: a maioria das mortes violentas ocorreu em bairros periféricos e esteve relacionada ao tráfico de drogas. No entanto, há registros também de assassinatos em áreas centrais da cidade, durante festas populares e até em zonas rurais — o que evidencia que nenhuma região está completamente imune à violência.
Apesar desse contexto desafiador, o trabalho das forças de segurança tem se destacado. Em alguns casos, os autores foram presos em flagrante. Em outros, a resposta veio após investigações complexas, que contaram, inclusive, com o apoio de polícias de outros estados. Ainda que alguns criminosos permaneçam foragidos, os esforços para localizá-los continuam em andamento.
Diante do aumento do número de homicídios e do cenário adverso enfrentado pelas Forças de Segurança, especialmente pela carência de efetivo, é importante reconhecer que as Polícias vêm tratando as ocorrências com o devido rigor. Os resultados positivos alcançados refletem o comprometimento das instituições de segurança com a população.
A Polícia Militar tem atuado initerruptamente de forma preventiva nas ruas, enquanto a Polícia Civil conduz investigações com seriedade e foco na responsabilização dos verdadeiros autores dos crimes. Prova disso são os diversos casos solucionados, inclusive com prisões realizadas em outros estados, resultado de operações integradas que já foram destaque em edições anteriores deste jornal.
Mesmo com todas as adversidades, o recado é claro: as forças de segurança seguem firmes e operantes, fazendo a diferença em Caratinga.
A seguir, veja a cronologia dos crimes que compõem esse triste balanço.
CRONOLOGIA DOS CRIMES

16/01 – Zona rural de Caratinga
O corpo de uma motorista de aplicativo, Crislaine Maria Vasconcelos, desaparecida desde o dia 16 de janeiro, foi localizado já em estado avançado de decomposição, às margens do córrego do Lage. Um casal de jovens, de 21 e 23 anos, foi preso após confessar o envolvimento no crime e indicar o local da ocultação. A motivação teria sido o roubo do carro da vítima.

19/01 – Bairro Anápolis
Simone Maria Vital Ferreira, 39 anos, foi assassinada a tiros em frente de casa. O autor, de 34 anos, foi preso em flagrante. Testemunhas relataram possível relação com o uso de drogas. O companheiro da vítima também foi detido, mas por pensão alimentícia.

06/02 – Córrego Água Santa (zona rural)
João Batista Ribeiro, 60 anos, foi executado a tiros dentro de sua caminhonete ao sair do trabalho. A investigação revelou que ele foi morto por engano: o alvo seria o ex-sócio do mandante. A “Operação Sahara” resultou na prisão de dois envolvidos em Goiás e Campos Altos (MG).

17/02 – Bairro Santa Cruz
Luciene Rosa Teixeira, 38 anos, grávida de oito meses, foi brutalmente esfaqueada pelo companheiro, que a acusava de traição. Mesmo ferida, conseguiu saltar do carro em movimento e foi socorrida. O bebê nasceu em cesariana de emergência. O autor se entregou à Polícia Civil. Caso tratado como feminicídio e tentativa de duplo homicídio.

24/03 – Parque dos Vales, às margens da BR-458
Na tarde dia 24 de março de 2025, Alisson Junio Silva, de 30 anos, egresso do sistema prisional, foi morto a tiros enquanto trafegava de motocicleta na região conhecida como Parques do Vale, às margens da BR-458, em Caratinga. No dia 29 de maio, a Polícia Civil desencadeou a operação “Vendetta”, onde suspeitos foram detidos. Inclusive um foi preso no Espírito Santo.

10/04 – Bairro Aparecida
Luciana Simcinsch, 46 anos, foi assassinada com três tiros em plena luz do dia. O autor desceu de uma moto e atirou à queima-roupa. Câmeras registraram a ação. A vítima era companheira de um ex-presidiário. O crime segue sem autoria identificada.

03/05 – Morro da Antena
Marcos Gumercino Nascimento, o “Marquinhos Gogó”, 37 anos, foi encontrado morto com 12 tiros em uma área de mata. Ele tinha extensa ficha criminal e chegou a ser declarado inimputável em decisão judicial. A autoria permanece indefinida.

10/05 – Distrito de Santa Luzia
Antônio foi baleado após discutir com um jovem identificado como Gabriel Batista. O autor, Gabriel Batista, fugiu e foi preso posteriormente por outro crime. A arma do crime não foi encontrada.
16/05 – Distrito de Santa Luzia
Gabriel Batista, 18 anos, com diversos registros policiais, foi morto a tiros na praça principal do distrito. Outro jovem foi baleado. Investigação está em andamento na Polícia Civil.

31/05 – Bairro Vale do Sol (Morro do Lagartixa)
A vítima Carlos Henrique, 21 anos, também com diversos registros policiais, foi perseguido e executado com diversos tiros por dois homens armados em um carro. A vítima portava uma arma calibre .38. O veículo utilizado foi abandonado e periciado. Foi realizada operação policial que resultou em prisões em flagrante e apreensão de armas, coletes balísticos, munições e drogas. O autor do homicídio confessou o crime. O crime também teria motivação ligada ao tráfico de drogas local.

10/06 – Serra da Embratel (Santa Rita de Minas)
Sérgio da Silva Paiva, 52 anos, foi executado com tiros na cabeça e tórax enquanto seguia de moto para o trabalho. Ele havia prestado depoimento no dia anterior sobre o assassinato de João Batista, ocorrido em fevereiro. A polícia suspeita de queima de arquivo e o crime estaria relacionado registrado no Córrego Água Santa.

19/06 – Rua Jaider da Fonseca (Centro)
Douglas Vitor da Silva, o “Dodô”, 41 anos, foi assassinado com várias facadas após desentendimento motivado por dinheiro. O autor foi preso e confessou o crime. Câmeras de segurança registraram a briga.

19/06 – Bairro Aparecida
Alexandre Jones da Silva, 26 anos, foi morto com diversos disparos de pistola calibre 9mm por dois homens em uma motocicleta. Ele já havia sofrido tentativa de homicídio anteriormente. Autores seguem foragidos.

24/06 – Distrito de São João do Jacutinga
Joanísio José Luiz Xavier, 36 anos, foi morto com golpe de faca durante festa junina, após briga com o irmão motivada por desentendimento entre as esposas. O autor foi preso em flagrante.

17/07 – Bairro Aparecida
Filipe da Silva Assis Moreira foi morto e outro homem ficou ferido em um ataque a tiros em plena via pública. O carro usado foi encontrado incendiado. Dois suspeitos foram presos em Ipatinga. Ambas as vítimas já possuíam registros policiais pretéritos.
VÍTIMAS
Das 15 vítimas fatais:
11 eram homens (73,3%)
4 eram mulheres (26,6%)
MOTIVAÇÃO DOS CRIMES
As motivações variaram:
Tráfico e acerto de contas: 6 casos
Crimes passionais ou feminicídios: 3 casos
Discussões interpessoais ou familiares: 2 casos
Latrocínio (roubo seguido de morte): 1 caso
Queima de arquivo: 1 caso
Erro de execução (vítima confundida): 1 caso
Indeterminada ou sob investigação: 1 caso
AUTORES IDENTIFICADOS E PRISÕES
Em 10 dos 15 homicídios, a polícia identificou os autores e efetuou prisões:
9 suspeitos foram presos em flagrante ou após investigação
2 crimes tiveram confissão formal dos autores
Em 5 casos, os responsáveis permanecem foragidos ou não identificados
DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS
Bairro Aparecida: 3 homicídios
Zona rural (Córrego do Lage, Água Santa e Santa Luzia): 3 homicídios
Demais bairros e distritos (Santa Cruz, Vale do Sol, Anápolis, Morro da Antena, Centro, São João do Jacutinga, etc.): 9 homicídios.
AUTORIA E PRISÕES
Autores presos: em 10 dos 15 casos (66,66%) houve prisão de ao menos um suspeito.
Autores foragidos ou não identificados: 5 casos sem prisão até o momento.
Operações policiais:
Operação Sahara (caso João Batista)
Operação Vendetta (caso Alisson Junio)
Ações conjuntas em Santa Luzia e Morro do Lagartixa resultaram em prisões, apreensões de armas, coletes, drogas e confissão.