De exótica a ‘praga’: o surto do caramujo africano

Miguel Vinicius da Costa Gomes é Biólogo, Especialista em Analista Ambiental e Pós-graduando em Desenvolvimento Regional, Saneamento e Meio Ambiente, pelo Centro Universitário de Caratinga/UNEC

De exótica a ‘praga’: o surto do caramujo africano

Miguel Vinicius da Costa Gomes

A introdução de animais exóticos em determinado ambiente é algo extremamente delicado. O manejo inadequado, a falha no controle das espécies e sua reprodução podem ser desastrosos, levando a grandes pragas agrícolas e/ou urbanas, além de desequilíbrio, competição com espécies nativa e sua importância médica.
O caramujo africano (Achatina fulica) é um molusco terrestre nativo da África Oriental. O primeiro relato de danos causados ​​por essa espécie em plantações foi registrado em 1812 na ilha de Madagascar, onde foi introduzida por um governador francês. De Madagascar se espalhou por todo o mundo. No Brasil, foi introduzido em 1988 no estado do Paraná. Em outubro de 1990, vendeu-se 100 lotes dessa espécie na feira agropecuária de Curitiba, que na época era chamada de caramujo chinês, o que não é verdade, pois os verdadeiros caramujos são duas espécies de origem europeia.
Resistência ao calor, alta taxa reprodutiva, crescimento e ganho de peso mais rápidos do que os caracóis verdadeiros foram características biológicas usadas para fortalecer sua entrada no mercado nacional. Porém, o produto não teve boa aceitação no mercado e empresas que investiram neles acabaram falindo. Com falhas de investimento, criadores foram forçados a abandonar ou liberar suas ‘criações’ no meio ambiente. Outra forma de propagação dessa espécie era o pesque-pague, onde caramujos eram usados ​​como isca. Graças ao hábito alimentar geral e seu alto potencial reprodutivo colonizou diversos ambientes e foi considerada uma das 100 piores pragas do mundo.
A introdução dessa espécie traz três problemas: a ameaça de extinção de espécies nativas de caramujos, criadouros de mosquitos do gênero Aedes sp. e um hospedeiro intermediário de parasitas humanos e de animais domésticos.
O “camarujo” está entre as 100 principais espécies invasoras do mundo. A capacidade de adaptação a diferentes ambientes e a velocidade do processo reprodutivo (50 a 600 ovos por desova, totalizando 4 desova por ano) o tornam uma ameaça à biodiversidade.
Supõe-se que o caramujo africano vem contribuindo para a perda da biodiversidade terrestre brasileira devido à competição por alimentos imposta por espécies nativas. Essa invasão já atingiu níveis alarmantes e exige ação imediata, que inclui trabalhos científicos que criem alternativas para o controle desses caramujos.
Sua importância médica ocorre, pois hospeda o verme Angiostrongylus costaricensis, causando a Angiostrongilíase abdominal, que pode levar a morte do indivíduo por perfuração intestinal, peritonite e hemorragia abdominal, além de ser o causador da Angiostrongilíase Meningoencefálica humana (meningite eosinofílica), que provoca várias complicações neurológicas (ataca o sistema nervoso), inclusive cegueira, mas raramente leva o indivíduo a morte. Também foi constatado que em sua concha após a morte do animal, a presença de águas de chuvas, no qual podem se hospedar larvas de mosquitos Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue e febre amarela.
Nos últimos tempos, muitas cidades da região da zona da mata de Minas Gerais têm sofrido um ‘surto’ dessa espécie. É notável que esse caramujo vive em ambientes mais úmidos e que precisam de períodos de calor para sua reprodução, porém alguns pontos foram observados em um trabalho de campo junto que realizei juntamente com uma equipe de vigilância sanitária: regiões onde sensação térmica é elevada nesse período do ano, foram encontrados espécies vivas, conchas e até ovos; locais que foram encontrados, eram propício a outras espécies como barata e escorpiões, porém nenhuma outra espécie foi encontrada próxima aos caramujos, competição? Pedação? Além disso, a falta de conhecimento sobre essa ‘praga’ vai com que muitas pessoas possas fazer o controle por conta própria e erroneamente, fazendo que ocorre ciclos de surgimentos de novos indivíduos.
Mas como seria fazer o controle dessa espécie?
O método mais utilizado e que traz resultados é o:
⦁ Recolhimento (catação) de indivíduos (seja ele vivo, ou somente a casca ou os ovos) com auxílio de luvas ou material de proteção. NUNCA TENHA CONTATO DIRETO com a espécie;
⦁ Os caramujos devem ser incinerados;
⦁ Os restos dos caramujos incinerados devem ser enterrados com o auxílio de cal hidratado.
NÃO JOGUE SAL: pois além de contaminar o solo, as conchas sobrarão no ambiente e se encherão de água de chuva, favorecendo a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana. Já os alimentos que entraram em contato com caramujos devem ser descartados e os demais, antes de serem consumidos, devem ser desinfetados com solução de água sanitária da seguinte forma: lavar bem o alimento em água corrente, colocar de molho por trinta minutos em uma solução de água com água sanitária (uma colher de sopa de água sanitária para cada litro de água) e lavar novamente em água corrente.
Em casa da presença desses animais em sua casa, deve-se procurar o setor de vigilância sanitária de sua cidade.

Miguel Vinicius da Costa Gomes é Biólogo, Especialista em Analista Ambiental e Pós-graduando em Desenvolvimento Regional, Saneamento e Meio Ambiente, pelo Centro Universitário de Caratinga/UNEC

Manchete do dia

Últimas Notícias