Nas redes sociais, homem diz que ejacula em mães solteiras e que “abortar favelados é based”, gíria usada para atos “corajosos” em atitudes controversas
Um aluno que estaria no sétimo período de Medicina na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCM-MG) foi impedido de acessar a instituição e suspenso das atividades após várias mensagens de ódio e aparecer armado em uma foto. Nas redes sociais, o homem se apresenta como alguém que “ejacula em mães solteiras”, “bigodista”, “luciférico” e “guerreiro anti-cósmico, anti-tempo, anti-Jeová e pela destruição de todo o Universo”.
Por um perfil no X, que não está mais disponível, o estudante associa o útero feminino à cabeça de Satanás. Em postagens recuperadas, ele reproduz a imagem de um feto negro e diz que “abortar favelados é based”, uma gíria usada para descrever atos corajosos em atitudes controversas.
Alunos da FCM-MG relataram que o colega teria ameaçado um massacre na faculdade e matar principalmente as mulheres, enquanto outros divergem e alegam que o massacre foi uma dedução devido às mensagens de ódio. Ele aparece mascarado em uma foto segurando um revólver. “O cara é muito estranho, não tinha um amigo. Não falava com absolutamente ninguém, só andava sozinho”, disse um aluno.
A Fundação Educacional Lucas Machado (Feluma), mantenedora da FCM-MG, disse por meio de nota, que tomou as medidas necessárias “em caráter preventivo e investigativo, diante de informações sobre condutas em questão”. “A FCM-MG agiu prontamente e de forma rigorosa, instaurando um procedimento administrativo disciplinar interno para apuração dos fatos. Como medida cautelar, procedeu com a suspensão imediata do aluno e bloqueou seu acesso às dependências da Instituição”, diz a fundação sobre o episódio na última quarta-feira (3/9).
A faculdade levou os fatos ao conhecimento do Ministério Público e da Polícia Civil, que já abriu investigação sobre o caso. “Reiterando o compromisso com a segurança e o bem-estar de todos, a FCM-MG comunica que acionou o Núcleo de Acessibilidade e Apoio Psicopedagógico (NAAP) a fim de amparar o aluno naquilo que for necessário, considerando que se trata de uma investigação preliminar para apuração dos fatos. Preservaremos a imagem do aluno, o qual tem direito à ampla defesa e ao contraditório, que serão sempre assegurados em todas as etapas do processo. A Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais reafirma seu compromisso com a ética, a legalidade e a promoção de um ambiente educacional seguro e respeitoso, colaborando integralmente com as autoridades competentes para o esclarecimento dos fatos”, finaliza a nota.
Investigação
A Polícia Civil informou que instaurou inquérito policial para a devida apuração do caso no último dia 3 de setembro, em Belo Horizonte. Foi registrado um boletim de ocorrência contra o estudante por incitação ao crime. Não houve conduzidos à delegacia até o momento. O caso está a cargo da 1ª Delegacia de Polícia Civil Centro. Diligências e depoimentos seguem em andamento para a elucidação dos fatos.
Repercussão
Uma aluna da FCM-MG disse à reportagem, sob condição de anonimato, que circulou entre os estudantes os prints de mensagens e tweets de “teor perturbador: conteúdos satânicos, misóginos e, em alguns casos, com referência ao nazismo”. “Ficamos muito impactados com os prints. Os conteúdos eram agressivos, satânicos, misóginos e carregados de discurso de ódio, especialmente contra mulheres. A primeira reação foi de indignação e revolta, mas depois disso veio o medo. Quando surgiu a associação dele com falas sobre massacre, muitos alunos passaram a se sentir inseguros em frequentar a faculdade. Também foi motivo de debate a postura da instituição: será que nunca ninguém havia notado esse comportamento? Como um aluno com esse histórico pode passar despercebido por tanto tempo? Essa falta de percepção ou de ação levantou questionamentos se a faculdade não estaria sendo permissiva diante de um quadro com quase 300 alunos por semestre”, declarou.
Sobre o convívio com o suspeito, a aluna disse que o viu por algumas vezes, mas sempre de forma breve, já que ele “não era sociável e não interagia muito”. “Amigos que estudaram diretamente com ele relatam que era bastante quieto e reservado”, pontuou.
Sobre a suspensão aplicada em um primeiro momento pela faculdade, a estudante afirmou que soou como uma medida insuficiente para os demais alunos diante da gravidade das falas. “Um estudante que publica conteúdos que atacam e ameaçam a integridade de colegas deveria, no mínimo, ser expulso. A sensação é de que a instituição falhou em proteger os alunos”, ponderou.
O Núcleo de Acessibilidade e Apoio Psicopedagógico (NAAP) também foi oferecido aos demais estudantes.
Fonte: O Tempo