DOCUMENTÁRIOS QUE DENUNCIAM
Os documentários são um importante filão na indústria cinematográfica, que servem aos mais diferentes propósitos. Um dos mais comuns é apresentar uma história real em um formato diferente de uma reportagem jornalística, com uma narrativa que se aproxima dos filmes de ficção. Outra característica importante é mostrar ao público algo que ele até então ignorava ou sabia pouco, denunciando artimanhas escondidas, crimes que passam despercebidos e detalhes até então não explorados suficientemente pela mídia. Nos últimos anos, alguns documentários ganharam muitos prêmios por seu engajamento em fazer vir à tona fatos inacreditáveis para o espectador. Confira algum deles.
O PESO DO SILÊNCIO
EUA-Dinamarca-Indonésia-Finlândia-Noruega-Reino Unido-Israel-França-Alemanha-Holanda/2014
De Joshua Oppeinheimer
Com Adi Rukun, M.Y. Basrun, Amir Hasan, Joshua Oppenheimer
Adi Rukun é membro de uma família que sobreviveu ao genocídio ocorrido na Indonésia e confronta o homem que matou um de seus irmãos. Indicado ao Oscar de Melhor Documentário, o filme já mostra em sua primeira cena a justificativa pelo título (tanto na tradução, quanto no original, “O Olhar do Silêncio”). O indonésio Adi Rukun assiste, sempre em silêncio, com um olhar focado, um vídeo que mostra o responsável por várias mortes que ocorreram num passado sangrento na Indonésia, incluindo a morte de seu irmão. O filme passa então a mostrar a trajetória de Rukun entrevistando várias pessoas ligadas ao genocídio para tentar descobrir detalhes sobre a morte do irmão. Em cada entrevista, vemos os dois lados da moeda, vítimas e assassinos, e a desconcertante ingenuidade destes últimos, que mesmo depois de tantos anos, ainda acreditam ter feito a coisa certa em suas mentes. “O Peso do Silêncio” consegue ser um filme absurdamente revelador e chocante, que mostra dois lados de um mesmo momento histórico, em uma investigação que tem direito até a surpresas como se fosse um filme de ficção. Porém, a realidade parece ser ainda mais assustadora.
CITIZENFOUR
EUA-Alemanha-Reino Unido/2014
De Laura Poitras
Com Edward Snowden, Glenn Greenwald, William Binney, Jeremy Scahill
Um documentarista e um repórter viajam a Hong Kong para a primeira de muitas entrevistas com Edward Snowden, que denuncia a NSA, revelando um esquema de vigilância que atinge milhões de cidadãos comuns, que nada tem a ver com figuras suspeitas de terrorismo, que ameaçam a segurança nacional. O filme, vencedor do Oscar de Melhor Documentário, já começa de forma impactante. O espectador vislumbra o quanto é essencial o sigilo do encontro entre entrevistador e entrevistado. Ainda mais se for considerado que o teor da denúncia é exatamente sobre quebra de sigilo. No decorrer do documentário, acompanhamos as notícias sendo veiculadas pelos jornais, assim como a importância mundial de tal informação. E ao mesmo tempo, vemos um Snowden solitário, ciente do tamanho que sua denúncia tem, porém consciente de seus atos. “Citizenfour” é tão necessário existir e foi tão bem orquestrado que foi indicado a mais de quarenta prêmios, muitos deles nos EUA, inclusive ganhando o Oscar.
WINTER’S ON FIRE: UKRAINE’S FIGHT FOR FREEDOM
Reino Unido-Ucrânia-EUA/2015
De Evgeny Afineevsky
Com Bishop Agapit, Serhii Averchenko, Kristina Berdinskikh
Após o presidente Viktor F. Yanukovich recusar a continuar as negociações para entrada da Ucrânia na União Europeia, estudantes decidem protestar entre 2013 e 2014, porém são confrontados com violência pela polícia. Neste filme indicado ao Oscar de melhor documentário, o espectador toma conhecimentos dos detalhes que ocorreram em uma das mais fortes rebeliões da história contemporânea. A força do povo perante a intransigência do governo é o ponto forte da trama, fazendo com que o público torça pelos “personagens” que passam pela tela. A história começa situando o espectador da história política mais recente na Ucrânia e o que inicia como uma simples manifestação, ganha proporções gigantescas à medida que o governo vai impondo medidas drásticas para tentar conter a população. O que vemos é um país onde os jovens organizadores da rebelião que nasceram livres, começam a ter que obedecer a leis absurdas, que remetem a uma ditadura. Com uma fotografia impecável, que contrasta com o cenário de violência que as manifestações acabam tendo, a trama apresenta pessoas importantes nesta luta, que relatam seus medos, esperanças e indignações ao passo que continuam a protestar da forma mais pacífica possível. “Winter’s on Fire” mostra como pode ser forte o poder de reação de um povo perante as injustiças cometidas por um governo eleito pelo povo, mas que não seguiu os preceitos que se dispunha a seguir.
CARTEL LAND
EUA-México/2015
De Matthew Heineman
Com José Manuel “El Doctor” Mireles
Em uma cidade do México, Michoacán, dominada por narcotraficantes, um médico decide liderar um movimento armado, porém com pessoas civis, contra os criminosos. O filme, indicado ao Oscar de Melhor Documentário, traz à tona uma história complexa de uma cidade tomada por bandidos, que além de sua ação criminosa no tráfico de drogas, ainda intimida o povo local, com agressões violentas e cultura do medo. Neste contexto, um médico decide não assistir passivamente a esse quadro e reúne várias pessoas em prol do enfrentamento ao crime. A trama consegue imagens chocantes, de extrema violência, além de entrevistas exclusivas com produtores de metanfetamina, inclusive no local onde produzem a droga. O espectador começa então a acompanhar a formação do grupo de civis que por conta própria reúnem uma equipe e combatentes, alegando que o governo, além de não fazer nada, ainda estaria envolvido com os traficantes. “Cartel Land” é um filme denúncia muito importante para mostrar ao público até onde pode ir uma organização criminosa e como as pessoas lidam com este tipo de situação.
Warny Marçano é blogueiro do WCinema (www.wcinema.blogspot.com), composto por resenhas de filmes e notícias em geral da sétima arte.
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