“Galiano não dormiu durante a noite. Os pensamentos se atropelavam em sua mente, fazia e refazia planos de como se libertaria da favela e desbravaria todas as fronteiras do mundo”
-M.P. Garnet-
Res Cra
Acredito que todos nós temos sonhos que desejamos alcançar e torná-los reais. Muitos destes sonhos, talvez nem possam ser traduzidos exatamente em palavras, podem ser sonhos dos quais não conseguimos expressar direito, ou que nem saibamos exatamente o que queremos, simplesmente sabemos que queremos algo melhor do que a situação na qual muitas vezes nos encontramos. Queremos e almejamos algum tipo de mudança, sonhamos em alcançar algo melhor para nossas vidas, que satisfaça nossa ânsia, nossos desejos, nossas necessidades e nossa sede de sentido.
Independentemente da idade, todos nós ansiamos por um futuro melhor, uma vida melhor e, mesmo que não tenha relação direta com a idade, tais anseios, desejos, e até dúvidas, com relação ao futuro povoam a mente de muitos jovens, ainda mais quando os mesmos conseguem observar que o meio no qual vivem, e todo o seu contexto social e histórico, não contribuem para que seu futuro seja diferente de seu próprio presente, ou diferente do futuro, e presente, de seus concidadãos.
Na ânsia de ter um futuro diferente de seus iguais, no desejo de se ter uma vida melhor, muitos se perdem em pensamentos e maquinações sobre o que devem ou não devem fazer para que sua história tome um rumo diferente. Para com o personagem de nossa frase introdutória, não era diferente.
Galiano, personagem principal da fantástica obra do escritor M.P. Garnet – fantástica em todos os sentidos -, sonhava em se libertar de toda a sua realidade, de todo o seu contexto, na busca de um futuro e uma história diferente. Atualmente, a história de Galiano nos é narrada por meio de dois livros: “Res Cra”, e “A Simetria Azul”. A série será composta por três livros, de maneira que o terceiro está sendo escrito por seu autor e encerrará a história de Galiano e a trilogia da “Série dos SF”.
O universo – sim, universo – criado por M.P. Garnet é insólito, duro, cheio de perigos e uma enorme desigualdade, de maneira que Galiano teria que lutar e batalhar muito, tendo muita esperança e força de vontade para poder escapar, o mínimo que fosse, do miserável futuro que lhe esperava. Salvas as devidas proporções, a jornada escrita por M.P. Garnet, as dificuldades enfrentadas por Galiano e sua família, juntamente com seu intenso desejo de mudança, refletem a vida e as esperanças de muitas pessoas em nossa atualidade.
O trecho que introduz esse artigo, reflete uma realidade cotidiana de muitos jovens nos diversos lugares pobres do Brasil e no mundo. Essa narrativa traz à tona questões profundas sobre desigualdade, sonhos e a busca por um futuro melhor, minuciosamente orquestrada e apresenta a nós por seu magnífico autor por meio de uma “jornada do herói” esplêndida, que se dá em um universo futurista que nos arrebata para dentro de suas páginas.
Galiano representa a esperança e a determinação que sobrevivem mesmo nas circunstâncias mais adversas. Sua jornada é um testemunho da luta interna de muitos que, como ele, se recusam a aceitar as limitações impostas pelo ambiente em que vivem.
A favela, que no contexto da obra vai muito além das comunidades que conhecemos atualmente, é um local de extrema pobreza e limitações, um local de onde os mais sensatos querem fugir, e onde aqueles que já não têm mais esperança se acomodam, esperando a morte chegar, se afundando em álcool e drogas. Em Res Cra a citação de Salomão no livro de Provérbios, que diz: “Dai bebida forte aos que perecem e vinho, aos amargurados de espírito; para que bebam, e se esqueçam da sua pobreza, e de suas fadigas não se lembrem mais”, se mostra em seu mais exato sentido, e vai de encontro à realidade do pai de Galiano – assim como com a realidade de muitos em nossa atualidade, infelizmente -. Tomo liberdade nesse texto para enxergar a favela de Galiano não somente como o local onde ele vive mas, também, como um símbolo das barreiras sociais e econômicas que restringem as oportunidades de milhares de pessoas. No decorrer da história, Galiano, um sonhador, não se contenta em simplesmente sonhar; ele planeja, age e reflete continuamente sobre como transformar seu desejo de liberdade em realidade, mesmo tendo consciência de seu contexto e da realidade que lhe cerca.
A narrativa escrita por M.P. Garnet nos leva a questionar: quantos Galianos existem por aí, desperdiçados pela falta de oportunidades? A história de Galiano é uma metáfora poderosa não só para a juventude mas para todos nós que, apesar das dificuldades, continuamos a sonhar e a lutar por um futuro melhor, um dos focos principais da história narrada por Garnet. A história de Galiano nos convoca a refletir sobre nosso papel na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde os sonhos não sejam apenas sonhos, mas pontes para um futuro possível, que supere, e muito, a triste realidade atual que muitos desfrutam.