A dança que floresce na terceira idade

Ao som de Milton Nascimento, bailarina transforma passos em superação e alegria

 

CARATINGA – O palco se ilumina, os primeiros acordes de “Maria, Maria” ecoam, e ali está ela: Maria Alves Cunha, 72 anos, moldando o tempo com o corpo e a alma. A música, de Milton Nascimento, parece contar a própria trajetória de Maria — a luta, a força e a coragem de quem decidiu não se curvar à idade, mas dançar com ela.

Na terceira idade, muitos acreditam que é hora de desacelerar. Mas para Maria, foi exatamente o contrário. Aos 64 anos, ela começou no balé, e hoje, oito anos depois, o palco é seu refúgio, sua expressão e seu triunfo.

“A dança não estava na minha vida. Na verdade, eu nunca nem pensei em fazer aula. Mas eu fazia Pilates e tinha uma pessoa lá que estava fazendo balé adulto e que já estava se preparando para o festival. Ela só falava disso, e eu perguntei: ‘Mas Caratinga tem balé adulto? ’. Ela disse: ‘Sim, tem’. Respondi: ‘Então vou querer fazer’. Ela me convidou para uma aula experimental”, relembra Maria.

O que começou como curiosidade rapidamente se transformou em desafio e superação. “Na hora da coreografia, eu saí porque não sabia nada. Mas a Ju (Juliana Anselmo) me incentivou: ‘Olha para elas e faz’. Foi então que subi no palco com apenas um mês de aula”, conta. E o palco, que antes parecia intimidador, tornou-se o espaço onde Maria encontrou liberdade.

Enquanto a música preenche o espaço, Maria desliza, gira e se curva, como se falasse sem palavras. Os braços se abrem, os pés acompanham e a emoção se espalha. “A dança ajudou muito na minha saúde mental. Tive depressão, tomava muita medicação, mas com a dança praticamente zerei. Ela é mágica, porque cura”, disse.

A trajetória de Maria inclui conquistas em concursos de dança, incluindo um festival online no Rio Grande do Sul após enchentes terem destruído academias, além de prêmios em Curitiba, Rio Grande do Sul e outros eventos. Seu destaque veio com a coreografia Fé na Vida, criada pelo professor Edson Hayzer especialmente para ela, ao som de “Maria, Maria”.

Em uma coincidência que comove, esta semana Milton Nascimento, autor da canção que inspira Maria, foi diagnosticado com demência por corpos de Lewy, uma doença neurodegenerativa que afeta memória, movimento e atenção. Se por um lado a notícia traz preocupação, por outro, reforça a força da música e da arte como expressão de vida — exatamente como Maria demonstra a cada apresentação.

“Hoje o balé representa tudo na minha vida. Não me vejo sem o balé. Enquanto Deus me der saúde e força, vou continuar dançando até ficar bem velhinha”, diz Maria, com brilho nos olhos. Em breve, ela se apresentará no Festival Nacional de Dança de Curitiba, exclusivo para maiores de 40 anos, com sua coreografia premiada.

Além do balé, Maria mantém uma rotina ativa com Pilates, musculação e outros estilos de dança disponíveis na Escola Aplauso, de Caratinga. Sua mensagem para quem tem medo de se arriscar em algo novo é clara: “Nunca é tarde. O jeito, a dança te ensina. Não fique com timidez, não tenha medo de crítica. A ciência já mostrou que a dança faz bem pro corpo, para a mente, previne Alzheimer, Parkinson… Vamos dançar? ”.

E assim, ao som de Milton Nascimento, Maria Alves Cunha não apenas dança — ela inspira. Cada passo é uma vitória, cada gesto, uma lição de coragem e alegria. Entre a música, a coreografia e o esforço, Maria prova que a dança é mais do que arte: é vida.

Além do balé, Maria mantém uma rotina ativa com Pilates, musculação e outros estilos de dança disponíveis na Escola Aplauso, de Caratinga

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