COLUNA ABRINDO O JOGO

Vale a reflexão

Na última quinta-feira (24), começou a 9ª edição da Copa da Amizade de futsal. A competição, a cada ano, atrai um número maior de equipes, aumentando a competitividade e, consequentemente, elevando o nível técnico. Como se trata de um torneio sem restrições de regionalização, cada time podendo se reforçar com atletas de qualquer lugar, o sarrafo da disputa tá lá em cima.

Numa conversa informal com Clayton Lopes e David Tallert, dois dos mais renomados professores de formação do interior mineiro, algumas falas me chamaram bastante atenção. Ambos concordaram que “futebol tá caro para quem tem renda mínima”. Impossível para uma família manter um filho na escolinha, mesmo que a mensalidade não seja alta. Afinal, todas as competições têm custo de inscrição, viagem, alimentação, além do material esportivo pessoal do garoto. Por outro lado, muitas vezes, o garoto com mais talento natural a ser lapidado vem exatamente da família que não tem condições de arcar com todos os custos. Assim, as escolinhas utilizam o sistema de bolsas para atender alguns mais talentosos, fazendo um trabalho social, dentro de um empreendimento privado e, obviamente, se valendo da qualidade técnica dos meninos nas competições, que são as melhores vitrines para mostrar seus trabalhos.

 

Reflexão urgente

 

Uma das observações mais importantes, que veio acompanhada de uma frase impactante, saiu da boca do professor Davi: “Quase não temos pobres e negros nas escolinhas privadas”. Ouvir isso, vindo de um profissional que trabalha diretamente na formação, que fez disso sua fonte de renda e sustento, um homem branco com essa preocupação, joga luz sobre algo que já tenho falado há algum tempo, e escrito em artigos sazonais aqui mesmo no Diário de Caratinga. Infelizmente, o futebol disputado em alto nível, que depende de uma formação de qualidade, orientado por profissionais com formação acadêmica, num espaço estruturado, está cada vez mais deixando de ser para pobres e pretos. Num país que vive um momento de extremismo jamais visto, uma sociedade que infelizmente prefere negar seus pecados ao invés de debatê-los, lamentavelmente, muitos preferem reduzir a discussão a uma das frases mais nojentas e ignorantes que existem: “isso é mimimi”. Porém, quando ouço da boca de um professor de base, homem branco, que não terá essas preocupações em relação a seus filhos, acho que é possível debater para buscar soluções.

 

Copa Show!

A Copa da Amizade poderia tranquilamente ser chamada também de “copa show”. Afinal, logo nos primeiros jogos, o que se viu foi exatamente isso — dentro e fora das quadras. Alegria dos visitantes, dos anfitriões, a cidade colorida pelas delegações participantes, o comércio mais aquecido e todos ganhando. Uma iniciativa que merece ser apoiada por todos que realmente se importam com nosso esporte e as crianças.

 

Fotos: Rafael França

@rafael_franca92

@samuelfelipefotos

Rogério Silva

abrindoojogocaratinga@gmail.com

@rogeriosilva89fm