CARATINGA- Em meio às montanhas e trilhas da zona rural de Caratinga, no distrito de Dom Modesto, um projeto que une história, afeto, protagonismo feminino e café de qualidade. A psicóloga e produtora de café especial Rita Viana transformou a antiga propriedade rural em um espaço vivo, onde grãos colhidos por mãos femininas geram conexões, transformações sociais e valorizam a identidade da região.
Rita morava em Vila Velha (ES), onde mantinha um consultório de psicologia. Durante a pandemia, viu-se forçada a fechar o espaço e se recolher ao sítio da família, a Vila Mariana, no interior de Caratinga. “Sempre tive um desejo de fazer um trabalho com mulheres. No consultório, não importava se era uma adolescente ou uma senhora de 80 anos, a dor delas sempre rebatia na repressão social, religiosa ou cultural. Quando cheguei aqui, vi que essas dores também estavam nas mulheres rurais – e talvez ainda mais fortes”, conta.
Desse reencontro com as raízes e com a força feminina do campo nasceu o projeto Donna Menina, uma marca de café especial colhido exclusivamente por mulheres. “A missão da Donna Menina é o protagonismo feminino pelo fortalecimento comunitário. Se a gente fomenta, mesmo que minimamente, a independência dessas mulheres, isso movimenta a engrenagem social. E isso é muito importante”.
O café, além de símbolo de identidade e economia, tornou-se instrumento de transformação. A marca valoriza o trabalho das safristas, mulheres que colhem o grão com alegria e dedicação. “Elas vão para a lavoura cantando, sorridentes. É o momento delas”, diz Rita, que fez do gesto de colher café um símbolo de autonomia.
Mas o projeto vai além do grão: a cafeteria Donna Menina, já finalizada e aguardando apenas ajustes burocráticos para a abertura oficial, foi instalada na própria Vila Mariana, na zona rural de Dom Modesto. A escolha do local tem um significado profundo. “Dom Modesto tem história. Vai completar 100 anos. Tinha linha de trem, armazéns, casas centenárias. Queremos fortalecer a comunidade, resgatar o pertencimento, contar essas histórias”, explica.
Com o lema de “voltar ao simples”, a cafeteria busca oferecer uma experiência afetiva, acolhedora, conectada à natureza e à cultura local. “Café é isso: conexão, afeto. Aqui na roça, se a gente chega e não senta para tomar um cafezinho com uma broinha de fubá, é uma desfeita. E é esse o convite: viver o prazer do cotidiano.”
A iniciativa também mira no turismo rural. O espaço já está recebendo visitantes para experiências que incluem trilhas, visita à lavoura e degustações. “Caratinga não é considerada uma cidade turística, mas tem a história do café. E por que Dom Modesto não pode ser um polo? Já existe um grupo se unindo para desenvolver esse turismo e queremos que a Donna Menina seja parte disso.”
Outro valor central do projeto é a sustentabilidade. A cafeteria foi construída com materiais reaproveitados, preservando estruturas antigas e reutilizando elementos do próprio sítio. “A Vila Mariana tem esse nome em homenagem à mãe do Cláudio Leitão, uma mulher que amava a terra. E aqui, seguimos esse olhar pelo cuidado com a natureza.”
Ao final da visita da equipe de reportagem, um gesto simbólico: o plantio de uma árvore quaresmeira na propriedade. Um ato que representa o futuro que cresce com raízes profundas: o da união entre o café, a terra, as mulheres e a memória.
Destaques da Donna Menina:
Café especial colhido exclusivamente por mulheres
Nova cafeteria instalada no distrito de Dom Modesto, zona rural de Caratinga
Projeto social com moradoras da comunidade
Incentivo ao turismo rural e comunitário
Arquitetura sustentável com reaproveitamento de materiais
Ações de valorização da história local
Tradição familiar e homenagens às “donas meninas” que fazem história


