Ildecir A.Lessa
Advogado
Existe um famoso aforismo de Pedro de Blois, exatamente três séculos antes de as “Noventa e cinco teses” de Lutero sacudirem a Europa, onde concluiu que, a historiografia da Reforma é uma “janela para o Ocidente, um ponto de acesso importante ao desenvolvimento da mente ocidental dos últimos cinco séculos…de modo incontestável, a Reforma mostrou-se um gigante dentre os movimentos internacionais dos tempos modernos”. Apoiados nos ombros da Reforma, consegue-se olhar com mais profundidade para ambas as direções: pode-se sondar tanto o mundo medieval, quanto o contemporâneo.
No Século XVI, andando na linha do tempo, durante a passagem do mundo medieval para a Idade Moderna, o conjunto de transformações nas relações de poder é de importante destaque para a compreensão da chamada Reforma Protestante. Ou seja, a Reforma Protestante pode ser interpretada como uma expressão das contradições da passagem do feudalismo para o capitalismo. Em toda Idade Média, o grau de intervenção da Igreja era de grande abrangência. O grande número de terras em posse da Igreja concedia uma forte influência sobre as questões políticas e econômicas das monarquias e reinos da época. Além disso, as novas atividades vinculadas à burguesia, principalmente no que se refere à prática da usura (cobrança de juros sobre empréstimo), eram consideradas de natureza pecaminosa.
Sob outro aspecto, a grande prosperidade material da Igreja veio acompanhada de uma verdadeira crise de valores e princípios. O comércio de relíquias sagradas, a venda de títulos eclesiásticos e indulgências eram algumas das negociatas praticadas pelos representantes do clero. Além disso, várias denúncias sobre a quebra do celibato e a existência de prostíbulos para clérigos questionavam a hegemonia da Igreja. No Renascimento, as críticas à Igreja se manifestavam em diversos meios. As obras de Erasmo de Roterdã, Thomas Morus, John Wyclif e João Huss continham severas críticas aos problemas anteriormente apontados. Dessa forma, aconteceu a Reforma Protestante, no Século XVI, na Alemanha, quando o frade franciscano agostiniano Martinho Lutero afixou as 95 teses nas portas da igreja do castelo de Wittenberg. Era o dia 31 de outubro de 1517, véspera do dia de “todos os santos”, quando milhares de peregrinos afluíam para Wittenberg para comemoração do feriado do “dia de todos os santos e finados” 01 e 02 de novembro. Era costume pregar nos lugares públicos os avisos e comunicados. Lutero aproveitou a oportunidade e, através de suas teses, combatia as indulgências que eram vendidas por João Tetzel com a falsa promessa de muitos benefícios. Ele dizia que, se alguém comprasse uma indulgência para um parente falecido “no momento em que a moeda tocasse no fundo do cofre a alma saltava do inferno e ia direto para o céu”.“ O justo viverá da fé”, o texto da Bíblia de Romanos 1:7, foi fundamental para que surgisse a Reforma Protestante no Século XVI.
Quando Martinho Lutero leu essa passagem das Escrituras, foi convencido de que nossa justificação não se dá através das boas obras, mas sim da fé. Inicialmente, `Reforma Protestante` foi apresentada como um termo pejorativo, mas esse termo foi assimilado e usado a partir do Século XVI até nossos dias para designar os grandes fatos vividos pelos que desejavam pautar sua vida religiosa segundo a Bíblia. A Reforma foi um movimento de retorno aos padrões bíblicos do Novo Testamento, destacados assim: 1º – SUPREMACIA DA FÉ SOBRE AS OBRAS; – EFÉSIOS 2:8-9 . O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ.2º – O SACERDÓCIO UNIVERSAL DO CRENTE – I PEDRO 2:5 e 9.3º. JESUS CRISTO, O ÚNICO MEDIADOR – I TIMÓTEO 2:5.4º – O LIVRE EXAME DAS ESCRITURAS – JOÃO 5:39. A SUPREMACIA DA BÍBLIA SOBRE A TRADIÇÃO – MATEUS 15:1-10.
Na linha do tempo histórico, observa-se assim, esse novo renascimento da fé no Século XXI, trazendo novas esperanças ao mundo contemporâneo, mormente no Brasil, onde o brado nacional foi de Deus acima de todos, formando um marco de que, a mensagem trazida por Lutero no dia 31 de outubro de 1517, ainda está viva.