Três denúncias, três arquivamentos
A quarta-feira (11) foi reunião no Legislativo. A Câmara de Caratinga arquivou as três Comissões Processantes (CPPs) abertas contra o prefeito Dr. Giovanni (PL). A primeira, que investigava o uso indevido de um e-mail institucional, caiu por unanimidade. A segunda, mais barulhenta, teve quatro votos pela cassação, mas a maioria seguiu o relatório e arquivou. A terceira, sobre um suposto favorecimento à OSCIP “Universo Ação e Desenvolvimento”, também teve o mesmo destino: arquivo.
Elzo dispara: “O próprio denunciante disse que o prefeito não tem culpa!”
Durante a leitura do relatório da CPP3, o vereador Elzo Martins (PL) não escondeu o desconforto: “Como que eu e os meus 16 colegas votamos contra o prefeito, se o próprio denunciante disse que ele não tem culpa?”. Segundo ele, José Geraldo Dias, autor da denúncia, declarou em oitiva que Dr. Giovanni foi enganado, blindado e não teve envolvimento direto. Ainda assim, o nome do prefeito foi incluído formalmente, gerando, nas palavras de Elzo, pressão pública e desgaste político.
“Jogaram no nosso colo”
A irritação de Elzo não parou por aí: “Pediu anonimato, sumiu, e deixou pra nós segurarmos a peteca”. A crítica foi ao denunciante, que segundo o vereador, deixou os parlamentares expostos. Quem também não digeriu bem o silêncio foi a vereadora Zelinha — sempre direta, sem filtro: “Vontade de sentar a mão na cara dele”, disse, referindo-se a José Geraldo. A frase gerou reações no plenário — de riso contido a concordância muda. A bronca estava dada. E com gosto.
Zelinha em modo turbo
A vereadora Zelinha (MDB) voltou a se destacar no plenário. Visivelmente indignada com a ausência do denunciante José Geraldo Dias, ela não mediu palavras: “A minha vontade é de sentar a mão na cara desse Zé Geraldo, pra ele virar homem e ter dignidade!”
Zelinha em modo turbo II
O desabafo continuou em tom cada vez mais duro. Zelinha reclamou por ter sido arrancada da vida pessoal para julgar uma denúncia que o autor “não teve coragem, nem caráter” para sustentar: “Ele não teve atitude. Fez a denúncia e não segurou. Agora jogou na nossa cara a responsabilidade da cidade inteira!”
A vereadora demonstrou o desgaste emocional e político sentido por parte do plenário diante de um processo que, segundo ela, poderia ter sido evitado — se o denunciante tivesse assumido o que provocou.
A denúncia que virou manchete — e pressão
Mais que indignada, Zelinha foi cirúrgica ao apontar o efeito colateral da denúncia: a exposição pública dos vereadores. “Coloca a cara dos 17 vereadores na capa do Jornal Diário de Caratinga e na televisão! E ele? Some! Se esconde!”
A vereadora lembrou que o caso se arrasta há quatro meses e que, nesse período, José Geraldo teria sido incapaz de comparecer ou defender seu próprio ato: “Agora deixou a cidade nos xingar por aí, jogou nossa vida política no lixo e expôs nossas famílias. Que caráter esse homem tem?”
Para Zelinha, a denúncia não apenas desgastou a Câmara, mas também afetou a imagem do prefeito e da própria cidade: “Olha o que ele fez com nós. Olha o que ele fez com Caratinga!”
O recado de João Cabeção
Enquanto a Câmara discutia pareceres, relatórios e inflações processuais, do lado de fora a mensagem era clara. O líder comunitário do bairro Dr. Eduardo, João Cabeção, apareceu com um cartaz: “Deixa o nosso prefeito trabalhar!”. Simples, direto e politicamente eficaz. Foi o retrato do apoio popular que ainda acompanha o prefeito, mesmo diante das denúncias.
O que é uma Comissão Processante?
Criadas com base no Decreto-Lei 201/67, as CPPs são ferramentas do Legislativo para investigar prefeitos suspeitos de infrações político-administrativas. Elas seguem um rito formal, com direito à defesa, análise de provas e julgamento. Ao fim, os vereadores decidem se cassam ou arquivam.
Mas nem sempre a motivação é apenas jurídica…
Mais que técnica, um palco político
Na prática, as CPPS também são termômetros políticos. Testam alianças, expõem divergências e revelam movimentos estratégicos. A CPP2, que teve quatro votos pela cassação mesmo com parecer pelo arquivamento, deixou claro que Dr. Giovanni pode ter vencido no placar, mas enfrenta um clima político mais atento — e, em alguns casos, menos paciente.
Quatro votos
Embora o processo da CPP2 tenha sido arquivado, quatro vereadores se posicionaram a favor da cassação do prefeito Dr. Giovanni. Votaram nesse sentido os vereadores: Jéssica (AVANTE), Ebinho (MDB), Zelinha e Ricardo Angola (PP). O posicionamento deles contrariou o parecer da própria comissão, que recomendava o arquivamento. O voto dos quatro indica uma oposição mais ativa na Câmara, com vozes que começam a se consolidar com independência em relação ao Executivo. A votação dividida foi o único ponto em que o prefeito encontrou resistência formal — ainda que minoritária.
Vitória política, mas…
Apesar dos arquivamentos na Câmara, a situação do prefeito Dr. Giovanni Corrêa ainda inspira cautela. As denúncias que motivaram as Comissões Processantes também foram encaminhadas ao Ministério Público, onde seguem sob análise. Ou seja: a vitória no Legislativo não significa o fim da novela jurídica. O prefeito sai fortalecido politicamente — especialmente com o apoio visível de parte da população —, mas o caso ainda pode render desdobramentos no campo judicial. A Câmara encerrou seu papel fiscalizador nestes casos, mas os órgãos de controle externo ainda têm a palavra final.