O Que os Outros Vão Pensar?

“Mas, entre mim e tu, meu caro Críton, é tão importante assim a opinião do povo?”

– Sócrates –

 

 

Platão, no seu diálogo, Críton, nos conta que, depois de decretada a sentença de Sócrates, seu amigo Críton vai visitá-lo na prisão e, de várias maneiras, tenta convencer Sócrates a fugir de seu destino. Mas, Sócrates, irredutível, não se deixa convencer, não negando sua consciência, e aceitando de bom grado o destino que lhe aguardava: a morte. Críton diz a Sócrates que as pessoas não acreditariam que ele aceitara seu destino de bom grado e decidira continuar preso por decisão própria, e que culparia seus amigos por não terem feito o possível para livrá-lo de seu destino. Então, Sócrates repreende seu amigo com a frase que introduz nossa reflexão: “Mas, entre mim e tu, meu caro Críton, é tão importante assim a opinião do povo?”

Então, Sócrates começa a mostrar a seu amigo que não se deve dar muita importância à opinião dos outros, que não se deve dar tanta importância ao que o povo diz, já que, a grande maioria das pessoas não querem verdadeiramente o nosso bem, nem o nosso amadurecimento e aperfeiçoamento pessoal. Sócrates mostra para seu amigo que são poucas as pessoas cujas opiniões realmente importam para nós. Para ilustrar isso, Sócrates usa o exemplo de um ginasta, e pergunta para Críton se um ginasta deve dar importância à opinião do povo ou a opinião de um instrutor de ginástica, ao qual Críton responde que o ginasta deveria dar importância à opinião do segundo, ou seja, do instrutor. Sócrates ainda acrescenta que, se o ginasta deixar de dar ouvidos a seu instrutor para dar ouvidos à multidão, ele sofrerá consequências ruins.

Em sua advertência a Críton, Sócrates vai além da discussão momentânea e ainda diz que “não é absolutamente com o que dirá de nós a multidão que nos devemos preocupar, mas com o que dirá a autoridade em matéria de justiça e injustiça, a única, a Verdade em si”. E, no fim do diálogo, depois de convencer Críton que a opinião da multidão a nosso respeito não é tão importante quanto a nossa opinião sobre nós mesmos, e nossa consciência limpa diante da Verdade, Sócrates encerra o diálogo dizendo que eles deveriam proceder da forma que Sócrates lhe expôs, aceitando o destino que “as leis”, injustamente, lhe impôs, independentemente do que os outros pensariam, “porque este é o caminho por onde a divindade nos guia”, diz Sócrates, e também porque ele entendia que, mesmo sendo julgado injustamente pela multidão, no fim ele repousava na Verdade.

Sócrates não abriu mão do trabalho que o oráculo lhe deu de examinar todas as coisas, mesmo que isso inflamasse a multidão, mesmo que fizesse com que a multidão quisesse o calar condenando-o à morte. Para ele, a sua consciência, e a certeza de que estava fazendo o que a “divindade” queria que ele fizesse tinha mais peso do que as vozes da multidão que não o entendiam e o julgavam. A atitude de Sócrates, e todo o seu contexto, me remetem ao apóstolo Pedro que, preso e ameaçado por falar de Jesus, disse em alto e bom som para seus acusadores: “Importa mais obedecer a Deus do que aos homens”!

Tanto Sócrates quanto Pedro, e outros grandes personagens da História, nos ensinam que trair nossa própria consciência para agradar a outros traz consigo duros arrependimentos, mas, agir de acordo com nossa consciência, fazendo aquilo que nos apraz, sem agredi-la, nos traz paz, mesmo diante da morte, como no caso de Sócrates, e de outros grandes homens.

Assim sendo, devemos ter em mente que é melhor ter a consciência limpa diante da Verdade, e diante de Deus, aceitando seus desígnios, e estando em paz com Ele e com nossa própria consciência, do que viver a nossa vida em uma eterna busca pela aprovação das multidões, dando ouvidos a opinião dos outros, ferindo a própria consciência e abrindo mão da paz de espírito, o que, infelizmente, tem sido muito comum em nosso tempo.