Não me lembro de nenhum detalhe sobre ter sido uma criança doente. Mas quando comecei a ter consciência de mim mesmo, o jeito de ser tratado pelos meus familiares demonstrava que eu já tivera passado por tempos de saúde precária, e me disseram que certa vez eu até tinha morrido, mas voltei graças a um mergulho que me deram numa bacia de água…
Pode ser que estas passagens de minha infância das quais não me lembro me influenciaram a desenvolver uma sensibilidade extra em relação ao sofrimento de pessoas ao meu redor. Fato é que o desejo (não-realizado) de me tornar um médico tinha algo a ver com isso.
O sofrimento é algo que cada um de nós tem de enfrentar, de uma ou outra forma – pessoalmente, ou na experiência com pessoas a nossa volta.
No meu ministério pastoral sempre estive muito consciente que o sofrimento, a doença ou outras situações humanas de privação (ser um estrangeiro, ser tímido, sofrer discriminação, ter um handicap físico ou mental, etc.) – podem ser uma ponte para muitas coisas, inclusive para coisas boas, que nos edificam e nos alegram.
Lembro-me hoje um casal que conhecemos nos EUA – Tina e Georg, imigrantes alemães, ambos comissários de bordo na Delta, nos voos Europa-EUA e vice-versa, até suas aposentadorias.
Ela, muito jovial, e muito bem disposta – e de boa aparência, creio que até encantadora nos anos de maior juventude. Ele, mais calado, mas companheiro fiel, e dividindo sua vida com a Tina, além do trabalho de horas longas, e que deixava a ambos com uma vida de pouca regularidade.
Nós tínhamos iniciado naquela cidade americana um trabalho na língua alemã, e um dia eles vieram a uma de nossas reuniões. A partir do primeiro encontro, houve muita empatia comigo e minha esposa, e logo nos tornamos amigos.
Foi aí que iniciou – dentro de sua jornada como imigrantes, sempre na busca por aceitação – a sua caminhada no sofrimento físico. Georg ficou doente, e logo foi descoberto um câncer avançado dos pulmões. O tratamento, graças às coberturas médicas que tinham, pode ser feito nas melhores clínicas, e havia dias que pensávamos que ele conseguiria superar este obstáculo à continuidade de sua vida.
Mas, o oposto aconteceu. As dificuldades aumentaram, e até foi internado numa clínica especial, onde também se encontravam pacientes terminais.
Como seus pastores, estávamos sempre ao lados dos dois, e um desejo meio engraçado foi revelado: queriam que eu fizesse a cerimônia do casamento, para a qual nunca tinham tido tempo, e que agora – mesmo com pouco futuro pela frente – eles queriam realizar.
Fizemos a cerimônia, o que lhes propiciou muito ânimo – mas o fim do marido recém-casado estava próximo. E assim foi: não muito tempo depois ele partiu em paz…
Pensávamos que agora Tina, que tinha sofrido todo esse tempo ao lado do marido, poderia desfrutar de uma vida mais normal.
Isso durou pouco tempo, pois suas dificuldades foram surgindo, e logo o mesmo câncer foi diagnosticado nela também.
Não demorou muito, e Tina teve de ir ao hospital, e a doença em seu estágio avançado logo se revelou cruel e irreconciliável.
O filho, Steve, do qual já nos tínhamos aproximado bastante, precisou do nosso amparo direto. Ao sofrimento dos pais, que ainda pesava sobre seus ombros, uma nova carga foi adicionada: estar sozinho no mundo, não ter ninguém – a não ser a comunidade de fé!
Estivemos bastante unidos por um bom tempo, e aí ele foi pelo seu próprio caminho, e nós também, pelo nosso, de volta ao Brasil.
Sei que sofrer, em si, sempre é algo ruim. Mas, sofrer sozinho, é muito pior.
A religião, e a teologia sempre estão a postos para nos levar um passo além em nossa sina, principalmente, de sofrimento. Como é bom quando temos pessoas que se importam por nós em tempos assim, e quando o que passamos nos leva a ir adiante, descobrindo verdadeiras amizades, e conhecendo mais a fundo, a razão de nossa vida.
Desejo a você o melhor possível nesta vida, mesmo que você esteja passando por lutas e dificuldades. Não desista. Cultive amizades. Valorize aqueles que estão a sua volta. Sempre é tempo para achar um bom amigo!
Rev. Rudi Kruger – Diretor Faculdade Uriel de Almeida Leitão
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