Evento celebrará Ziraldo e Drummond, unirá autores latino-americanos e promete consolidar Caratinga como referência cultural no interior de Minas Gerais
CARATINGA – Caratinga se prepara para receber, em junho de 2026, sua primeira Festa Literária Internacional — a Flica, evento que promete integrar o calendário oficial de comemorações do aniversário da cidade e projetar o nome do município no circuito literário nacional e latino-americano. Com o tema “Poesia e Amizade”, a festa homenageará dois ícones das letras mineiras, Ziraldo Alves Pinto e Carlos Drummond de Andrade, e pretende transformar a Praça Cesário Alvim em um grande palco de celebração da palavra, da arte e da convivência.
Em entrevista ao DIÁRIO, o professor, poeta e produtor cultural Abiatar David de Souza Machado, coordenador e um dos curadores da Flica, detalhou a proposta do evento, sua concepção, os homenageados e os desafios da organização dessa primeira edição.
Quando será realizada a 1ª Festa literária Internacional de Caratinga e qual será o local escolhido para o evento e no que consiste o evento, ele tem uma temática específica?
A Flica — Festa Literária Internacional de Caratinga está prevista para acontecer em junho de 2026, mês do aniversário da cidade, e tem como objetivo integrar o calendário de comemorações da comunidade caratinguense. Embora seja um evento de caráter local, a Flica também terá alcance regional, nacional e internacional, promovendo intercâmbio literário. Nesse sentido, pelo menos uma mesa com autores e autoras latino-americanos está prevista na programação.
Atualmente, o evento encontra-se em processo de organização e curadoria e realizará suas atividades principalmente na Praça Cesário Alvim, valorizando seu conjunto arquitetônico e, em especial, o coreto, um monumento simbólico da cultura de Caratinga. Além das ações na praça, estão sendo planejadas atividades em escolas e instituições culturais da cidade, por meio de parcerias com essas entidades, garantindo a participação da comunidade e o fortalecimento da vida cultural local.
O tema da primeira edição, “Poesia e Amizade”, orienta toda a concepção da Festa. A partir dele, serão homenageados dois grandes escritores mineiros: Ziraldo Alves Pinto, natural de Caratinga, e Carlos Drummond de Andrade.
Os dois autores compartilham não apenas a origem, mas também uma trajetória marcada pela admiração mútua e pela amizade, refletida em colaborações que celebram a palavra e o afeto. Um exemplo marcante dessa relação é o livro ‘O Planeta Lilás’ (1979), de Ziraldo — definido pelo autor como um “ato de amor ao livro” e dedicado a Drummond, então o mais consagrado poeta brasileiro. Essa dedicatória reforça a ideia de que a literatura é, acima de tudo, um gesto de amizade, criação e partilha.
Há ainda outros sinais dessa ligação: o livro ‘A História de Dois Amores’, de Drummond, foi ilustrado por Ziraldo, assim como ‘O Pipoqueiro da Esquina’, reafirmando o diálogo entre suas obras e a amizade que as inspira. É exatamente essa conexão que a Flica deseja trazer ao público: as relações entre poesia e amizade como forças constitutivas do espaço literário, da leitura e da própria vida. Afinal, uma vida enriquecida pela palavra é também uma vida enriquecida pela vida.
Como surgiu a ideia de criar uma Festa literária na cidade e qual é o principal propósito dessa primeira edição?
Caratinga é uma cidade de grande riqueza cultural, com eventos literários já consolidados e uma tradição artística viva. A Feira Literária, organizada pela Acadêmica Caratinguense de Letras, é um exemplo dessa vitalidade. Além disso, o município conta com diversos agentes culturais e artistas influenciados pela obra de Ziraldo, cuja presença simbólica continua a inspirar gerações.
Foi nesse cenário fértil de literatura e arte que surgiu a ideia da Flica — Festa Literária de Caratinga. As conversas com a escritora Mirian Gomes de Freitas, que participou de várias festas literárias pelo Brasil — algumas como organizadora, outras como autora convidada —, foram decisivas para amadurecer o projeto.
Atualmente professora do IFSudeste em Juiz de Fora, Mirian lecionou em Caratinga durante muitos anos, participando de diversos jornais e iniciativas literárias locais. É autora de diversos livros de poesia, destacando-se, entre eles, sua mais recente publicação, ‘Damascos Feridos’, um conjunto de 53 poemas em que a autora medita sobre a violência e os ataques à Faixa de Gaza, ilustrada com fotografias do poeta e professor de literatura caratinguense Fernando Campos. O papel de Mirian na formulação e curadoria da Flica tem sido fundamental, contribuindo para estruturar o evento e consolidar sua proposta literária e cultural.
Por outro lado, cabe salientar, que há algum tempo, cultivo o desejo de contribuir para criação de um espaço em que a literatura local seja valorizada e reconhecida pela comunidade, mas que também promova intercâmbio com outras regiões e países. Embora a literatura local já conte com reconhecimento, entendemos que este pode e deve ser ampliado, e é essa contribuição que a Flica pretende oferecer.
Por isso, contamos também com as escritoras e escritores caratinguenses, pois uma festa literária é, acima de tudo, um acontecimento coletivo e comunitário, que representa a relação viva da comunidade com a palavra. O propósito da Festa Literária exatamente celebrar essa relação viva, em sua dimensão literária, entendendo que isso é um acontecimento social e afetivo, com dimensões comunitárias.
Quais são as principais atrações previstas — autores convidados, lançamentos, palestras ou atividades culturais?
Hoje, temos uma programação em vias de construção. Entre as principais propostas, destaca-se a exposição ‘Planeta Lilás: Poesia e Amizade’, em homenagem a Ziraldo e Carlos Drummond de Andrade, celebrando a parceria e a afinidade poética entre os dois artistas.
Estão previstas também apresentações musicais e poéticas de artistas locais, realizadas em um palco livre, que receberá o nome de “O Pipoqueiro da Esquina”, em referência à obra de Drummond ilustrada por Ziraldo. Esse espaço será um convite à expressão espontânea, à convivência e à celebração da palavra viva.
Outro eixo importante do projeto é a criação de um espaço de formação literária voltado a estudantes, com oficinas, rodas de leitura e atividades educativas. Com isso, se buscará valorizar instituições fundamentais para a formação cultural de Caratinga, como a Biblioteca Municipal, que deve ser reconhecida como um verdadeiro patrimônio da cidade — no sentido mais forte da palavra.
É importante frisar que esses eixos estão em construção, e serão enriquecidos ao longo do processo de preparação da Festa, em diálogo com agentes culturais do município e comunidade.
Como está sendo feita a organização do evento? Há uma equipe específica ou parcerias com instituições locais?
A organização está sendo realizada de forma coletiva e colaborativa, reunindo uma equipe central e estabelecendo parcerias com instituições locais e agentes culturais da região. A curadoria da primeira edição é liderada por Mirian Gomes de Freitas, escritora que lecionou durante anos em Caratinga, e, atualmente, é professora do IFSudeste em Juiz de Fora, e por Júnia Paixão, escritora e organizadora da Festa Literária de Carmo da Mata. Eu também sou um dos curadores e assumi a posição de coordenador do projeto. O núcleo organizador conta ainda com a participação de Elifas Levi de Souza, artista plástico e professor de artes da Escola de Arte Bico de Pena, e de Vaneska Maria Lopes Viana, produtora cultural, além de outras pessoas que estão sendo convidadas para integrar a equipe.
A Feira Literária contará com o apoio de órgãos públicos, empresas privadas ou instituições culturais? Quais são os principais patrocinadores e apoiadores confirmados?
O sistema de patrocínios e incentivos está sendo negociado e firmado com empresas de Caratinga e região, e a receptividade tem sido muito positiva. A partir de fevereiro, teremos novidades importantes em relação a essas parcerias. A marca dos patrocinadores e apoiadores estará presente em todas as ações e peças produzidas durante as fases de pré-produção, produção e pós-produção do evento. A proposta é que as empresas ganhem visibilidade ao apoiar atividades marcadas pelo esforço de efetivar uma autêntica integração comunitária, mostrando, como o empresariado de Caratinga e região assume com vigor um papel sociocultural, reforçando o compromisso com a cultura e a comunidade local.
De que forma o evento pretende envolver as escolas, universidades e a comunidade leitora de Caratinga e região?
Pretende-se envolver escolas, universidades e a comunidade leitora de Caratinga e região de forma ativa e diversificada. Durante a Flica — Festa Literária de Caratinga, serão realizadas oficinas, rodas de leitura e atividades educativas voltadas para estudantes de diferentes faixas etárias, integrando o aprendizado literário com a experiência prática da criação e da leitura.
Além disso, estão previstas mesas de debate com escritoras e escritores de Caratinga e região, abordando temáticas específicas. O apoio das instituições de ensino será fundamental, pois o ideal é que essas mesas aconteçam no âmbito das escolas e universidades da cidade, fortalecendo a participação estudantil e acadêmica.
A partir de fevereiro, serão realizadas as primeiras atividades públicas de preparação para o evento, incluindo lives na internet relacionadas ao tema da Festa e a realização de um café literário, com o objetivo de divulgar o projeto, engajar a comunidade e criar uma rede de participação ativa antes da primeira edição da Flica.
Apostamos, ainda, na parceria com a mídia local e regional como forma de integração comunitária. O apoio de entidades como Diário de Caratinga é fundamental para que a integração comunitária entorno do evento se efetive com a força que merece. Daí, a importância dessa entrevista, já que é a primeira aparição pública do projeto.
Haverá espaço para escritores independentes ou editoras locais apresentarem suas obras? Como será esse processo de participação?
Sim, autoras, autores e editoras poderão inscrever seus trabalhos para participação na feira de livros, nas sessões de autógrafos e em rodas de conversa, conforme seus interesses. A curadoria do evento atuará na organização dessas apresentações, garantindo que o público tenha acesso a uma variedade de gêneros, estilos e vozes literárias, promovendo tanto a divulgação quanto o intercâmbio cultural entre escritores e leitores.
O objetivo é criar um ambiente inclusivo e plural, onde a literatura local seja reconhecida, compartilhada e celebrada, fortalecendo os vínculos entre autores, leitores e a comunidade, como também fazer circular obras de autores de outras cidades e regiões no âmbito da Festa literária. Trata-se, de promover intercâmbio e reconhecimento no que tange a literatura.
Quais os maiores desafios enfrentados na preparação dessa primeira edição e como a organização está lidando com eles?
Realizar uma Festa Literária enfrenta diversos desafios. O primeiro deles é a captação de recursos, essencial para garantir a realização das atividades planejadas. Para isso, a equipe núcleo do projeto está construindo instrumentos e estratégias para dialogar com o empresariado local e regional, buscando patrocinadores e apoiadores. A receptividade até o momento tem sido muito positiva, e a expectativa é que, em fevereiro, esses patrocinadores já estejam sendo divulgados junto com as peças e ações de execução.
Outro desafio é fazer cultura no Brasil, que sempre exige criatividade, dedicação e coragem. Apesar disso, o contexto atual apresenta oportunidades interessantes, com leis de incentivo como a Aldir Blanc e outros mecanismos de fomento federal, que têm sido abraçados pelo poder público municipal.
Além da programação literária, a Flica incluirá atividades paralelas, como exposições, apresentações musicais ou oficinas?
Além da programação literária, a Flica — Festa Literária Internacional de Caratinga incluirá diversas atividades paralelas. Entre elas estão a exposição ‘Planeta Lilás: Poesia e Amizade’, em homenagem à amizade entre Ziraldo e Carlos Drummond de Andrade, e apresentações musicais e poéticas no palco livre “O Pipoqueiro da Esquina”, que utilizará o coreto da Praça Cesário Alvim como centro irradiador de atividades de artes integradas.
O público pode esperar que a Flica seja um evento duradouro, com intenção de se enraizar na comunidade e se consolidar como uma referência no calendário cultural da cidade?
A escolha do mês de junho de 2026 para a primeira edição foi estratégica, trata-se de criar condições para que o evento se integre de forma consistente às celebrações e à vida cultural de Caratinga.
Desde já, fazemos um chamamento público para empresas, patrocinadores e agentes culturais, reconhecendo que todas as pessoas e instituições culturais da cidade são fundamentais para o sucesso da Festa. Como já afirmou um grande artista, “sonho que se sonha só é só um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade”, e é exatamente nesse espírito de colaboração e participação coletiva que a Flica pretende se realizar e deixar um legado duradouro para a cidade e para a literatura.

								
								








