Pedidos de regularização do transporte escolar e melhorias das estradas que foram danificadas pelas chuvas
CARATINGA– Moradores dos córregos Volta Grande, Suíço e cabeceira do Jacutinga realizaram uma manifestação no calçadão da Rua Miguel de Castro, em Caratinga, na manhã desta quarta-feira (23). A pauta de reivindicações era composta por pedidos de transporte escolar, melhorias das estradas e uma geladeira para um posto de saúde.
Valéria dos Santos, moradora do Córrego Volta Grande, chama atenção para a grave situação das comunidades. O agravante está relacionado ao acesso dos estudantes às escolas. “Rio Preto, Jacutinga, Suíço, em geral, as estradas estão em péssimas. Não está tendo nem mais condições de locomover até Caratinga. Motorista do ônibus está como prova, roda todos os dias, está quase impossível, as pessoas chegam muito tarde. Está a cada dia mais difícil a questão das estradas e o transporte escolar, kombis quebradas diariamente, muito velhas, tem uma rodando lá que parece uma sucata. Superlotação nas kombis, transporte escolar lá também está muito precário”.
Ela destaca que quando o transporte não era realizado via cooperativa, não tinham tantos problemas. “Eles recebiam diretamente da prefeitura, eles mesmo adquiriam suas kombis e trabalhavam, o transporte era muito melhor. Se quebrasse, rapidamente, tinha seguro, consertava. Hoje não, quebra, fica a semana inteira. Têm alunos do Suíço que não estudaram nem um dia, mandaram uma van para lá que funcionou sexta-feira, quebrou, furou pneu e não está puxando. A situação está muito difícil”.
Conforme Valéria, alguns percorrem 18 a 20 quilômetros nas mais difíceis condições, sem qualquer segurança e outros ficam impossibilitados de comparecer. “Alguns alunos que moram mais perto os pais estão tentando levar, mas, é difícil. Os pais também têm compromisso, precisam trabalhar e a maioria das vezes estudam um dia na semana, duas vezes. E deixar uma criança sair sozinha na estrada, os adolescentes pegarem uma moto, não dá. Inclusive, é crime. Quando a gente faz uma coisa errada, a Justiça nos pune, estamos todos com nossos documentos do carro, moto, pagos, em dia. Mas, infelizmente, o Poder Público não anda em dia com a gente”.
Para os locais que estão com transporte, o cenário é de superlotação, como destaca. “Na escola Maria Alves da Silveira está com a rota do Brejão, super lotada, eram duas kombis que faziam, mesmo assim, já bem cheias, agora é só uma. E a do Córrego dos Romãos, pega as crianças que coloca na via principal para o micro-ônibus pegar, está sem transporte desde o começo do ano. Se as crianças quiserem ir para a escola, têm que sair a pé de casa”.
O acesso também está complicado, por isso o pedido de melhorias nas estradas. Também faz parte das reivindicações a situação de um posto de saúde. “Tem um cartaz aqui registrando uma ponte que soltou com a enchente dia 2 de fevereiro. Três transportes escolares precisam passar nesse local e não tem condição. Nem moto passa aí. E o retrato do descaso que está acontecendo lá com a gente. O posto de saúde do Suíço está sem geladeira há quase uma década. Um serviço essencial para a comunidade, não tem como manter as crianças com a vacina atualizada, tem que esperar o dia que o médico vai e é um absurdo. Veio isso do outro mandato, doutor Welington já está no sexto ano de mandato e o posto de saúde continua sem geladeira. É uma ferramenta essencial para o bom funcionamento do posto”.
Jaqueline Aparecida da Silva é secretária da Associação do Córrego Volta Grande. Ela destaca que buscou apoio junto ao Legislativo, se tratando da ponte citada por Valéria. “Essa ponte dá acesso à minha casa, tenho que levar e buscar minha, porque não tenho coragem de deixar ir sozinha. Pedimos ajuda, os vereadores disseram que não tinha como fazer nada naquele dia porque estava chovendo, tinha que esperar estiar. Já estiou tem muitos dias e ninguém fez nada. Levei ofício pedindo pelas estradas, patrolamento, a maioria das crianças tem que ir nas grotas, onde a patrola não vai. Mas, simplesmente, me ignoraram. Infelizmente, pagamos nossos impostos em dia, lutamos para conseguir comprar um carro, porque se a polícia pega a gente com os filhos na moto, recolhe e dá multa. Mas, não tem estrada para carregar os nossos filhos. Pedimos providências”.
Francisco Toledo acrescenta a situação de quem precisa passar diariamente pelas estradas e encontra as dificuldades de acesso. “Fomos atrás, conversamos com o secretário de Agricultura Alcides, recebeu a gente bem e falou que assim que passassem as chuvas começaria a fazer os serviços, mas, até agora, nada. Inclusive, gastei dinheiro lá para arrumar um lugar que estava muito ruim, esperando de mandar o saibro para colocar e nada. A gente preza em estar comprando as coisas aqui em Caratinga para o dinheiro circular, o imposto circular na cidade e não temos nada em troca disso”.
Ele finaliza reiterando o pedido de providências para os transtornos enfrentados pelos moradores. “Parece que estamos pedindo favor. Exigimos que olhe por nós, a agricultura que carrega essa cidade nas costas. Se tem alguma coisa na cidade é porque nós trabalhamos lá e colocamos aqui e ninguém faz nada por nós. O prefeito falou que ia fazer um serviço na estrada que nunca foi feito, estamos ali passando perigo, em tempo de tombar caminhão porque não tem estrada direito, pedindo pelo menos uma máquina para tapar os buracos, já que estava chovendo e não tinha como. Não estamos mendigando, mas, exigindo direitos, pois, pagamos, IPVA, seguro, tudo em dia”.
A reportagem entrou em contato com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Caratinga. Até o fechamento desta edição não houve resposta. Já o secretário de Agricultura Alcides Leite de Mattos informou que recebeu os moradores destas localidades e esclareceu que, de fato, muitas estradas foram danificadas pelas fortes chuvas. Segundo informou, máquinas e equipes já estão em campo recuperando passagens e pontes, porém, diante da grande extensão da área rural de Caratinga está sendo cumprido um cronograma, atendendo a diversas localidades.
Moradora da cabeceira do Jacutinga pede monitor para o filho que é autista
Luíza Beltrame, moradora da cabeceira do Jacutinga, também conversou com a reportagem para relatar que desde 2019 busca que a Prefeitura de Caratinga providencie um monitor para acompanhar o filho dentro do ônibus durante o transporte escolar, que é autista. “Fui ao Ministério Público em junho daquele ano para pedir, pois, ele não gosta de barulho. Está brincando com um coleguinha, às vezes fica irritado e acaba agredindo. O motorista naquele transporte, no ônibus grande, não tem como dar conta de olhar as estradas e monitorar ele. Ganhei no Ministério Público, vim aqui, na época era o Diego que era o secretário de Educação, me senti uma princesa dentro de Caratinga, pois, como ganhei, até andar aqui no carro da prefeitura fizeram. Mas, eles falaram comigo que não tinha como colocar o monitor porque já era final de ano, pois fui atendida em novembro. Vim aqui de novo solicitar no início de 2020, falaram que não podiam porque era ano de eleição e daria como se estivessem puxando para meu lado. Aguardei e em 2021, por causa da pandemia, não teve transporte, ninguém falou mais nada”.
Agora, em 2022, ela procurou novamente a Secretaria de Educação e não teve uma resposta. “Estive com a secretária Eliane, falei com ela sobre essa questão, ela disse que ia ver e me dar uma resposta. Que eu nem precisa voltar aqui, bastava ligar e ela me daria a resposta. Está no meu celular mais de cinco vezes que mandei em seguida para ela, ela só visualizou e me ignorou. Esse pessoal do transporte e Secretaria de Educação, para nós, não vale nada. É 20 minutos, mas, é muito para um menino como o meu. 40 alunos é zoeira demais. E sem ter essa Kombi, tem menino de 11, 12 anos, pilotando moto sozinho, em tempo de sofrer acidente nas roças para vir até o ônibus. Isso é absurdo”.
Luíza acrescenta as dificuldades enfrentadas pelos moradores desta e outras localidades. “E agora para poder piorar a situação não está tendo a Kombi que faz a rota do Suíço até os galhos que falam, para o ônibus maior. Vão entregar os alunos na parte da manhã, 11h20, até que esse ônibus chega lá no Suíço com as estradas ruins do jeito que estão e retorna, quando chegam a pegar meu menino é 13h10 da tarde, ele perde o primeiro período totalmente. Como pode uma coisa dessas? Já está precário e tira nossa Kombi ainda?”.