Dona Nilce comemora 88 anos de vida e de muita história
UBAPORANGA – A família Marques em Ubaporanga é muito tradicional e tem pelo menos 300 anos de história. Na época o local era conhecido como São Domingos de Ubá, e pertencia a Manhuaçu, assim como Caratinga.
São muitas pessoas que fizeram a diferença no município nos últimos três séculos de uma só família, e de forma especial, vamos falar um pouco da vida da senhora Nilce de Araújo Marques, que completou 88 nessa última quinta-feira (14).
De descendência portuguesa, a família Araújo Marques está na mesma fazenda que fica na avenida Marques Pereira desde o século XVIII.
Quando a reportagem chegou à casa da senhora Nilce, eram 9h, e ela havia acabado de almoçar. Desde muito nova mantém a tradição familiar de acordar cedo para cuidar dos afazeres.
Com uma memória invejável, Nilce começa então a contar sua história com riqueza de detalhes.
ORIGEM PORTUGUESA
O casal Adriano Pedro Marques e Gracinda de Araújo Marques, tiveram nove filhos. Três irmãs de Dona Nilce já faleceram, e ela ainda tem mais cinco irmãos.
“A minha bisavó era escrava, ela veio da região de Ponte Nova, veio para cá, e aí começou a família. Meus pais, Adriano Pedro Marques e Gracinda de Araújo Marques nasceram aqui em Ubaporanga, todos dois filhos de portugueses. Desce casamento foram nove filhos, hoje somos seis, éramos quatro mulheres, agora está sobrando eu e cinco irmãos, sendo que dois moram aqui na fazenda”.
ESTUDOS E PROFISSÃO
Aposentada como professora, a senhora Nilce disse que sua infância foi muito boa, mas não tinha escola em Ubaporanga. “Fui para o internato em Caratinga, no Instituto Auxiliadora, com sete anos, fiquei por dois anos, de 1942 até 1943. Depois criaram a escola estadual em Dom Cavati e vim pra cá. Para ser professora estudei no colégio Nossa Senhora do Carmo, também em Caratinga, e dava aula para o primário. Me formei em 1956, aos 22 anos, e em 1957 comecei a trabalhar na mesma escola onde estudei. Trabalhei na escola Dom Cavati, em Ubaporanga, de 1957 até 1987, 30 anos exatinhos”, conta com orgulho.
Ser professora naqueles anos, segundo dona Nilce não era fácil, em Ubaporanga, por conta da estrutura da escola, mas mesmo assim eram muito melhor que hoje, em sua opinião. “A escola tinha somente quatro salas de aula, não tinha muro, era tudo aberto, mas depois foi melhorando. Gostava muito de trabalhar com meus meninos, conhecer as famílias, era muito bom. Os meus alunos me respeitavam demais, tenho aluno que me reconhece até hoje. Era muito diferente da escola de hoje, se fosse para trabalhar hoje não queria”, afirmou com muita certeza.
SOLTEIRA
De uma família grande, dona Nilce nunca quis se casar, e para ela ser solteira nunca foi problema. Ela acredita que tenha puxado a família portuguesa de sua mãe, onde muitas pessoas era solteiras. “Nunca pensei em casamento, não nasci para isso, não tinha vocação para o casamento.
TRABALHO MANUAL
Depois de aposentada como professora, dona Nilce não deixou de trabalhar, mas passou a se dedicar ao ramos de flores de tecidos. “Comecei a fazer flores, e eram muitas encomendas, as mulheres quando iam para festas compravam para colocarem em seus vestidos, era a moda”.
ROTINA E CONSELHO PARA A VIDA
Comemorando 88 anos hoje, dona Nilce atualmente leva uma vida mais tranquila, não perdeu o costume de acordar 5h, e sempre está atendendo a freguesia que todos os dias vão cedo até a fazenda comprar o leite quase 100% sem lactose, das vacas da raça zebuína. Às 9h, tem o almoço e dona Nilce não tem o costume de jantar, mas durante todo o dia a mesa de café fica posta com bolos, biscoitos, queijos, manteigas, tudo feito na fazenda.
E para as pessoas que desejam ter vida longa e feliz, o conselho de dona Nilce é: “saber tratar as pessoas, o ser humano é muito importante. Também nunca fumei e nunca bebi, minha mãe não aceitava, isso ajuda”.
- Licoreira século XIX, no lugar do café se oferecia licor
- Dona Nilce, quando jovem (Foto: Arquivo)
- Flores feitas por Dona Nilce logo depois de sua aposentadoria como professora para que as mulheres colocassem em seus vestidos
- Jarra de leite e café também do século XIX, o leite era colocado de um lado na parte de cima e o café do outro, na hora de servir saía misturado, original da França
- Antiga mamadeira em vidro do século XIX, pai usou quando nasceu e também no final da vida
- Terrina de origem inglesa, mas que se tornou uma peça portuguesa
- Dona Nilce completou nessa quinta-feira (14), 88 anos