DA REDAÇÃO – Sob a referência do título principal “A Cidade dos Médicos”, como uma pequena cidade, emancipada em 1996, com menos de dez mil habitantes se tornou uma das maiores exportadoras de médicos para o Vale do Aço? Esta é uma pergunta que muitos se fazem até hoje. O assunto até já rendeu reportagem, uma delas veiculada na Revista Atitude, em 2011, colocando Vargem Alegre como referência nesta área e gerando dados estatísticos que também levantou interesse de pauta pelo Globo Repórter. Agora o município, que já foi vinculado como distrito de Caratinga, se prepara para prestar homenagem ao seu primeiro médico formado, que passou a atuar na cidade e fora dela: Reginaldo Machado de Matos.
Tanto o município – que irá erguer um busto com a imagem do médico-filho-da-terra na praça central -, quanto o Centro Universitário de Caratinga, através de seu Centro de Assistência à Saúde/UNEC (CASU), vão homenagear o médico em virtude dele ter sido o primeiro profissional de uma cidade reconhecida como “fábrica de médicos” devido à grande proporção de médicos em relação ao número de habitantes.
Nesta quarta-feira, 29 de junho, o reitor do UNEC, professor Antônio Fonseca da Silva, autorizou a confecção de uma placa comemorativa para também ser entregue ao médico durante a solenidade que irá acontecer no próximo dia 9 de julho em praça pública, e que já mobiliza o município, profissionais de saúde, médicos e estudantes de Medicina de toda a região.
Quem primeiro percebeu a vocação profissional de Vargem Alegre “na fabricação de médicos” foi o padre José do Carmo Lima, então pároco local.
“Sempre observei de longe o interesse dos pais da cidade na educação dos filhos. Sebastião Machado Filho foi o primeiro jovem a completar um curso superior na cidade, formado em Farmácia. Hoje, por toda a parte da cidade, há um médico, quase um a cada duas casas”, disse o padre à revista, durante uma entrevista que concedeu logo ao lançar um livro e comentar o assunto no discorrer da obra.
Neto de Sebastião Machado dos Reis, mais conhecido como “Capitão Inhoti”, que, inclusive, empresta seu nome para uma escola da cidade, Dr. Reginaldo viu no avô uma fonte de inspiração. À época em que a cidade ainda não contava com médicos e tampouco farmácias, e era constantemente inundada pelo “Ribeirão do Boi”, Inhoti já se interessava por assuntos médicos por meio de atividades curativas. Parece que, mal sabia ele, seu interesse seria fator importante para a vocação do neto e para de outros moradores da cidade, que mais tarde viriam a se interessar pela carreira.
Segundo a reportagem, Inhoti foi responsável por curar várias pessoas com malária na região, gente acometida de febres altíssimas, que geralmente morriam. Ele costumava manipular fórmulas de remédios e comprava outros de laboratórios, tendo sido proprietário da primeira farmacinha do distrito; sua esposa era a parteira oficial da localidade.
“Dr. Reginaldo foi o primeiro a se aventurar pelo campo da medicina, desbravando o caminho para muitos outros. Ele foi a inspiração para os médicos da cidade, direta ou indiretamente”, lembrou Maria da Conceição, contemporânea do médico.
Hoje Dr. Reginaldo é lembrado por mais de 20 mil partos, tendo, inclusive ajudado a formar outros médicos, como o irmão, sem condições de estudar naquela época.
“Ele foi morar comigo em Uberaba, onde estudei e me formei, formando-se médico. Fizemos um pacto: cada irmão que se graduava firmava o compromisso de ajudar nos estudos do irmão mais novo”, recordou-se na entrevista.
Deste pacto, vieram onze irmãos formados, não só em Medicina. “Todos estudaram, como se um ‘adotasse’ o estudo do outro e no total, três viraram médicos”.
Famoso por trabalhar muito e dar plantão no Vale do Aço, saindo a partir das cinco horas da manhã de Vargem Alegre rumo à vizinha cidade, Dr. Reginaldo acumula “causos” interessantes. “Em certo plantão era ele e os médicos que estavam atendendo também todos de Vargem Alegre”, conta Marlise Silveira, natural de Vargem Alegre e hoje assessora da Reitoria no UNEC.
Dr. Reginaldo trabalhou até 2010 no Hospital e Maternidade Vital Brazil, em Timóteo. À época em que Vargem Alegre ganhou notoriedade a partir do interesse da imprensa pelo assunto, das quatro UTI´s – Unidades de Terapia Intensiva -, instaladas na Região Metropolitana do Vale do Aço, duas eram dirigidas por cidadãos vargem-alegrenses, curiosamente primos: Dr. Reginaldo na UTI do Hospital Márcio Cunha e Rogério Silveira Machado, no Hospital e Maternidade Vital Brazil.
Pelas estatísticas divulgadas naquela época, de médicos vargem-alegrenses, vinte atuavam no Vital Brazil, mais dez no Márcio Cunha e outros dez no Hospital Municipal de Ipatinga. Definitivamente, uma cidade que “fabrica médicos”.