ASBJ, muito mais do que um clube de futebol
BOM JESUS DO GALHO – “O que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol” disse certa vez o escritor franco-argelino Albert Camus. Essa frase serve bem para ilustrar o torcedor da Associação Sportiva Bom Jesus, que completa 90 de fundação neste sábado (17). O torcedor da ASBJ não é um torcedor qualquer, pois acima de tudo este torcedor quer lisura por parte dos atletas que vestem o manto tricolor. Afinal não basta ganhar de qualquer jeito, tem ganhar com classe.
Essa história começou a ser oficialmente contada em 17 de julho de 1931. Embora o clube já existisse desde 1929, foi oficializado em 1931. De acordo com o livro “Bom Jesus do Galho – Nossa Terra, Nossa Gente” (2017), na página 131, escrito por Anacleto Justino de Gusmão e Francisco José da Silva; a Associação teve Mauro Lobo Martins como seu primeiro presidente. José Lucas Batista era o vice-presidente e Bady Abrão o primeiro treinador. Mas vale ressaltar que tantas outras pessoas contribuíram para a fundação do clube. Houve o empenho de toda sociedade. Nomes como os de Mário Tristão, Nhonhô Sapateiro, Família Mafra, Dona Mene, Dona Stella, Major João Gualberto devem ser reverenciados.
As cores verde, branco e grená foram inspiradas no uniforme do Fluminense, afinal Mauro Lobo era torcedor ferrenho da equipe carioca. Com o tempo, o seu sobrenome ‘Lobo’ passou a integrar o time com a escolha de seu mascote.
Para o reconhecimento de Bom Jesus do Galho, o futebol teve extrema importância. As pessoas passaram a associar o, então, distrito de Caratinga, pois a emancipação ocorreu em 31 de dezembro de 1943, ao Jubileu do Senhor Bom Jesus e a ASBJ. A fama do time cresceu e os convites para jogos em outras localidades eram constantes. Viagens de trem, um verdadeira epopeia, mas que serviu para expandir as fronteiras de Bom Jesus do Galho.
Os anos se passaram e a fama do time cresceu. Títulos vieram. Em relação ao campeonato regional da Liga Caratinguense de Despostos (LCD), o primeiro foi em 1974. Depois vieram 1977, 2010, 2011 e 2013. Vale ressaltar quem em 1981 foi promovido um campeonato onde vários clubes da região participaram, inclusive as equipes dos distritos se reforçaram com jogadores do Vale do Aço. As cifras que esses clubes pagavam beirava ao absurdo que muitos destes jogadores recusaram convites do Democrata-GV e Valeriodoce e optaram disputar esse torneio. A ASBJ venceu numa partida épica contra o Cruzeirinho do Quartel do Sacramento, cujo o elenco só tinha o goleiro que era do lugar, o restante eram jogadores de times como Florestino e Acesita. Gol de pênalti do saudoso Carlinhos.
Hoje o clube é presidido por Fabrício Tristão, que foi treinador e campeão pela ASBJ. Ele assim define o seu sentimento: “Pra mim é a maior honra da minha vida é ser ASBJ, ter tido a chance de ser campeão como treinador e presidente não tem preço. E ainda poder ter conseguido isso ao lado do meu irmão e amigo Sergio Andrey. Isso vai ficar pra sempre nas minhas lembranças. Queria dedicar o dia de hoje a todos os atletas e torcedores que um dia representaram a camisa do lobo bonjesuense”.
Fabrício avisa que o estádio Mário Tristão passou por reformas e está pronto para receber novas páginas heroicas e imortais. “Ser sempre o palco de um lugar que pulsa”.
Mas falar sobre uma instituição quase centenária é difícil, pois cometeríamos o erro de deixar muitos pessoas importantes nessa história de fora. Mas para cintar alguns, lembremos de Pingo, que dizem que era tão bom quanto Pepé, ponta-esquerda do Santos; a elegância de seu Juquita e seu Ene Goulart, os voos de Zé Marrequinho, os diretores Bené Abrão e João Gonzaga, a ajuda do poder público com os ex-prefeitos Jofre Batista, Anacleto e Jadir. Acrescentamos torcedores icônicos como Zé André, Tio Valim, Antônio Paletó, Zé Meira, Zé Calhambeque e Mundico, o vendedor de frutas, que tinha um olho em sua banca e outro na partida. Claro tem ainda o Josmar, que pode ser visto em todos os jogos, logo na entrada do estádio, sempre se apoiando em sua bicicleta.
ASBJ é muito mais do que um clube de futebol, pois representa o amor de um povo por sua terra. É a personificação de ser bonjesuense. É um ‘casamento’, seja na tristeza ou na alegria, na riqueza ou na pobreza. Para os torcedores da ASBJ, clubes como Fluminense, São Paulo ou Grêmio são times de três cores, mas tricolor mesmo somente é a ASBJ. A camisa onde o branco, verde e grená se integram e apontam para um horizonte de vitórias.
Então neste 17 de julho, uma salva de palmas para Heitor e Hamilton Mafra, Pingo, Jorge do João Belo, Alberto Moisés, Onofre Medeiros, Cajuca, Cassimirinho, Juninho Tristão, Juninho Pelota, Zé Horta Valadares, Kdaner, Maranhão, Tutuca, Gerino, Tadeu, Kyle Batista, Juquita Alves, Mário Tristão, Zé Marrequinho, Nhonhô Sapateiro, Harlem, Tidinho, Bil, Carlinhos Sô Dito, Geraldo Tiló, Luiz Preto, Fernando, João Lucas, Darlan, Clecy e tantos outros que fazem parte dessa história… História essa que ainda nos reserva muitas páginas.
PARABÉNS, ASBJ.
- Joel Tristão, que na foto está ao lado filho Harlem, é considerado o maior treinador da ASBJ. Profundo conhecedor do futebol, Joel Tristão sabia extrair o melhor de cada atleta e um descobridor de talentos. Conhecia como poucos os segredos dos adversários. Ele tinha consigo que para ser o melhor, tinha que jogar contra os melhores. Então os amistosos da Associação eram contra equipe de pontas do cenário futebolístico regional, como os clube do Vale do Aço, Pontenovense e até mesmo equipes do Rio de Janeiro vinham fazer amistosos em Bom Jesus do Galho.
- Omir Costa Corrêa, o ‘Tutuca’ (Foto do jogo de faixas da conquista do Regional da LCD de 1997 onde está com a filha caçula Maria do Rosário, a ‘Gugu’), é apontado como o melhor jogador da história da ASBJ. Polivalente, jogava em todas posições. Visão de jogo incomum e faro para fazer gols eram suas características. Tutuca sempre foi admirado e respeitado por companheiros e adversários. Um líder nato dentro e fora das quatro linhas. Como dizem aqueles o que viram jogar: “Com Tutuca em campo o time era um; sem ele, era outro”. Ganhou títulos com a Associação e recusou convites até clubes profissionais, como o Democrata-GV. Seu filho Magela, assim como os sobrinhos Dadá, Serginho, Zé Lúcio e Russo também vestiram a camisa tricolor. Todos eles seguiram o legado de Tutuca, simplesmente o melhor da história da ASBJ.
- Instituição completa 90 anos neste dia 17 de julho
- Foto de 1931. O goleiro Mário Tristão, carioca de nascimento que veio para Bom Jesus do Galho em 1928 à convite de Mauro Lobo Martins, foi o primeiro grande ídolo da ASBJ. Acrobático e ágil na reposição de jogo, qualidade incomum para os goleiros da época. Observe na foto que ele não jogava preto, uniforme típico dos goleiros de então. Raul Plassmann só foi jogar com camisa amarela nos anos 60. Até nisso Mário Tristão foi pioneiro. Devido ao seu legado, o estádio da ASBJ tem o seu nome.
- (Foto: Arquivo http://caveab.blogspot.com) Nessa foto de 1987, o segundo à esquerda é o Dr. Mauro Lobo Martins. Ele está junto do time que ganhou o primeiro turno do Regional da LCD daquele ano. Conforme informações do caveab.blogspot.com, ele nasceu em 02 de agosto de 1904 em Sereno, Cataguases (MG), o primogênito dos três filhos do casal Pedro Martins Pereira e Elvira Lobo Leite Pereira. Seu pai Pedro Martins Pereira transferiu-se para Visconde do Rio Branco, onde construiu a estrada de ferro entre aquela cidade e Rio Pomba. Foi então que, convidado pela Leopoldina Railway Company¸ mudou-se para Bom Jesus do Galho, aonde chegou em abril de 1929. Construiu o trecho que vai da Estação de Bom Jesus até a divisa dos Correas com São Bento. Foi nessa época que Mauro Lobo Martins se transferiu para Bom Jesus do Galho. Tendo se formado em Medicina pela Universidade do Rio de Janeiro em 1928, foi aproveitado como médico das turmas de empregados nas construções, então assoladas pela febre amarela. Mauro Lobo Martins, além de ser uns dos fundadores da ASBJ e tendo escolhido o uniforme do time, foi o primeiro prefeito do município de Bom Jesus do Galho. O mascote da ASBJ, Lobo, é em sua homenagem. Ele faleceu em 11 de julho de 1995, após 91 anos de frutífera existência. Com certeza absoluta, Dr. Mauro Lobo Martins é uma das personalidades mais importantes da história de Bom Jesus do Galho.
- Campeão do Torneio Integração, em 1960. Torneio em comemoração ao 29° aniversário da ASBJ (Foto: Arquivo Família Tristão) CAMPEÕES DA LCD
- Panorâmica do estádio Mário Tristão
- O manto sagrado tricolor