CARATINGA- Na zona rural de Caratinga, no coração das Matas de Minas, a Fazenda Santa Luzia é mais que um lugar onde se cultiva café. É um símbolo de resistência, visão empreendedora e transformação tecnológica no campo. Com cerca de 700 mil covas de café, a propriedade da família Fernandes, conhecida pela liderança do produtor Paulo César Fernandes, o Paulinho Maria, celebra em 2025 seus 50 anos de trajetória na cafeicultura, sendo um marco de inovação no município.
“Em outubro agora faz 50 anos que estou nessa luta aí com o café. E uma pergunta que sempre vem quando alguém chega na propriedade é quantos mil pés de café tem. E eu não tenho esse total exato, mas chutando são cerca de 700 mil covas”, conta Paulinho.
A história da Fazenda Santa Luzia começa em 1975 e, desde então, acompanha a própria evolução da cafeicultura no Brasil. Paulinho foi um dos primeiros da região a mecanizar o plantio — experiência que trouxe aprendizados valiosos.
“Eu plantei 103.600 covas mecanizadas. Depois descobri que a mecanização, com enxada rotativa, cortava as radicelas das plantas e prejudicava a produção. Aí fui obrigado a tirar a parte mecanizada, passar para o manual e construir 22 casas dentro da fazenda para ter o povo para cuidar dessa área que eu tenho”.
Depois, ele participou de feiras onde decidiu adquirir sua primeira máquina colheitadeira. Um dos grandes diferenciais da Fazenda Santa Luzia é a adoção de tecnologias de ponta em todas as etapas da produção. A propriedade possui hoje duas colheitadeiras que, juntas, conseguem colocar até 600 sacas de café por dia no terreiro, garantindo mais agilidade, qualidade e liberação rápida das lavouras para os tratos culturais.
“Com a colheitadeira, a gente libera a lavoura mais rápido, o que é essencial. A pulverização hoje é feita com pulverizadores Arbus, com 24 bicos. Quando o trator passa no carreador, o café recebe o trato adequado. O verde das minhas lavouras é escuro porque tem cuidado. Se eu não tivesse essa tecnologia, já teria parado”, afirma Paulinho.
Tradição familiar e novos negócios
A cafeicultura é uma paixão que atravessa gerações na família Fernandes. Ao lado de Paulinho, a família inteira participa ativamente da produção. O filho Moacyr Maria Pereira Ferreira Fernandes destaca o amor pelo café. “Minha mãe conta que comigo na barriga ela já rodava café nos terreiros”.
Moacyr Maria Pereira Ferreira Fernandes, e a esposa Mônica de Carvalho Fernandes criaram a marca Café Barão de Itaperuna, que leva o sabor e a história da fazenda ao consumidor final. “Esse trabalho tecnológico começou há 13 anos com a primeira colheitadeira. Hoje, com as melhorias, temos uma fazenda dentro de uma fazenda: áreas montanhosas onde conseguimos mecanizar graças à inovação. Isso mostra que o município e a região têm potencial com as novas tecnologias que estão chegando”, diz Moacyr.
A marca nasceu para valorizar a produção local e contar a história de um personagem familiar ligado à monarquia brasileira.
“O Barão de Itaperuna era um filho bastardo de Dom Pedro I e teve terras onde hoje é Santo Antônio do Manhuaçu. Criamos a marca para homenageá-lo. Estamos há 11 anos no mercado e já alcançamos estamos alcançando outros estados. Tudo começou acreditando no potencial da Fazenda Santa Luzia”, explica Mônica.
Premiações, reconhecimento e protagonismo feminino
A dedicação ao cultivo de cafés especiais já rendeu prêmios municipais e regionais. Maria Marlene Pereira Fernandes, esposa de Paulinho destaca a alegria das conquistas e incentiva outras mulheres a participarem da cadeia produtiva. “Já ganhamos três vezes o primeiro lugar no concurso municipal e ficamos em terceiro no regional no ano passado. Trabalhamos com muito amor e carinho. Isso aqui é dia a dia, é árduo, mas gratificante. Eu brinco que sou a vovó do café, mas sempre incentivo outras mulheres a concorrerem. A participação feminina é importante”, afirma Marlene.
O trabalho da Fazenda Santa Luzia foi reconhecido pela Emater-MG, que premiou a propriedade por inovação tecnológica em 2024. O extensionista Geraldo Régis destaca a importância da fazenda para o avanço da cafeicultura em Caratinga e região.
“Caratinga é hoje a 18ª cidade de Minas em área plantada com café e cresce cerca de 200 hectares por ano. A Fazenda Santa Luzia se destaca por aplicar tecnologia, conhecimento e boa gestão. Premiamos a propriedade para valorizar um trabalho que serve de modelo para outras regiões”, destaca.
Para ele, a tecnologia vai além das máquinas. “É o saber fazer. É entender o solo, o clima, o ponto ideal de colheita, é inovar e manter a tradição ao mesmo tempo. Isso agrega valor, gera renda, puxa o comércio e fortalece a economia”, completa.
Caratinga: referência na produção e na qualidade
Com o avanço tecnológico, o município tem se consolidado como polo produtor de cafés especiais. Dados da Emater indicam que Caratinga colocou mais de 10 amostras entre os 100 melhores cafés do estado em 2024 — feito que se deve, em grande parte, ao trabalho de produtores como a família Fernandes.
A Fazenda Santa Luzia mostra que é possível unir o melhor do passado com as oportunidades do presente. Com raízes profundas, visão de futuro e dedicação incansável, a propriedade segue como exemplo de que o campo pode ser moderno, sustentável e, acima de tudo, humano.
BOX:
Fazenda Santa Luzia em números:
700 mil covas de café
50 anos de tradição na cafeicultura
2 colheitadeiras em operação
600 sacas por dia na colheita automatizada
11 anos da marca Café Barão de Itaperuna
3 prêmios municipais de qualidade em café
Reconhecimento estadual em inovação tecnológica (Emater/MG)


