* José Antonio Martins Júnior
A história descrita neste artigo confunde, na maioria das vezes, com nossa própria história. Ela aconteceu em um Módulo de Pós-Graduação em Teófilo Otoni-MG. Passamos grande parte da nossa vida nos projetando em situações que jamais irão realizar e perdemos tempo em nos jogar em atitudes simples, que, se tomadas, mudariam o sentido existencial de viver.
Lembro-me como se fosse hoje. Entrei na sala, apresentei-me, falei da minha formação e dos dois Doutorados – um chamado José Antonio Martins e o outro Maria Aparecida Rodrigues Martins), os alunos não entenderam nada sobre meu Doutorado e me pediram que eu explicasse melhor. Eu prontamente respondi: José Antonio Martins é meu pai, e Maria Aparecida Rodrigues Martins é minha mãe, antes “deu” me formar com todos os cursos que citei anteriormente, eles foram e são, pois ainda estão vivos, minha maior faculdade, minha maior escola, duas pessoas que dariam sua vida por mim, que me conceberam, que me fizeram ser gente, que me ensinaram a amar Deus, os segredos e a dádiva do que é viver. Esperei pacientemente que todos se apresentassem, pois precisava conhecer a história de cada um deles, observei bem a entonação de voz, a expressão facial, algumas características que os identificassem e que eu pudesse utilizar no decorrer da aula, afinal seria um final de semana inteiro comigo, então tudo deveria ser o mais agradável possível. Perguntei a eles: o que eles entenderiam sobre Ética?
Alguns responderam: respeito, amor ao próximo, colocar-se no lugar do outro, obedecer e relacionar com as pessoas utilizando regras etc. Parabenizei-os pelas respostas e fiz minha segunda reflexão: “Ética é a ciência da Moral, é através de um princípio ético é que julgamos o comportamento social de uma pessoa ou de um grupo de pessoas, e que Moral é tudo aquilo que um grupo social define consensualmente como certo, justo para julgar o comportamento social de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos dentro de um determinado espaço de tempo.” Portanto, qualquer relacionamento social, depende de estabelecimento de regras, e que as pessoas estejam presentes para estabelecê-las. Naquele momento fiz uma atividade prática. A experiência consistia em pegar o celular, colocar em viva voz e ligar para alguém que você ame, e surpreendê-lo.
Nesse instante, a Lívia (nome fictício), levantou a mão e relatou: professor eu topo. Ela ligou à sua mãe. Depois de alguns segundos a mãe atendeu: “Mãe!”, a Mãe respondeu: “Oi filha, o que foi que você está me ligando? Você não foi para a faculdade?” Lívia respondeu: “Fui sim, mãe. Estou te ligando para dizer que eu te amo, e que você é a pessoa mais importante da minha vida!”, a Mãe respondeu, e a emoção contagiou todos na sala, pois a mãe estava chorando: “o filha, mamãe também te ama, você foi o maior presente que ganhei em toda minha vida!”. Repararam que ela falou mamãe? A filha, de 27 anos, havia tornado o seu bebezinho de colo, sua protegida. E nesse momento, eu peguei o telefone e falei com a mãe de Lívia: “Bom dia Dona Maria (nome fictício), é uma experiência que estamos fazendo na sala de aula, e a primeira pessoa de quem se Lívia se lembrou, foi a senhora, pois ela te ama muito!”, Dona Maria respondeu: “poxa professor! Muito obrigada! Hoje foi um dos dias mais felizes de minha vida! Ganhei meu dia!” Percebeu, amado leitor? Como um telefone sem a pessoa esperar, surpreende? Emociona? Faz as pessoas sentirem bem?
Mas você deve estar perguntando, porque o título deste artigo é: O CORPO ERA “SARADO”, MAS O CORAÇÃO ESTAVA ATROFIADO. O que tem a ver com as histórias partilhadas até o momento? Depois do almoço retornamos à segunda parte da aula. E antes de eu tomar a palavra, sai do fundo da sala um rapaz chamado Hércules (nome fictício); ele tinha 23 anos, 1 metro 90 centímetros de altura, aproximadamente 100 quilos, todo sarado, pois participava de concurso de fisiculturismo. Ele me pediu a palavra e relatou: “Professor, no momento em que você pediu para que a gente ligasse para uma pessoa que a gente ama, eu pensei em ligar ao meu pai. Mas tinha um ano e dois meses que a gente não conversava. Tivemos um problema e não nos falamos mais.
Depois de tudo que aconteceu aqui na parte da manhã, e de sua palavra, eu fiz questão de agora, na hora do almoço, ir à casa de meu pai. Cheguei abri o portão da casa e fui direto nele, e falei, “PAI DESCULPE, EU TE AMO!” E ele respondeu: “Poxa filho, EU TAMBÉM TE AMO! HÁ MUITO TEMPO EU ESTAVA ESPERANDO POR ISTO! AGORA POSSO MORRER EM PAZ!” Todos ficaram perplexos na sala de aula. O homem de 1,90 cm, tornava-se uma criança, frágil, sensível, por toda a situação, chorava de soluçar e, na verdade, ESTÉTICAMENTE, era lindo somente por fora, o coração estava atrofiado, por uma dor que somente ele sabia. Nesse momento, percebi o quanto somos inspirados por DEUS. Olhei de lado e vi meu Amigo inseparável, JESUS, dando aquele sorriso lindo e me falando: “Não te falei que era para preparar-te, pois o melhor ainda estava por vir?”
Pois é, leitor, a vida é assim! Não sei de que forma você estava quando parou para ler este artigo. Eu queria, na verdade, lhe mostrar alguns outros lados da vida, que, ás vezes, por alguns compromissos assumidos, ou mesmo pela perversidade que atormenta o Ser Humano, não lhe dá a oportunidade de ver. E seria tão bom se criássemos um exército do bem! Quantas pessoas poderiam contagiar com nossas atitudes? Quanto este mundo seria melhor? É! Às vezes sou muito sonhador, mas, na verdade, faço valer cada segundo do meu existir e peço-lhe que permita experimentar também esse propósito.
*José Antônio Martins Junior, Professor titular do Centro Universitário de Caratinga (UNEC) mantida pela Fundação Educacional de Caratinga (FUNEC). Coordenador e professor do Curso de Educação Física do UNEC. Mestre em Ciência da Motricidade Humana na Universidade Castelo Branco – RJ (2003), Especialista em Atenção Primária em Saúde da Família pelo NESCON/ Faculdade de Medicina da UFMG (2013), Licenciado em Educação Física UNILESTE (1999)
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Respostas de 2
Na vida nos deparamos e vivenciamos isso tao poucas vezes por não saber ou conhecer a riqueza de um texto desse magnitude . Obrigado por compartilhar essa história de que simples atos transformam a vida de qualquer ser humano . Tenho orgulho de ter sido seu aluno no decorrer de minha formação acadêmica em Educação Física .
Parabéns professor júnior pelo artigo . Família é a base de tudo , são nos pequenos gestos e atitudes do nosso dia a dia que devemos proporcionar o minimo de alegria e compreensão a todos os que nos cercam , procurando com isso demonstrar porque estamos neste caminho.
Vamos transcender mais ir alem !