A religião cristã, desde os tempos apostólicos, sempre foi marcada pela transformação do homem interior. Uma fé que começa no coração, silenciosa, profunda, mas que, aos poucos, transborda para o exterior em atitudes e obras. Hoje, o que temos visto, no entanto, em grande parte do evangelicalismo atual, é uma inversão dessa ordem: o que deveria brotar de dentro tem sido substituído por um esforço incessante de mostrar algo por fora. De forma que, na maioria dos casos, a fé cristã tem se resumido a simples demonstrações exteriores, sem compromisso real com a devoção interior e com a fé que sustenta, guia e move o homem interior.
A palavra “exotérico” significa aquilo que é externo, que é voltado para o público, para a aparência visível. Seu oposto, “esotérico”, não no sentido místico que o termo ganhou em alguns meios, mas no sentido de algo interior, íntimo, guardado no coração. É neste contraste que podemos compreender a crise espiritual de nossos dias: o evangelicalismo, em muitos lugares, transformou-se em uma religião exotérica, onde as manifestações exteriores têm mais valor que a verdadeira vida interior com Deus.
O culto se tornou espetáculo, cheio de luzes, efeitos e marketing. A fé passou a ser medida em números: templos erguidos, multidões reunidas, seguidores nas redes sociais, testemunhos repetidos como slogans. A moralidade muitas vezes se resume a listas de “pode” e “não pode”, mais para demonstrar uma aparência de santidade do que para refletir uma vida transformada. A “espiritualidade” é vivida de forma pública, como se fosse uma vitrine onde cada crente precisa expor constantemente sua devoção.
Mas Jesus nos advertiu: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, orarás a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mateus 6:6). A verdadeira fé sempre foi uma questão interior, que nasce do homem novo formado pelo Espírito Santo, e não da pressão de manter aparências religiosas. O apóstolo Paulo fala do “deleite na lei de Deus, segundo o homem interior” (Romanos 7:22) e também de ser “fortalecido com poder pelo seu Espírito no homem interior” (Efésios 3:16).
Quando a religião se torna apenas exotérica/externa, o resultado é previsível: superficialidade. Pessoas que vivem de eventos, que se alimentam de emoções momentâneas, mas que não têm raízes profundas. Igrejas que se parecem fortes por fora, mas que, ao menor abalo, revelam sua fragilidade. Crentes inseguros, que precisam constantemente provar sua fé em público, mas que não encontram satisfação e nem descanso em secreto diante de Deus.
O cristianismo bíblico nunca desprezou o exterior, mas sempre deixou claro que ele deve ser fruto do interior. A árvore boa dá bons frutos (Mateus 7:17), mas não há fruto verdadeiro sem raiz. A raiz está escondida, invisível aos olhos, e é exatamente isso que sustenta a vida. Sem interioridade, o exterior é mera encenação.
Se quisermos resgatar a autenticidade da fé cristã, precisamos voltar a valorizar aquilo que é feito em secreto, longe das câmeras e dos palcos. Precisamos redescobrir a oração silenciosa, a leitura pessoal da Palavra, o cultivo do coração diante de Deus. Só então nossas obras exteriores terão consistência e verdade.
O evangelicalismo atual precisa ouvir novamente a voz de Cristo que chama para dentro, para o quarto fechado, para a vida escondida com Deus. Porque, se não recuperarmos a dimensão esotérica (interior e pessoal) da fé, corremos o risco de permanecer com uma religião de aparências: barulhenta por fora, mas vazia por dentro.










