*Paula Ribeiro de Souza
Nos dias atuais, de tanta correria, tantas facilidades tecnológicas, tantas informações sobre tudo e todos…é complicado ser simples!
Acompanhando sempre em tempo real tudo o que as “outras pessoas” fazem; e são tantas as coisas: viagens…postagens, trabalho…postagens, musculação…postagens, amigos e amores…postagens, comida e encontros…postagens, postagens…
Frente à imagem de pessoas tão proativas, não é nada fácil se permitir ser menos produtivo ou realizar coisas que sejam assim “tão simples”. Bate aquela vontade às vezes de chegar em casa, depois de um dia inteiro de trabalho, se recostar em seu sofá e descansar, respirar fundo, ouvir seu próprio silencio e se deliciar. Mas, ops!? Eu não tenho tempo a perder, preciso de algo relativamente interessante para viver e “postar”.
É tanto tempo perdido vasculhando as redes sociais daquela pessoa que você tem saudades ou que simplesmente quer saber o que anda fazendo. Tempo perdido vendo anúncios e promoções de coisas que você nem pensa em comprar, curtindo ou seguindo celebridades e youtubers pelos quais você nem tem tanto interesse assim, só pra acompanhar a modinha das redes sociais e da vida tecnológica.
São tantas informações, e a maioria delas não agrega, não contribui, não satisfaz. Na verdade, quanto mais se vê dessa competitiva vida de redes sociais, mais conflitos interiores nascem. E os sentimentos estão cada vez mais conturbados, as relações cada vez mais difíceis e o dia a dia cada vez mais exaustivo pelo excesso de informações desnecessárias.
Não é difícil ouvir alguns comentários, após as olhadas nas redes sociais como:
“Por que ela postou isso?”
“O que ele quis dizer com aquilo?”
“Não entendo como ela tem coragem de postar isso!”
“Nossa, como a gente se surpreende com as pessoas!”
As redes sociais e a tecnologia, que tinham o objetivo de tornar mais simples as relações, acabam por complicá-las ainda mais, tornando-se, na verdade, “redes antissociais”. E tá difícil descomplicar!
Lembro-me com saudades de quando tudo era bem mais simples. Sentíamos falta de alguém? Apressávamo-nos em ir visitar. Quando batia aquela vontade de papear, qualquer lugar era lugar e desse encontro longas horas de bate-papo descontraído e de deliciosas gargalhadas.
Não era preciso tentar decifrar os amigos e conhecidos através de postagens, pois podíamos olhar nos olhos e ver bem de perto quem eram eles. Mas hoje, em um mundo tão tecnológico e complexo, é complicado ser simples!
Por que precisamos de ferramentas tecnológicas que compliquem as nossas relações e emoções? A vida não é uma arte tão difícil assim, somos nós que acabamos por complicá-la.
Diante da saudades desse tempo, nem tão distante, resta-nos ainda a chance de rever nossas reais necessidades, reconsiderar, deixar de exigir tanto de nós mesmos ou dos outros e voltar a experimentar viver os momentos e as sensações da vida apenas pelo prazer de viver e desfrutar, sem a obrigatoriedade de viver para postar.
Paula Ribeiro de Souza
Professora do Centro Universitário de Caratinga–UNEC, Bacharel em Farmácia e licenciada em Ciências Biológicas. Especialista em Farmacologia Clínica e Atenção Farmacêutica, Especialista em Saúde e Meio Ambiente, Mestre em Ciências das Religiões. Coordenadora Geral de Pós-Graduação “Lato Sensu” do UNEC. Membro/Coordenadora do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos CEP/UNEC. Mais informações sobre a autora: http://lattes.cnpq.br/7388110053928047