Alta nos custos e prejuízo para produtores da Ceasa

Consumidores também são afetados pelos preços das mercadorias

DA REDAÇÃO- Além das incertezas de mercado provocadas pela pandemia, a produção agrícola tem sido prejudicada pela alta nos preços dos insumos e as dificuldades para obter fertilizantes e defensivos.

No entreposto da Ceasa de Caratinga, os produtores amargam os custos de produção. Alguns produtos estão em alta, como o tomate e outros em baixa, como pepino e pimentão.

José Paulo Botelho, produtor de Ubaporanga, destaca as dificuldades, a exemplo, a alta no preço de um herbicida. “Quem está no ramo, é porque está teimoso, resistindo. Se você for olhar, nos últimos 30 dias o que subiu a mercadoria. Se for olhar as casas agrícolas que estão vendendo, para se ter uma ideia, estão querendo cobrar hoje um litro de Roundup R$ 80, mês de abril era R$ 23, se for olhar triplicou”.

O produtor ainda analisa alguns preços de mercadorias. “O inhame está de R$ 55/R$ 60 é porque choveu não tem como, acabou a panha de café, pessoal arrancou tudo. Você vai a qualquer supermercado, sacolão, não tem nada a menos de R$ 5 o quilo. Pepino um dia desse estava R$ 40/R$ 50, hoje é R$ 10, está sobrando. Pimentão outro dia estava R$ 50, hoje é R$ 20. Já o tomate está entre R$ 100 e R$ 120. Banana da terra subiu o preço também porque está dificultando. Quiabo, segunda-feira teve R$ 120, hoje (ontem) vendemos de R$ 80”.

Diante desta situação, como relata José Paulo, muitas vezes o mercado, que recebe compradores de toda a região, acaba não tendo o movimento esperado. “Como sai um comprador lá de perto de Governador Valadares ou Coronel Fabriciano para vir aqui no mercado comprar ou Manhuaçu vir aqui, com uma picapinha ou um carro pequeno? Vai ter despesa da gasolina, de ajudante, no trajeto. Chega aqui dentro, se não tiver dinheiro, não compra, porque o pessoal vende à vista mesmo, que não tem jeito. Enquanto estiver esse governo lá não tem nada, é daqui para pior. Ele não fala nada, só fica no mimimi dele lá, temos que tirar esse homem de lá”.

José analisa também como os preços das mercadorias oscilam, conforme a oferta e a demanda. “A mercadoria que está sobrando o preço dela é baixo, a que está faltando, o preço sobe, assim que funciona. Uma caixa de jiló hoje é R$ 50, um dia desse estava de graça, jogava fora. Um saco de adubo já está R$ 200, há um ano e meio ele valia R$ 60. Mas, vamos levando. Com o salário mínimo, esses cortes que o Governo está dando em tudo, só rico que sobrevive”.

Osvaldo Silva, de São Simão do Rio Preto, distrito de Simonésia também acrescenta os prejuízos na lavoura. “A situação nossa é o seguinte, tudo caro pra gente, vamos repassando mercadoria. Está complicado, perde mercadoria, os insumos estão muito caros. Os preços estão mais ou menos, mas, a maioria da mercadoria está fraco. Tomate está em alta, couve-flor, mas, o resto está tudo baixo”.

Marcos Antônio Diniz, de Santa Bárbara do Leste relata que o alto custo da produção acaba afetando o prato do consumidor. “Está ficando muito difícil para nós produtores porque o consumidor paga caro, mas, não conseguimos repassar ainda o valor dos insumos, os adubos mais que dobraram o preço, as sementes, os inseticidas. Não conseguimos repassar essa alta em cima da mercadoria, então, fica muito complicado pra nós também e acredito que vai encarecer mais, porque a partir do momento em que o produtor diminuir a plantação, vai faltar mercadoria e na falta da mercadoria o preço vai subir mais ainda”.

Outra situação vivenciada pelos produtores, muitas vezes, é retornar com as caixas de mercadoria para as propriedades. “O diesel subiu demais, os insumos, não está tendo a mão de obra. A cada dia o lucro está sendo mais espremido, menor. Às vezes sobra muita mercadoria porque como está muito caro, os mercadinhos acabam não vendendo, onde vem a sobra”.

De Ubaporanga, Widar Ferreira explica as tentativas de compensar os prejuízos e também o porquê alguns produtos estão escassos. “Essas altas, como a verdura, estão sendo mais para o produtor recuperar um pouco do prejuízo que teve para trás, que nem o tomate teve essa alta. É geralmente porque a alta do adubo, do remédio, fez com que muitos produtores não aguentassem plantar, onde chega a faltar produto no mercado, pois, normalmente, o produtor chega num ponto de plantar, ficar devendo. Plantou, não deu preço, vendeu barato, chega num ponto de não aguentar plantar de novo, onde vem a faltar um pouco da verdura no mercado”.

Widar acredita que a questão vai além dos custos, pois, é preciso falar da valorização dos agricultores. “O Brasil pode dar graças a Deus ainda que o produtor não está parando, a roça não está parando, porque se a roça parar dificulta mais ainda para as pessoas da cidade, a população em geral. Se não tiver uma ajuda, um apoio muito forte para ajudar os produtores mais um pouquinho, vai ficar cada dia mais difícil. O produtor é o que tem menos apoio no País em geral, não paramos ainda, o que está mantendo a população é o produtor na roça. Se o produtor parar, faltar verdura no mercado, com tudo caro, vai chegar um ponto que o que vender não dá para cobrir os gastos”.