Uma decisão do governo dos Estados Unidos deve causar forte impacto nas exportações brasileiras a partir da próxima semana. O presidente Donald Trump oficializou nesta quarta-feira (30) uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil — medida que entra em vigor no dia 6 de agosto. A taxação representa um aumento de 40 pontos percentuais em relação à alíquota anterior e promete atingir diretamente alguns dos principais setores da economia brasileira, como café e carne bovina.
Apesar de ter poupado segmentos como suco de laranja, aeronaves civis e fertilizantes, a medida atinge em cheio produtos que geram bilhões de dólares para o país, além de empregos e arrecadação. O mercado norte-americano é o segundo maior destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China.
Café na mira da tarifa
O Brasil é o maior exportador mundial de café, com os Estados Unidos figurando como seu principal comprador. Em 2024, as exportações para o país somaram cerca de US$ 2 bilhões — o equivalente a 16,7% do total embarcado. Agora, o setor teme uma compressão nas margens de lucro e encarecimento do produto para o consumidor americano.
Segundo a consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, a nova tarifa compromete a competitividade do café brasileiro nos EUA. O Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) prevê que o impacto será sentido no preço final pago pelo consumidor norte-americano.
Carne bovina também será afetada
Outro setor duramente atingido é o de carne bovina. Os EUA são o segundo maior mercado para o produto brasileiro, respondendo por 532 mil toneladas exportadas em 2024, o que gerou US$ 1,6 bilhão em receita, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).
A Minerva Foods estima que a nova tarifa possa causar uma queda de até 5% em sua receita líquida. Já gigantes como JBS e Marfrig, que possuem operações nos EUA, podem absorver parte das perdas, mas ainda assim enfrentam um cenário desafiador. Nos Estados Unidos, a carne bovina já enfrenta alta de preços devido à escassez de oferta de bois para abate, o que agrava ainda mais a situação.
Justificativas políticas e críticas ao Brasil
A nova tarifa foi imposta por meio de uma ordem executiva assinada por Trump, que declarou uma nova emergência nacional. No texto, o governo americano afirma que o Brasil teria adotado ações que colocam em risco a segurança nacional, a economia e a política externa dos Estados Unidos.
O documento ainda faz duras críticas ao governo brasileiro e acusa o país de perseguir politicamente o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, é citado nominalmente. Segundo o governo americano, Moraes teria emitido ordens secretas para obrigar empresas americanas a censurar discursos políticos e entregar dados de usuários sob ameaça de sanções.
Um dos exemplos citados é o caso de Paulo Figueiredo, que vive nos EUA e estaria sendo processado criminalmente no Brasil por declarações feitas em território americano.
Suspensão de vistos
Além da tarifa, Trump já havia determinado, no último dia 18 de julho, o cancelamento dos vistos do ministro Alexandre de Moraes, de seus aliados no STF e de seus familiares, ampliando ainda mais a tensão diplomática entre os dois países.
Consequências para o Brasil
Com as novas tarifas, o Brasil pode enfrentar uma retração significativa em sua balança comercial com os Estados Unidos. Setores como agronegócio, indústria de proteína animal e comércio exterior já se mobilizam para tentar reduzir os danos. A medida ainda levanta dúvidas sobre possíveis retaliações e abre um novo capítulo na já delicada relação entre Brasília e Washington.