Enfermeiro investigador epidemiológico destaca aspectos da leishmaniose visceral e eutanásia de cães
CARATINGA– A Prefeitura de Caratinga divulgou o relatório técnico elaborado pela equipe da Unidade de Controle de Zoonoses do Município de Caratinga, referente ao quadro clínico dos animais da ONG Latemia, acolhidos no Canil Municipal de Caratinga no dia 4 de agosto, em cumprimento a decisão Judicial da 1ª Vara Cível da comarca.
Foram acolhidos no Canil Municipal 62 cães, sendo 24 machos e 37 fêmeas e 14 gatos, sendo cinco machos e oito fêmeas. Conforme o documento, os animais passaram por avaliação médica veterinária e triagem, sendo realizado exame físico, teste rápido para Leishmaniose Visceral Canina (TRLVC) e aplicação de tópicos para controle de ectoparasitas devido a infestação de parasitas. “Foi instituído protocolo de vermifugação para ambas espécies e separação por critérios de porte, idade e animais debilitados que necessitam de manejo e tratamento médico, sendo realizado a vacinação antirrábica em todos os animais”, destacou.
De acordo com a equipe, uma parte dos animais apresentava dermatites, sendo providenciado a separação dos animais e instituído tratamento para as afecções. “Para os animais com baixo escore corporal, houve mudança no manejo alimentar, para os quais está sendo ofertado alimento em maior quantidade até que atinjam bom escore corporal, estando os mesmos em observação para avaliar o interesse por alimento, ou se a perda de peso está associada a patologias, na ausência de apetite”, disse.
Os animais foram submetidos a testes rápido para diagnóstico de Leishmaniose Visceral, tendo oito animais apresentado resultado reagente, sendo os mesmos agrupados em uma única baia, a fim de isolar e monitorar seus comportamentos e quadro clínico. “Para fechamento do diagnóstico dos animais que apresentaram resultado reagente para Leishmaniose nos testes rápidos foram coletadas amostras sanguíneas para o exame de Sorologia de Leishmaniose Visceral Canina que foram enviadas para Fundação Ezequiel Dias para obter-se diagnóstico definitivo”.
Entre os animais que apresentaram resultados reagente, dois foram acolhidos no Canil Municipal fazendo uso de coleira repelente Scalibor, muito utilizada e indicada quando o animal é portador de Leishmaniose Visceral Canina, a qual tem ação repelente contra o vetor transmissor da Leishmania. “Indicativo que o responsável pela ONG tinha conhecimento que os animais eram portadores da Leishmaniose Visceral Canina”, cita.
Um dos animais que apresentou resultado reagente para Leishmaniose, identificado na triagem sob o nº 501, evoluiu para óbito no dia 6 de agosto, tendo o mesmo apresentado quando da admissão “quadro de caquexia e prostração, acentuada alopecia e espessamento da pele, que apresentava-se enegrecida e com dermatite generalizada sugestiva de ser causada por ácaro demodex com diagnostico diferencial para fungos (malassezia) e endocrinopatias”.
Dos animais que apresentaram resultado reagente no teste rápido, sete obtiveram resultados positivos na Sorologia e um animal apresentou resultado negativo, através de exames realizados na Funed que foram liberados no dia 15 de agosto.
De acordo com o relatório, considerando a confirmação dos resultados reagentes para Leishmaniose Visceral Canina, os animais foram eutanasiados como forma de controle da doença em observância a Lei Federal nº14.228/2021 e Nota Técnica nº 14/2022. “A nota tem o propósito de prestar esclarecimentos a respeito da Lei sa, que dispõe sobre orientações de eutanásia em cães e gatos nas Unidades de Vigilância de Zoonoses (UVZs), incluindo como situações excepcionais passíveis de realização de eutanásia, após avaliação do médico-veterinário e casos confirmados de doenças infectocontagiosas incuráveis, (cura clínica ou parasitológica) que coloquem em risco a Saúde Humana e de outros animais (ex.: Leishmaniose Visceral e Raiva”.
O processo de eutanásia foi realizado no dia 15 de agosto pela equipe técnica da Unidade de Controle de Zoonoses, composta pelas médicas veterinárias Ádila Silva Pereira e Clara Elisa Romanzotti. “Foram seguidos os critérios éticos impostos pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária, a fim de reduzir agravos à saúde pública. Após a confirmação do óbito, as carcaças caninas foram encaminhadas para a Sede da Superintendência de Vigilância em Saúde para serem armazenados em freezer, os quais posteriormente serão recolhidas pela empresa terceirizada responsável pela coleta de resíduos de saúde para destinação adequada (incineração)”, afirma.
A equipe ainda observou que entre os animais acolhidos no Canil Municipal vários apresentavam sinais clínicos condizentes com a suspeita de leishmaniose, os quais apresentaram resultado “não reagente” teste rápido, sendo coletado amostras sanguíneas para sorologia, tendo apresentado resultado” Não Reagentes para Leishmaniose Visceral Canina”, os quais estão em observações, tendo em vista a baixa escore corporal.
FELINOS
Com relação aos gatos acolhidos no Canil Municipal, eles passaram por avaliação médica veterinária e identificação, e a exemplo dos cães foram abertos prontuários individuais, nos quais são anotados os achados na avaliação médica e evolução dos animais.
Foi realizado a vermifugação e vacina antirrábica dos animais e, posteriormente, “distribuídos em gatil modular, onde seguem com manejo higiênico e alimentar, ficando com a ração à vontade, conforme a particularidade da espécie, sendo feita a identificação dos animais não esterilizados para que seja providenciada o mais breve possível”.
Entre os felinos acolhidos no Canil Municipal, dois apresentaram desde a admissão sinais respiratórios sugestivos de rinotraqueíte felina, sendo eles, espirros frequentes, secreção nasal purulenta, olhos lacrimejando e tosse, os quais foram separados dos demais e instituído tratamento clínico para a patologia.
A DOENÇA
O enfermeiro investigador epidemiológico Paulo Henrique Nunes explicou a respeito dos aspectos da doença. “O animal com a leishmaniose visceral canina tem queda de pelo, fica magro, ocorre o que se chama onicogrifose, as unhas ficam grandes. Chegou um animal com essas características e se for um animal também errante nós fazemos o teste da orelha que é o teste rápido. Esse exame dando positivo colhemos o sangue, separamos o soro e enviamos o material para a Funed, em Belo Horizonte, na qual constatando o animal positivo, ele é eutanasiado, ou seja, executado”.
Paulo ainda ressaltou que o animal é “humanamente eutanasiado”. “Têm os critérios do Conselho Federal de Medicina Veterinária, de que o animal deve ser sedado antes de ser eutanasiado. Essa sedação consiste numa supressão do sistema nervoso central do animal, no qual ele chega num nível cirúrgico, como se fosse fazer uma cirurgia. E são dados os medicamentos para eutanasiar o animal”.
Quanto aos questionamentos de tratamento para os animais contamidados, o enfermeiro afirma que ainda que o animal seja tratado, ele continua sendo o reservatório da leishmania, parasita que causa a doença. “Então, imagina uma família, o animal trata, mas, continua reservatório, então, ele é um risco para a família porque o vetor é o mosquito palha, que pica o animal e o ser humano. Enquanto o animal estiver com o parasita é um reservatório potencial de transmissão, levando perigo não só para a família, mas, para a comunidade em geral. A eutanásia é uma medida de saúde pública, que tem que fazer porque é uma das medidas de controle da leishmaniose visceral”.
Paulo Henrique ainda destaca como a doença com o passar dos anos tem afetado o ser humano. “Com a urbanização, o ser humano começou a invadir áreas florestais, então, era uma doença iminentemente da floresta, à medida que o homem foi penetrando para atividades de garimpo, desmatamento, foi entrando em contato com esses mosquitos que tinham na floresta e o ciclo era silvestre. O mosquito passava o protozoário para os animais, tanto é que na floresta tem vários animais reservatórios. É um ciclo silvestre que o ser humano entrou em contato”.
E finaliza sobre o papel da Vigilância Epidemiológica. “É executar todas as prevenções possíveis para o aparecimento dos agravos, como a leishmaniose visceral humana, que é uma coisa muito grave. Nosso trabalho é justamente prevenir as doenças”.