WOODY ALLEN – O CINEASTA DAS COMÉDIAS DRAMÁTICAS INTELECTUAIS
Aos 80 anos, Woody Allen continua com uma impressionante marca em sua carreira: desde seu segundo filme, “Um Assaltante Bem Trapalhão” (1969), em que houve um hiato de três anos em relação à sua estreia, a produção “O Que Há, Tigresa?”, o cineasta produz 1 filme por ano, com exceção dos anos 1970, 1974, 1976 e 1981. São 53 títulos, em que o cineasta mantém suas características mais peculiares: diálogos afiados, personagens em crise de nervos à beira de um colapso, situações que desafiam a realidade para trazer mais tensão entre os protagonistas. A filmografia de Woody Allen é quase uma bipolaridade entre drama e comédia. Alguns filmes tem mais drama, outros mais comédia, mas sem dúvida os dois gêneros básicos da sétima arte estão lá.
ANOS 70: O RECONHECIMENTO
Woody Allen começou a ser reconhecido pelo filme “Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo e Tinha Medo de Perguntar”, em 1972, baseado na obra do psiquiatra David Reuben. Na trama, várias histórias que ironizam dúvidas em torno da sexualidade. Em 1977, finalmente a Academia de Hollywood reconheceu o cineasta, que pelo filme “Noivo Neurótico Noiva Nervosa” faturou 4 Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz Coadjuvante para Diane Keaton, que tornou-se a musa do cineasta naquela época. No ano em que ganhou o Oscar, Woody Allen tirou o prêmio de ninguém menos que George Lucas e seu “Star Wars: Guerra nas Estrelas”. No filme, uma comédia romântica daquelas bem peculiares de Allen, temos a história do relacionamento entre um comediante judeu e uma cantora. A atriz Diane Keaton estrelou os dois filmes seguintes, “Interiores” e “Manhattan”, em 1979, considerados por muitos críticos o melhor filme de Woody Allen de todos os tempos, mostrando a vida de um escritor divorciado interpretado por ele mesmo.
ANOS 80: A CONSAGRAÇÃO
Os anos 80 marca a mudança de Diane Keaton para Mia Farrow estrelando muito dos filmes de Allen. Além de se tornar a nova musa nos filmes, ela tornou-se esposa do cineasta em um casamento bastante conturbado e polêmico. Em “Zelig”, de 1983, o diretor prepara um falso documentário, contando a história de Leonard Zelig, sujeito que muda de aspectos físicos e emocionais em busca de sua verdadeira identidade. O filme pode ser encarado como uma crítica ao modo de vida americano. Em “A Rosa Púrpura do Cairo”, de 1985, a personagem de Mia Farrow se refugia sempre no cinema, escapando da realidade dura de seu casamento. De repente, o herói do filme que ela sempre assiste sai das telas. Este elemento fantasioso começa a se tornar presente em alguns filmes do cineasta, para estabelecer uma premissa metafórica de situações do cotidiano. Em “Hannah e suas Irmãs”, de 1986, a inspiração foi a obra “As Três Irmãs”, de Tchekhov. O painel de relacionamentos criados pelas histórias de amor da trama ajudaram o filme a faturar 3 Oscar. Em “A Era do Rádio”, de 1987, vemos várias histórias com tom biográfico de Woody Allen, durante as décadas de 30 e 40. No final da década, em 1989, o diretor roda “Crimes e Pecados”, indicado a 3 Oscar e tido como um de seus melhores filmes, onde trata de assuntos como adultério, crime, religião e moral.
ANOS 90: O DECLÍNIO
Woody Allen continua com seu ritmo frenético de um filme por ano, porém a qualidade das histórias não é mais a mesma das décadas anteriores. No entanto, o caráter inventivo de suas tramas continua a aparecer, como por exemplo em “Tiros na Broadway”, de 1994, e que mescla suas características com uma história policial. No ano seguinte, faz seu maior sucesso da década: o fantasioso “Poderosa Afrodite”, que deu o Oscar para a até então desconhecida Mira Sorvino. Em “Todos Dizem Eu Te Amo”, flerta com o musical. Continuou na comédia em “Descontruindo Harry”, talvez seu filme mais inteligente dos anos 90. Termina a década aproveitando a fama de Leonardo Di Caprio pós-Titanic em “Celebridades”, dá lugar para o protagonismo de Sean Penn em “Poucas e Boas” e volta a protagonizar dessa vez um filme policial com “Trapaceiros”.
ANOS 2000 EM DIANTE: O RETORNO AO ESTRELATO
Depois de derrapadas que pelo menos mostravam ares de retomada da fase mais áurea, como “O Escorpião de Jade” e “Dirigindo no Escuro”, Woody Allen dirige um filme, “Melinda e Melinda”, de 2004, cuja premissa é espetacular: a vida de Melinda, sob dois pontos de vista: o da comédia e o da tragédia. Justamente os dois gêneros que se equilibram nos filmes do cineasta. Infelizmente a premissa era bem melhor que o resultado. Em 2005 que veio a total recuperação: o excelente “Match Point: Ponto Final”, que conta a história de um professor de tênis ambicioso que vê a oportunidade de crescer na vida casando-se com uma mulher rica. O filme marca uma nova musa: a atriz Scarlet Johansson, que estrela os próximos filmes do cineasta, como “Scoop: O Grande Furo” e “Vicky Cristina Barcelona”, este último grande sucesso por mostrar um triângulo amoroso em uma cidade tão longe da Nova York retratada na maioria de seus filmes. Em 2011, roda seu filme mais famoso dos anos 2000, “Meia-Noite em Paris”, com o ator Owen Wilson praticamente fazendo um tipo similar ao que Woody Allen costuma fazer quando protagoniza seus filmes. A trama venceu o Oscar de Melhor Roteiro Original e mostra todo o amor que o personagem principal tem por Paris dos anos 20. Continuando sua saga para homenagear outras cidades, “Para Roma com Amor” resgata a figura simbólica de Roberto Benigni, criador de “A Vida é Bela”. “Blue Jasmine”, de 2013, deu o Oscar de Melhor Atriz para Cate Blanchett. Seus 3 filmes mais recentes, “Magia ao Luar”, de 2014, “O Homem Irracional”, de 2015, e “Café Society”, de 2016, no entanto, retornaram para uma avaliação mediana que lembra o começo dos anos 2000. De qualquer forma, sempre podemos esperar mais uma obra prima dessa lenda do cinema americano.
Warny Marçano é blogueiro do WCinema (www.wcinema.blogspot.com), composto por resenhas de filmes e notícias em geral da sétima arte.
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