Depois de várias colunas sobre assuntos importantes, queria hoje refletir um pouco sobre a atitude que seria mais aconselhável ou, que nossas tradições aconselham em situações de mudanças (de governo, por exemplo), e nas quais muita gente acaba sendo discriminada, seja abertamente, ou de forma velada e oculta.
Preciso esclarecer um pouco: quando escrevo “gente sendo discriminada”, estou me referindo a políticas (que são sempre baseadas em atitudes pessoais ou coletivas) que geram a desigualdade social, e de uma forma muito sagaz e cruel, isentam os principais responsáveis – (caso clássico, na atualidade, as empresas e indivíduos que investem nas Bolsas de Valores). Isso sempre foi assim na história da humanidade, e continua sendo em nossos dias – mesmo nos dias dos nossos melhores governantes.
Na nossa maior tradição, que tem sido cultivada desde a ‘fundação’ de nossa pátria, e que tem alegado ter a Bíblia como base para ações, reações e omissões, encontramos um trecho – melhor, um versículo, que jorra luz extraordinária (extraído do livro do profeta Miquéias, capítulo 6.8):
“Faça justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com o teu Deus”.
São três os lados da atitude aí aconselhada:
- Ser coerente
- Ser genuíno
- Considerar os três tempos: presente, passado e futuro. (Principalmente este último, que sofrerá ou se beneficiará de nossas decisões no hoje).
No primeiro, ser justo ou praticar justiça não é nada mais do que seguir a lei áurea “Tudo o que vocês querem que os homens/mulheres façam para vocês, façam vocês primeiro.” Na filosofia essa é a chamada regra áurea, e – quando aplicada – funciona muito bem, produzindo uma sociedade na qual não há necessitados. É o que aconteceu na primeira comunidade messiânico-cristã de Jerusalém no primeiro século de nossa era.
Toda vez que eu (ou o grupo ao qual pertenço, seja nação, empresa ou empreendimento, grupo religioso, sociedade local, clubes, círculo de amigos, famílias) me considero mais ou melhor, mais merecedor ou com mais direitos que o outro (ou outros), estou na verdade quebrando a regra áurea, e discriminando pessoas. Em outras palavras, o equilíbrio social é afetado, e um grupo ou camada ficará fora do “cobertor” de proteção e ajuda.
Por isso, COERÊNCIA ou vida coerente, ou vida justa, atinge todas as áreas de nosso envolvimento e influência – e é isso que é esperado e aconselhado pelo nosso livro sagrado.
No segundo aspecto, temos a questão de “amar a misericórdia”.
O que é misericórdia? Não, não é ter pena (ou “peninha”) de alguém, principalmente se for humano, mas – graças a Deus, o Espírito Santo iluminador – atualmente chegamos à consciência (finalmente!) que também os reinos animal e vegetal CARECEM DE NOSSA MISERICÓRDIA.
A raiz dessa palavra ‘miseri-cór-dia’ é “COR”, que em Latim, significa “coração”!
O coração – segundo nossa tradição bíblica – é o centro de nossas emoções bem como das decisões: é a cabine de comando de nossa vida.
Contudo, isso é muito importante: Existe justiça cruel!
De acordo com os ensinos que recebemos desde nossa infância, tal justiça não é verdadeira – falta o lado da misericórdia, o sentir a necessidade do outro, de estender perdão assim como cada um de nós carece e recebe PERDÃO a cada novo dia! Isso que é ser GENUÍNO, ser verdadeiro, ser verdadeiramente HUMANO.
Por fim, o terceiro aspecto: “ande humildemente com o teu Deus”.
Justiça verdadeira, plena de misericórdia, não é exceção à regra – é o caminhar de cada dia!
Será que é possível? – sempre será nossa pergunta sincera, conhecendo e reconhecendo nossas mil limitações.
Por isso entra na nossa conversa o “teu Deus”: Não o deus que me endeusa, que provavelmente eu mesmo criei e que está mais atento que uma cobra felina para dar um bote, tentando se defender atacando. (Muitas vezes, sem percebermos!)
Nossa vida é um andar.
Os próximos 4 anos de governo serão um ANDAR COTIDIANO.
Que nossos governantes “andem humildemente” com o Deus verdadeiro, que nos ajuda a desembrulhar as mentiras e enganos que impedem que cuidemos do nosso irmão.
Aí está: essa também deve ser nossa atitude diária, em nosso lar, em nosso trabalho, e em tudo no qual nos envolvermos.
Assim, “a justiça correrá como um rio”, e a viúva, o órfão, o desfavorecido, o negligenciado, o refugiado – enfim, o pobre receberá o cuidado, apoio e proteção que merece, por ser um ser humano igual a cada um de nós!
Somos todos cidadãos, não importam os números na minha conta bancária, ou a casa que acabei de construír!
(As crônicas têm um podcast. Se você enviar seu e-mail, terei muito prazer em enviá-lo para você. Até – talvez você conheça alguém que não gosta de ler, mas gostaria de ouvir…)
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – UniDoctum E-mails: [email protected] ou [email protected]