Novas conquistas no combate ao câncer de mama pelo SUS

Oncologista Samira Cotta destaca avanços no diagnóstico precoce e chegada de medicamento à rede pública

 

CARATINGA – O mês de outubro, marcado pela campanha Outubro Rosa, chega em 2025 com notícias que renovam a esperança de milhares de mulheres brasileiras. O Ministério da Saúde anunciou o recebimento do primeiro lote do Trastuzumabe Entansina, um medicamento de última geração incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento do câncer de mama HER2-positivo, uma forma agressiva da doença que estimula o crescimento acelerado das células tumorais.

Além da nova medicação, a pasta também confirmou a ampliação da faixa etária para realização de mamografia pelo SUS, que agora passa a contemplar mulheres de 40 a 49 anos, mesmo sem sintomas. Também a expectativa dos exames genéticos voltados à identificação de mutações hereditárias relacionadas ao câncer de mama.

Em entrevista ao Diário de Caratinga, a oncologista Samira Cotta celebrou as mudanças, ressaltando que o momento marca um avanço expressivo no acesso à saúde e na qualidade de vida das pacientes. “Realmente é um momento em que se fala muito sobre as incorporações do SUS, que são conquistas que a gente, de fato, tem que valorizar, e que são extremamente impactantes nos resultados do tratamento do câncer de mama. Essas incorporações são vitórias para a saúde pública e representam a esperança de muitas mulheres que dependem do sistema público”.

 

Medicamento chega à rede pública

O Trastuzumabe Entansina é uma terapia moderna, desenvolvida especialmente para pacientes com câncer de mama HER2-positivo, tipo que apresenta crescimento mais rápido das células tumorais. Até pouco tempo, essas pacientes tinham poucas opções de tratamento no SUS.

A médica explica que o medicamento foi incorporado oficialmente em 2022, mas somente agora o Ministério da Saúde conseguiu adquirir um lote suficiente para garantir a distribuição nacional. “Essa medicação foi incorporada há três anos, mas agora é que a gente conseguiu, realmente, a compra de um lote significativo para garantir o acesso aos pacientes”, pontuou Samira.

Ela explica que o medicamento não é indicado para todos os casos, sendo fundamental a realização de exames específicos para definir o perfil do tumor.  “O Trastuzumabe Entansina é uma medicação utilizada não para todos os tipos de câncer de mama. É importante esclarecer isso, porque muitas pacientes procuram saber se podem utilizá-la. Para saber se ela se encaixa, é necessária uma avaliação minuciosa, com análise tumoral que envolve o exame imuno-histoquímico, capaz de identificar a expressão da proteína HER2, que é o alvo desse tratamento”.

Para pacientes com esse perfil, o medicamento traz resultados promissores: “É uma droga fantástica, com um resultado realmente muito interessante. Para esse tipo de câncer, nós não tínhamos algo tão expressivo quanto agora temos com os bloqueadores da via HER2”, explicou.

Um dos diferenciais é sua capacidade de atingir o sistema nervoso central, o que amplia o benefício inclusive para pacientes com metástases cerebrais — algo até então inalcançável pelos medicamentos fornecidos na rede pública. “É um ganho enorme. Até mulheres com metástase no sistema nervoso central se beneficiam porque a droga tem esse potencial de alcance”.

A oncologista ressalta ainda que o Trastuzumabe Entansina pode ser utilizado em diferentes fases do tratamento: desde casos com doença residual e potencial curativo, até em pacientes com metástase, para controle da progressão da doença. “Essas medicações, quando são incorporadas, têm como critério principal o aumento da sobrevida global — ou seja, quantas mulheres vivem mais e melhor. Hoje, o câncer de mama, mesmo em fase metastática, pode ser tratado como uma doença crônica. Mulheres convivem com ele assim como convivem com diabetes ou cardiopatias, com qualidade de vida”.

 

Mamografia ampliada: prevenção que salva vidas

Outra conquista comemorada pela médica é a mudança no protocolo do Ministério da Saúde: agora, mulheres a partir de 40 anos podem realizar mamografia pelo SUS, mesmo sem sintomas.

“Havia uma discussão antiga sobre a idade ideal: se seria 50, se seria 40. Mas temos visto cada vez mais mulheres jovens sendo diagnosticadas com câncer de mama, e muitas vezes com tumores agressivos. Trazer a mamografia dos 50 para os 40 anos foi um ganho enorme. É o que chamamos de prevenção secundária”.

A especialista explica que a mamografia não impede o surgimento da doença, mas permite um diagnóstico precoce, aumentando as chances de cura e reduzindo a necessidade de tratamentos invasivos. “Quando a gente faz mamografia, eu não estou prevenindo a doença de acontecer, mas estou identificando ela numa fase em que a chance de cura é muito maior e o tratamento, menos agressivo. Isso é o que salva vidas”.

Ela reforça que, entre os exames de rastreamento disponíveis, a mamografia ainda é o mais democrático, acessível e eficaz. “Temos ultrassom, ressonância, exames físicos, todos importantes. Mas, quando pensamos em saúde pública, a mamografia é a que alcança mais mulheres, com custo mais acessível e grande capacidade de identificação precoce”

Durante o Outubro Rosa, Samira observa um aumento expressivo na procura pelos consultórios. “É curioso, porque as mulheres lembram do autocuidado. O Outubro Rosa serve como um lembrete de que é hora de se cuidar. E eu vejo esse movimento com bons olhos — é um mês que reacende o cuidado com a própria saúde”.

 

Genética e hereditariedade: novas perspectivas no SUS

Os exames genéticos também estão em destaque. Mulheres com diagnóstico de câncer de mama abaixo dos 60 anos agora têm indicação de realizar testes genéticos pelo SUS, especialmente para detectar mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, associados a maior risco da doença.

“Sabemos que de 5% a 10% dos cânceres de mama têm relação com fatores genéticos hereditários. E conhecer essa informação muda completamente o plano de tratamento e o acompanhamento familiar”.

Embora o direito já esteja previsto, a execução prática ainda encontra dificuldades. “Na prática, não estava fácil conseguir autorização. A expectativa é que, com essas novas incorporações, o processo se torne mais fluido e realmente acessível a quem tem direito”, destacou.

Ela lembra o impacto que casos públicos, como o da atriz Angelina Jolie, tiveram ao estimular o debate sobre genética e prevenção. “O exemplo dela foi fundamental para mostrar a importância de conhecer nossa genética. E é isso que estamos começando a ampliar agora no SUS”.

Prevenção: o maior aliado da mulher

 

Para a médica, o avanço tecnológico é motivo de celebração, mas a prevenção continua sendo a maior arma contra o câncer. “O tratamento do câncer é como um foguete decolando — temos muitas novidades chegando, mas os custos ainda são muito altos. Então, enquanto comemoramos as incorporações, precisamos continuar falando de prevenção primária: alimentação, sono, atividade física, evitar tóxicos, cuidar das relações e da saúde mental”, enfatizou.

Ela conclui com uma reflexão sobre o verdadeiro significado do Outubro Rosa: “Mais do que lembrar de fazer o exame, é um convite para olhar para si, para cuidar do corpo e da mente. O câncer de mama tem tratamento, tem cura, e a prevenção continua sendo o caminho mais poderoso para salvar vidas”.

Durante o Outubro Rosa, a médica Samira Cotta observa um aumento expressivo na procura pelos consultórios

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