Edgar abriu o jogo

O podcast Abrindo o Jogo da semana passada recebeu o presidente do Esporte Clube Caratinga, Edgar Martins da Silva. Na metade do seu segundo mandato, ele falou de sua trajetória no clube, realizações e dos muitos projetos até o final de sua gestão, em 2026. Por força do estatuto, Edgar não irá concorrer a um terceiro mandato. Porém, pela disposição, afirma que trabalhará até o último dia.

Durante a entrevista, disse que alguns pretensos substitutos já surgiram, mas ainda apenas no campo das sondagens. Edgar Martins também abriu o jogo sobre suas pretensões políticas e deixou claro que está aberto às possibilidades de filiação partidária. Não escondeu o desejo de, um dia, ser candidato a prefeito de Caratinga. O podcast completo você encontra no canal do YouTube do Diário de Caratinga.

 

A elite quis o futebol. O povo o transformou

 

Quando o futebol chegou ao Brasil pelas mãos de Charles Miller, no final do século XIX, ele não desembarcou como um espetáculo democrático. Chegou carregando passaporte aristocrático. Era um jogo importado para divertir a elite urbana, praticado em clubes cercados de muros altos, regras sociais rígidas e portas cuidadosamente fechadas para quem não se encaixava no padrão esperado: branco, rico e “bem-nascido”.

O país tinha acabado de abolir a escravidão — e não por vontade própria, mas por pressão histórica. A estrutura social, no entanto, permaneceu intacta. E o futebol, que hoje é orgulho nacional, foi inicialmente mais um capítulo desse projeto de exclusão. Não se tratava apenas de preferência; era política. Negros e pobres eram proibidos, às vezes pela letra escrita, outras vezes pela sutileza perversa dos critérios de “boa aparência”, daqueles que fingem cordialidade enquanto afirmam: “este espaço não é para você”.

 

Mas a história gosta de ironias. E essa é uma das mais poderosas

Enquanto os clubes da elite protegiam seu gramado como se fosse patrimônio genético, a periferia criava seus próprios campos. Terrenos baldios viravam estádios improvisados; bolas de meia substituíam o luxo importado; e a criatividade — essa sim, abundante — transformava o que era elitista em paixão popular.

O futebol se espalhou não por quem tentou elitizá-lo, mas por quem ousou tomá-lo para si. No Brasil, o povo nunca aceitou portas fechadas por muito tempo. E o futebol foi a porta que escancaramos com talento, suor e genialidade.

Quando olhamos para trás, fica evidente: o futebol só se tornou “brasileiro” quando deixou de ser da elite e passou a ser do povo — dos pés negros, mestiços, pobres, invisibilizados; daqueles que nunca foram convidados, mas, mesmo assim, entraram em campo. A elite trouxe a bola. Mas quem ensinou o Brasil a jogar — e a amar — fomos nós.

Em nossa cidade não era diferente. Assim como no restante do país, em Caratinga e região a maioria dos grandes craques que fizeram história por aqui também é preta. Só para citar alguns: Élvio, Anísio, César, Sula, Cacau, Pérola, Ziquita, Jeferson Paredão, Jones Carioca, Vagalume, Pelezinho, Fifi, Neném Homem, e — o maior de todos — Moacir, o “Tio Moa”. Nosso salve a todos eles e a tantos outros que mostram que futebol é para todos.

 

Rogério Silva

abrindoojogocaratinga@gmail.com

@rogeriosilva89,1fm

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