Mesmo após a morte, sargento salvou vidas com seus órgãos; veja como ser doador

Atitude do sargento Dias, de 29 anos, que comunicou a família do desejo de doar órgãos, é essencial para reduzir índice de recusa de doação, que chega a 40% em Minas
Em Minas, cerca de 40% das famílias de pessoas que morreram se recusaram a doar os órgãos do ente querido, o que colabora para que cerca de 6.500 pessoas sigam aguardando na fila dos transplantes. Atitudes como a do sargento Roger Dias da Cunha, de 29 anos, que avisou aos seus familiares do seu desejo de ser um doador de órgãos, fizeram com que o militar seguisse salvando vidas, mesmo após a morte, além de contribuir para a redução dessa lista de espera. Agnaldo Soares Lima, que é coordenador do Transplante de Fígado da Santa Casa BH e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, destaca que o fato de deixar a família ciente do desejo de ser doador de órgãos é uma atitude “louvável” e que, certamente, pode contribuir para a redução desse tempo aguardando por um transplante.

“A gente sempre explica que as pessoas devem discutir sobre o assunto e se informar com pessoas especializadas, para tirar todas as dúvidas e tomar as decisões sobre isso. Caso a pessoa queira doar os órgãos, que ela comunique isso à família. São atitudes como essas que podem nos ajudar a reduzir a fila de espera, pois, em Minas, temos cerca de 40% de recusas à doação, um número extremamente alto”, defendeu o médico.

Ainda segundo o profissional, nos últimos meses ele vem notando um aumento no número de doações. “Mas esse número (da fila de transplantes) ainda é muito grande, principalmente porque uma boa parte desses pacientes são pessoas que estão aguardando o transplante de córnea, que deveria ser um transplante muito mais facilmente realizável, já que nós podemos obter as córneas até algumas horas depois da morte da pessoa”, ponderou Lima. “Levarão à frente o nome do sargento”, diz porta-voz da PM sobre receptores dos órgãos
Durante o velório do sargento Dias, que levou uma multidão ao Cemitério Bosque da Esperança nesta terça-feira (9), a porta-voz da Polícia Militar (PM), major Layla Brunnela, comentou a importante iniciativa da família de doar os órgãos do policial. “O sargento já tinha manifestado para a esposa e para amigos que ele tinha o interesse em ser doador de órgãos, e a família respeitou essa vontade. Não tenho dúvida que é um grande exemplo, pois as pessoas viverão. A vida dele está sendo transmitida para outras pessoas, que agora levarão o nome do sargento Dias por mais e mais tempo. A gente tem que apoiar a atitude da família, já que todos os órgãos foram doados, várias pessoas foram beneficiadas, e a gente espera que isso sirva de exemplo”, disse a militar.

Professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG, Sônia Pessoa, de 52 anos, perdeu o filho Pedro, que tinha hidrocefalia, com apenas 8 anos, após o garoto sofrer um mal súbito. Jornalista, ela já tinha feito reportagens premiadas sobre o drama da espera na fila do transplante e, por isso, apesar do momento doloroso que vivia, não houve dúvidas sobre a doação dos órgãos do filho. “Para mim é uma questão coletiva, social. Assim como a família que doa está sofrendo, dilacerada, passando pelo pior momento da sua vida; também há outras famílias que estão no que a gente chama de ‘fio da Navalha’, dependendo da decisão de alguém para buscar mais alguns anos de vida. Quando a gente faz a doação, é como se a gente estivesse contribuindo para o bem-estar de alguém ou de várias pessoas, como no caso do Pedro, porque foram doações de vários órgãos. A sensação é de um preenchimento, de realização por ter podido contribuir”, lembra, emocionada, Sônia.

Para ser doador, basta comunicar família
Ainda de acordo com o coordenador do Transplante de Fígado da Santa Casa BH, Agnaldo Soares Lima, se a pessoa tem o desejo de ser doador de órgãos, ela não precisa comunicar nenhuma autoridade ou ter qualquer documento manifestando este desejo.

“Quando a pessoa se decide por ser um doador de órgãos, ela precisa apenas comunicar a sua família para que esse seu desejo seja respeitado”, garantiu o médico. Para tirar todas as suas dúvidas sobre o assunto, basta acessar o site da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), que traz uma série de perguntas e respostas sobre o tema. Fernando Franco Taitson, de 48 anos, foi um dos muitos beneficiados pela doação de órgãos. Em 2017, ele recebeu um rim após quatro anos e oito meses com insuficiência renal, com “muito sofrimento e diálise”, em suas próprias palavras.

“Diante dessa notícia muito triste do falecimento do sargento Dias, veio o momento de nobreza da família, que pensou nos próximos. Os órgãos de uma única pessoa podem ajudar de oito a mais pessoas. Então, é muito nobre esse gesto da família mesmo diante desse fato, dessa barbárie, que chocou não só Minas Gerais, mas todo o Brasil”, disse Taitson sobre o assassinato do policial.

Minas registrou aumento de 10% nas doações em 2023
Conforme o Governo de Minas, o Estado terminou 2023 com uma boa notícia para os 6.488 que aguardavam por um transplante na fila. Foi registrado um aumento de 10% nas doações de múltiplos órgãos em relação ao ano de 2019, quando ocorreram 2,2 mil transplantes. O aumento foi devido à redução de cerca de 5% no índice de recusa familiar, que costuma ficar em torno de 40% em Minas. As doações de rins aparecem no topo da lista, com 769 transplantes, de doadores falecidos e vivos. O diretor do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado, explicou que o número foi comparado ao ano de 2019 uma vez que, durante a pandemia, foi registrada queda significativa no número de doações.

Agora, os números voltaram a crescer, superando inclusive 2019, que foi o melhor ano da história do Estado. “A campanha Setembro Verde foi muito importante, já que observamos o maior aumento no segundo semestre de 2023. No entanto, os cursos de ‘Capacitação para diagnóstico de morte encefálica e comunicação em situações críticas’, promovidos pelo MGTX, foram de grande impacto para que conseguíssemos realizar um número maior de transplantes em Minas”, destacou o diretor.

O TEMPO procurou a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) para saber se já haveria um número atualizado da lista de espera por órgãos em Minas em 2024, porém, até a publicação da reportagem, o dado ainda não havia sido divulgado.

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