Inaugurado Espaço Millôr

catsEvento contou com a presença de Ziraldo e de Ivan Fernandes, filho de Millôr

CARATINGA – Caratinga acaba de ganhar mais um espaço cultural, anexo ao Casarão das Artes. Com muita festa e presença do caratinguense Ziraldo Alves Pinto e de Ivan Fernandes, filho de Millôr Fernandes; a Fundação Casarão das Artes, em parceria com a Rede de Ensino Doctum, Secretaria Municipal de Cultura, Câmara Municipal de Vereadores de Caratinga e Conselho Municipal de Políticas Culturais, inaugurou o Espaço Millôr, que passa a receber o acervo que pertenceu ao cartunista Millôr Fernandes.

As festividades contaram com atrações musicais, começando com a presença da Banda de Música Santa Cecília. Em seguida, as homenagens ficaram por conta do Bloco de Latas e da peça “Reconhecendo Millôr”, apresentado pelo grupo Teatro do Aprendente.

Além disso, Ivan inaugurou a menção honrosa “Personalidade da Cultura” do Conselho Municipal de Políticas Culturais e recebeu a notícia do título póstumo de cidadão honorário, pela Câmara Municipal de Caratinga. Surpreso e emocionado, ele resumiu o sentimento diante das homenagens. “Foi muito mais do que eu esperava. Não se realiza uma coisa dessas apenas com desejo, nem com trabalho, tem que ter carinho para chegar a esse resultado tão maravilhoso. Seria, talvez, apenas emocionante? Para mim muito mais que isso”.

1A DOAÇÃO

Foram doados mais de cinco mil livros do acervo do escritor Millôr Fernandes para o Casarão das Artes. Após quase dois anos da morte de Millôr, o filho decidiu distribuir o acervo em três partes. Mais de 150 livros foram para a responsabilidade da agente literária Lúcia Riff.

A produção teatral foi para a Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus), e as ilustrações e arquivos pessoais, reunidos na cobertura em Ipanema; transferidos para o Instituto Moreira Salles. Das mais de oito mil obras literárias, Ivan decidiu distribuir entre os melhores amigos de Millôr. Um deles é Ziraldo que ganhou 70% do acervo e decidiu doar tudo para o Casarão das Artes.

Essa é consequência de décadas de amizade que viveu com Millôr, também desenhista, humorista, dramaturgo, escritor, tradutor e jornalista. Ziraldo conheceu Millôr em uma redação ao lado de outros grandes escritores da literatura brasileira, que estavam paginando o livro ‘Tempo e Contratempo’, lançado em 1949. Foi o início de anos de convivência.

Ziraldo ficou satisfeito com as homenagens e destacou o empenho de Caratinga em fomentar a cultura. “A coisa mais agradável, primeiro, é você conviver com gente competente. Depois, com gente criativa. Você não imagina o Ivan Fernandes chorar e ele não conseguiu falar, tamanha a emoção. É uma homenagem de uma competência que vai exigir da cidade de Caratinga uma resposta à altura”.

Bem humorado, Ziraldo destaca a satisfação das homenagens que tem recebido de sua terra natal. “A população de Caratinga tem uma característica antimineira, porque a gente daqui é muito santa, muito aberto, quando gosta diz que gosta. Mineiro não diz que gosta de ninguém. Nós quebramos esse paradigma”.

ESPAÇO E HOMENAGEM

O presidente da Rede de Ensino Doctum, Cláudio Leitão, acredita que o Casarão das Artes recebe um acervo de importância nacional. “É fundamental para a construção da nação, que estejam sendo evidenciados exemplos para as pessoas seguirem de inteligência, sensibilidade, para as pessoas se referenciarem. É um dia único no Brasil. E nesse sentido tem um papel muito importante para atrair também a Caratinga as pessoas que querem fazer turismo”.

Cláudio reitera quem Millôr fica eternizado em Caratinga, a partir deste espaço. “Por outro lado, entendo que isto aqui vai eternizar tudo aquilo que o Millôr representou. O olhar sobre o brasileiro, o Brasil para o futuro. Aqui estão livros, arte, quadros, peças, com um intelectual multitalento que marcou o país. Queríamos agradecer profundamente ao Ziraldo, a iniciativa de me telefonar e iniciar esse processo. O Ivan que abraçou com tanto carinho essa ideia de trazer parte daquilo que representou a vida e a história do pai aqui para nossa cidade”.

O Espaço Millôr é aberto ao público e vai ser uma oportunidade de aprendizado e contato com vida e obra do cartunista. “A cada dia mais as pessoas vão entender que aqui é o espaço delas. A curiosidade, necessidade de leitura, pesquisa ou de curtir mesmo essa arte fantástica, intelectual maravilhoso. As pessoas podem vir, passar aqui, fazer as suas leituras, pesquisas, ter livros emprestados. É um espaço muito especial onde vão poder ver também entrevistas do Millôr que passam aqui pela TV, no período todo que ele esteve na mídia. Tudo registrado e estamos muito felizes por isso”.

Para Hélio Amaral, é evidente a relevância da cidade receber este acervo e ter mais um ambiente dedicado à cultura. “Pra começar, Millôr Fernandes foi um grande amigo do Ziraldo, que é talvez a maior personalidade de Caratinga de todos os tempos. A obra do Millôr Fernandes é muito importante porque, provavelmente, tenha sido o maior caricaturista do Brasil. Conheci-o pessoalmente, tenho até uma coleção autografada por ele. Caratinga vai ficar marcada no Brasil como uma cidade que está ligada a essa grande figura. Parabéns”.

A opinião é compartilhada por Marilene Godinho, que acredita que Caratinga tem muito a ganhar, pois além e ter sido escritor e cartunista, Millôr deixa no ar o riso e o bom humor. “Eu acho maravilhoso, ler uma coisa que te faz feliz, que te faz sorrir é incrível. Esse acervo é importantíssimo para as gerações de agora que às vezes nem conhecem o Millôr, a sua importância, as ideias, como são interessantes, como sabe fazer metáforas e trocadilhos com as palavras. Acho de suma importância”.

Marilene acrescenta que a festa não seria a mesma sem a já tradicional homenagem a Ziraldo. “A gente não cansa de homenagear Ziraldo pela sua importância para a literatura infantil, formação do hábito de leitura por aqueles livros maravilhosos. O cartunista, considerado um dos maiores do mundo, é da nossa Caratinga. Essa é uma noite memorável”.

 

Millôr Fernandes

 

Millôr Fernandes faleceu no dia 27 de março 2012, mas ficou na memória dos brasileiros como um dos maiores escritores do país. Trabalhou nos principais veículos de imprensa do país como ‘O Cruzeiro’ além da fama por suas colunas de humor na Istoé, Veja, Folha de São Paulo, Pasquim e Jornal do Brasil. Em seus trabalhos costumava usar ironia e a sátira para criticar o poder e as forças dominantes, por isso sofreu muita censura. Também foi autor de mais de mais de sete mil desenhos e mais de 150 peças teatrais, além de poesias, fábula musical e tradução de autores como Shakespeare e Molière.