Há uma grande diferença entre julgar e discernir.
Julgar é fechar uma história; discernir é abrir caminhos.
Julgar nasce da raiva, do orgulho, da necessidade de controlar.
Discernir nasce da escuta, da empatia e da busca do que ainda pode florescer no outro.
O Êxodo expressa isso de forma surpreendente: “Não mates o inocente e o justo.” (Êx 23:7).
Não se trata apenas de um mandamento jurídico — é também um convite espiritual: não destrua o que ainda é bom dentro do outro, mesmo que ele tenha errado.
Quantas vezes, em discussões de família, amizades rompidas ou grupos de trabalho, o nosso olhar “mata” o inocente que ainda habita no outro — aquele lado vulnerável, ferido, que só precisava de uma segunda chance.
Pense numa situação comum: alguém comete um erro — esquece uma tarefa, fala sem pensar, decepciona você. O julgamento rígido rotula: “Ele é irresponsável.” “Ela é ingrata.”
Mas o discernimento pergunta: “O que está por trás disso?”
Talvez medo, cansaço, carência.
O olhar que liberta não justifica o erro — compreende a dor que o gerou.
O mesmo trecho do Êxodo diz: “Se vires o jumento do teu inimigo caído sob o fardo, ajuda-o a levantar-se.” (23:5).
É exatamente isso: levantar o que caiu, sem negar que caiu.
Discernir é enxergar o fardo e, em vez de se afastar, aproximar-se com firmeza e ternura.
No cotidiano, isso pode ser tão simples quanto mudar o tom.
Em vez de “Você me decepcionou”, tentar “Aquilo me doeu, mas quero entender.”
Essa pequena mudança salva vínculos.
É justiça com alma.
Discernir sem condenar é ver o mal sem se tornar parte dele.
É o que Jesus chamaria mais tarde de “julgar com justiça” — olhar não apenas o ato, mas o coração.
Porque, no fim, só o amor enxerga com precisão.
E toda vez que escolhemos ver com amor, alguém — talvez nós mesmos — se levanta do chão.
Rev. Rudi A. Kruger – Faculdade de Teologia Uriel de A. Leitão – rudi@doctum.edu.br










