Caratinga: onde o café tem cheiro de história e suor

Caratinga respira café. Mais que uma cultura agrícola, ele é memória e matéria que molda a cidade, das manhãs perfumadas às tardes de safra, das xícaras partilhadas nas cozinhas humildes aos grãos premiados em concursos internacionais. Por aqui, o café nunca foi apenas bebida: é história herdada, economia pulsante e identidade coletiva.

Celebrar a cafeicultura neste aniversário de Caratinga é reconhecer os homens e mulheres que, desde o tempo dos cafezais coloniais até as plantações mecanizadas de hoje, deram forma ao município com suas mãos calejadas e esperança intacta. Os números impressionam, sim — são milhões de reais girando a economia, exportações em alta, superávit recorde — mas a verdadeira grandeza do café caratinguense está nas histórias como a de Lucas, jovem de 27 anos que, entre colheitas e roçadas, ergue sua casa e seus sonhos a partir da lavoura.

Há, no entanto, nesse ciclo de riqueza e esforço, um jogo antigo: quanto mais valor agregado a cada grão exportado, mais invisível se torna o peso das mãos que o apanharam. O desenvolvimento, por vezes, faz com que a renda se concentre de um lado, enquanto o outro acumula apenas o cansaço. Que as conquistas do nosso café especial sejam também partilhadas, que a modernização das lavouras não se traduza apenas em mais produção, mas em mais dignidade.

Como escreveu o filósofo Immanuel Kant, “A amizade é semelhante a um bom café; uma vez frio, não se aquece sem perder bastante do primeiro sabor”. Que Caratinga não permita que o afeto por sua gente e sua história esfrie, que a relação entre o que se planta e o que se colhe continue honesta e quente, preservando o sabor original de quem constrói a cidade de dentro para fora.

Caratinga, neste aniversário, reafirma sua vocação de cidade que planta, colhe, torra e serve. Aqui, cada xícara guarda não apenas o sabor, mas a história e o trabalho de quem soube transformar montanhas em cafezais, e cafezais em futuro.

E como bem disse o cantor e compositor maranhense João do Vale, “A vida é como um cafezinho quente na beira do fogão: amarga às vezes, doce noutras, mas sempre esquenta o coração”. Que a gente siga assim, brindando com nosso café forte e honesto, a cada amanhecer, a cada novo capítulo dessa terra que sabe, como poucas, colher o amargo e o doce da vida.

 

FELIZ ANIVERSÁRIO, CARATINGA.

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