Diário Entrevista: Elói Beneduzi

IMG_4864“As forças que hoje combatem o governo Dilma são as mesmas que combateram e fizeram Getúlio se suicidar”, dispara Elói Beneduzi

Diretor do PT caratinguense fala ao DIARIO ENTREVISTA

CARATINGA – O cenário político brasileiro está caótico. Mesmo diante de tantas incertezas, Elói Beneduzi, engenheiro e diretor do PT caratinguense, se mostra otimista e acredita que Lula, como ministro da Casa Civil, terá iniciativas e tem chances de acabar com a tal crise.

Beneduzi não se eximiu e disse frases de efeito, como “as forças que hoje combatem o governo Dilma são as mesmas que combateram e fizeram Getúlio se suicidar”. Ele ainda ressaltou que a crise brasileira é reflexo direto da crise que paira sobre diversos países.

A entrevista, que pode ser vista na íntegra no www.diariodecaratinga.com.br, foi concedida na quarta-feira (16), antes do turbilhão de acontecimentos registrados ontem.

Elói, passamos por momentos de turbulência. Qual sua avalição desta situação?

Só dando uma ‘pincelada’, hoje mais do que nunca, com o Mundo globalizado, a crise é internacional. Quando se fala da crise da Síria, todo mundo fala do ditador Bashar al-Assad, mas ninguém fala de uma seca de cinco anos que degringolou a economia do país, provocando revoltas e a guerra civil. Nos Estados Unidos as eleições estão mais polarizadas do que no Brasil. Donald Trump de um lado, e de outro, a Hillary Clinton se confrontando contra Bernie Sanders que tem propostas como saúde e educação gratuita. Isso porque nos Estados Unidos, o cara se forma e leva o resto da vida, se conseguir emprego, para pagar o curso superior que fez. Agora temos que olhar um pouco a história do Brasil. Pegamos o ano de 1954. Tem gente dizendo que a Dilma Rousseff foi competente até o ano passado. É o mesmo que dizer que Getúlio Vargas foi competente até o dia em que ele se matou. As forças que hoje combatem o governo Dilma são as mesmas que combateram e fizeram Getúlio se suicidar, que tentaram derrubar Juscelino Kubistchek. Foi dito que o Getúlio fez o governo mais corrupto da história. Falaram o mesmo de Juscelino e João Goulart. Então a história se repete como farsa ou como tragédia. O Jango era incompetente? Não. A correlação de forças internacional e nacional fez o Golpe de 64. Hoje todos sabem que os Estados Unidos mandaram a quarta frota naval e quem disse que o Humberto Castello Branco seria o ‘presidente’ foi Lyndon Johnson (presidente americano na ocasião). Carlos Lacerda, que era o principal articulador e achava que teria eleições e que seria presidente, terminou na desgraça.

 

Em sua avaliação, a crise brasileira está sendo influenciada pela crise internacional?

Sim. Isso é histórico, é a briga da Casa Grande e Senzala. Pela primeira vez, desde o governo Lula, o negro ascendeu. Nas manifestações de domingo (13 de março), as estatísticas comprovam: apenas 9% dos participantes eram negros. No Brasil, 54% da população é negra ou parda. Outro dado, 70% desses manifestantes têm acima de 40 anos e ganham mais de 10 salários mínimos.

Indo direto ao assunto, Dilma Rousseff sofrerá o impeachment?

Não tem como profetizar, pois é a ciência mais difícil que existe, pois depende da correlação de forças. Hoje (quarta-feira, 16 de março) foi dado um passo muito grande com a nomeação de Lula para ‘Primeiro Ministro’ para que isso não aconteça.

O senhor vê essa nomeação com bons olhos?

Paulo Nogueira, que já trabalhou na Globo, nomeia razões porque o Lula deveria e poderia assumir essa função. Primeiro porque a Operação Lava Jato, que tenta imitar a ‘Mani Pulite’ (Operação Mãos Limpas desencadeada na Itália durante a década de 1990). Mas na Itália eles pegaram gente de todos os partidos e criaram, mesmo sem querer, um caos que acabou levando Silvio Berlusconi ao governo e a Itália à tragédia. O juiz Sérgio Moro é responsável pela perda de um milhão de empregos porque ele prendeu o dono de uma empresa e impediu que a empresa funcionasse. Que prendesse o dono, mas não impedisse a empresa de continuar. A quem interessa essa briga? Temos coisas fundamentais: Primeiro, BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que juntos formam um projeto político de cooperação), pois o Brasil é a perna fraca desse grupo, pois é o único que não tem bomba atômica. Segundo, Pré-sal (reservas de petróleo encontradas na camada pré-sal do litoral brasileiro que estão dentro da área marítima considerada zona econômica exclusiva do Brasil. São reservas com petróleo considerado de média a alta qualidades), que está orçado em mais de 10 trilhões de dólares.  É a Vale do Rio Doce multiplicada por mil e também é o petróleo mais barato que existe. Terceiro, não querem que o Lula concorra em 2018. O Lula mesmo disse, ‘se eu morrer, já estou velho, viro mártir. Se eu for preso, viro Mandela, e seu eu não for preso, ganho em 2018’. Então vemos a direita acuada, o Aécio Neves e Geraldo Alckmin sendo vaiados, Beto Richa (governador do Paraná) sendo mal avaliado. Onde está outra proposta além do que foi feito? Em doze anos, o Brasil passou de 14ª para sétima potência do mundo.

Voltando a questão tratada antes, você acredita que Dilma dificilmente cai com a presença de Lula no governo?

Torna-se mais difícil porque o Lula entrou e colocou condições. Olha que paradoxo, temos 100 bilhões de dólares em reserva, mas não rendem porque estão parados. O Brasil foi rebaixado apesar de ser a segunda maior reserva do mundo. Depois da China, quem tem mais reservas em dólar é o Brasil. Nossa dívida comparada ao Produto Interno Bruto (PIB) é baixa em relação aos outros países. Então pra que deixar 100 bilhões de dólares parados se dá para injetar 400 bilhões de reais na economia brasileira e dar condições para o pequeno e médio empresário e o trabalhador, pois os únicos que tem vantagens são os rentistas. Juros a 14,5%, cartão de crédito. É uma imposição para quebrar o Brasil e a Petrobras ser entregue de mão-beijada.

Qual o recado dado no dia 13 de março com as manifestações?

Primeiro eu diria que quem foi à rua não foi o povo, foi a elite. O ricaço mesmo não vai pra rua. Teve um caso emblemático, tanto tempo após o fim da escravidão uma babá negra carregando os filhos dos patrões. A mulher participava de uma manifestação que no fundo era contra ela, que conquistou seus direitos trabalhistas. A panela serve para o rico bater com ela, mas para o pobre a panela serve para cozinhar. Não houve movimento social. Pelo Facebook vi pessoas pagando por participação no ato. Quanto ao número de participantes, eu morei no Rio de Janeiro durante 30 anos, estive no mínimo em dez réveillons em Copacabana. Com a orla inteira, Copacabana recebe dois milhões de pessoas. Quem é fotógrafo sabe que pegar uma imagem na horizontal onde tem 100 pessoas, pode multiplicá-la por mil. Não deu oito quarteirões na Avenida Atlântica, então não tinha mais de 50 mil pessoas.

O PT tem programado uma manifestação. O povo estará nas ruas nessa manifestação?

O problema é que o rico pode estar na rua a qualquer momento. Mas para o pobre, para quem trabalha, já é mais complicado. Então quem vai ser representado são os movimentos sociais. No domingo (13 de março) a elite que foi à rua junto dos inocentes úteis.

Com Lula no cargo de ‘Primeiro Ministro’ teremos mudanças radicais na política e na economia?

Sim. A história do Lula é diferente a da Dilma. Economista e engenheiro veem o mundo em linha reta, mas o político sabe que o caminho mais seguro não é o caminho reto, é o da negociação. As trajetórias de ambos mostram isso. Dilma veio do enfrentamento, enquanto o Lula veio das lutas sindicais; Dilma veio da classe média, Lula veio do povão, do nordeste.

Passando para o cenário municipal, o que o PT traz de novo para Caratinga?

Não digo que traga muita coisa. Penso que o outro lado, Marco Antônio, Ernani, Odiel e outros, que não trouxe nada. Marco Antônio é uma tragédia, então o João Bosco vai nadar de braçada. O Ernani desapareceu e seus compromissos empresariais o seguram. Quando estive na Prefeitura (na administração João Bosco) fui um dos comandantes da luta contra dengue. Dengue não é um problema de saúde, é um problema de governo. Fizemos um movimento e mobilizamos todo o povo de Caratinga. Também asfaltamos as estradas para os distritos de Sapucaia e Santa Luzia. Fizemos muros de contenção e outras obras. Nos dois primeiros anos de governo houve uma linha, que depois degringolou. Mas acredito que João Bosco tenha pensado muito e acho que não irá repetir os erros do passado.