O Prof. Pedro Leitão, mui competente Presidente de nossa instituição – a UniDoctum / Rede de Ensino Doctum, fez ecoar uma NOTA DE REPÚDIO pela mídia social, condenando os trágicos, impensados, loucos atos terroristas de domingo, dia 8 de janeiro. Quero, por este meio, nosso Diário de Caratinga, me unir a essa palavra clara, corajosa, e que define nosso modo de pensar, nossa opinião e nossa forma de ação diante da violência e desrespeito às autoridades constituídas.
Reafirmo também – com confiança – que a triste nuvem do domingo que passou não pôde e não poderá apagar o brilho do domingo anterior: a posse do novo Governo do Brasil.
Minha vinda a Caratinga em 2011 tinha um fim bastante específico: a Doctum estava preparando para abrir uma Faculdade de Teologia, e, como na época eu era o único teólogo com mestrado da família, senti uma responsabilidade especial.
Desde que o conheci em 1971, admirei muito o trabalho do Rev. Uriel de Almeida Leitão. Sua origem tão simples no Pernambuco, sua luta para alcançar o nível superior de educação nos anos 1930-40 – ‘descendo’ de seu estado natal (imagine: não havia rodovias, nem passagens aéreas: provavelmente, veio de ônibus – a passagem de navio era muito cara! – uma viagem de 4 ou mais dias) para a Faculdade em São Paulo, e, depois, seu início em Caratinga, nos anos 40.
Ele sempre atraiu jovens que o admiravam e, logo, começaram a almejar a educação teológica superior. E no íntimo, o Reverendo sonhava com uma escola de profetas nesta nossa região tão especial do Brasil.
Antes de iniciar meu tempo na FUAL (Faculdade Uriel de Almeida Leitão), fui cursar pela segunda vez o Mestrado de Teologia, dessa vez na renomada EST, Escola Superior de Teologia. Meu alvo era trazer o melhor para ‘nossa’ escola com o nome do meu sogro, e amigo, Reverendo Uriel.
Logo decidi pelo tema e concentração do meu estudo: seria aquela situação inefável da primeira igreja em Jerusalém, na qual “não havia necessitados.”
Sim, é isso que se lê em Atos dos Apóstolos: “Pois não existia nenhum necessitado entre eles; porque todos os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam o valor do que vendiam e o depositavam aos pés dos apóstolos. E se repartia a qualquer um que tivesse necessidade.” (4.34-35)
Depois de longas pesquisas e estudos, cheguei a uma conclusão que meus instrutores e orientadores consideraram urgente e que deveria ser passada a todos os pastores, padres – líderes religiosos bem como a todos os que se identificavam com a igreja de Jesus Cristo: que a generosidade começa de cima, isto é, com a liderança.
Escrevi e defendi este trabalho e visão, e fui comissionado pelos meus orientadores de levar esta mensagem Brasil afora. Este foi o meu alvo ao chegar em Caratinga, e assumir a faculdade, devidamente autorizada pelo MEC em 2015.
Qual era ou é a ideia principal desta visão de educação teológica superior?
QUE OS POBRES, OS SEM-DIREITOS, OS QUE NÃO TÊM CASA nem ACESSO ÀS FACILIDADES DA VIDA “MODERNA” – enfim, OS QUE VIVEM À MARGEM DO NOSSO “PROGRESSO” – estes é que devem estar no centro das atenções da liderança, principalmente das instituições religiosas. Escrevi o livro com esse título e o lancei no final de 2020: “A Generosidade Começa de Cima – O sonho do Criador para seus filhos na Terra”, publicado pela Editora de Caratinga.
Nunca – mas nunca mesmo imaginei ouvir da boca de um Presidente da República, de seus Assessores mais próximos, de seus Ministros – a proclamação desta verdade bíblica!!!
Falta o RECONHECIMENTO DA PARTE DAS LIDERANÇAS RELIGIOSAS de que este é o caminho que Jesus tinha em vista quando se despediu dos seus seguidores. Mas não houve dúvida no coração e na mente dos discípulos, depois, apóstolos: na comunidade onde Cristo é adorado O POBRE É ABRAÇADO, E AJUDADO.
Os discípulos viram e fizeram o registro (!) de situações de sua jornada com Jesus:
– Quando o chefe dos cobradores de impostos em favor dos romanos, Zaqueu – de pequena estatura, ofereceu um banquete a Jesus em sua casa, e a certa altura, declarou: “Vê, Senhor, darei aos pobres metade dos meus bens, e, se prejudiquei alguém em alguma coisa, eu lhe restituirei quatro vezes mais.” (Lucas 19.8)
– Quando o jovem rico e importante perguntou a Jesus o que deveria fazer. A resposta de Jesus foi: “Ainda te falta uma coisa. Vende tudo quanto tens, reparte com os pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me.” (Lucas 18.22) O texto termina, porém, relatando que o jovem foi embora “triste”, pois era muito rico!!!
O que ficou marcado na minha pesquisa, porém, é que CUIDAR DOS POBRES, dos injustiçados – não eram apenas ideias de Jesus. Descobri no Antigo Testamento – na Torá, como se conhecia originalmente – que Deus tinha ordenado que a sociedade cuidasse dos desfavorecidos – e até encontramos no 5º. Livro de Moisés (Deuteronômio) no cap. 15, versículo 4, este versículo: “Entretanto, não haverá pobre algum no teu meio!”
O Profeta Isaías deixou registrado esta interessante pergunta:
“O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo o jugo?
Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo?” (Isaías 58.6-7)
E nos Salmos, temos o de número 72, a Oração pelo rei:
“Ó Deus, dá teus juízos ao rei, e ao filho do rei, tua justiça, para que ele julgue teu povo com justiça, e teus pobres com equidade… Que ele julgue os aflitos do povo, salve os filhos do necessitado e esmague o opressor.” (1-4)
Prezado Leitor, prezada Leitora, se não tivesse sido anunciado repetidas vezes, e pelos diversos representantes do novo Governo, eu hoje estaria achando que preciso ser internado. Mas tudo foi expresso de forma tão clara, preto no branco: Este novo governo assumiu um compromisso dentro dos desejos do coração de Deus!
Ninguém discorda que é de Cima, daqueles que estão no poder, que deve surgir o exemplo. Isso pode certamente se tornar uma corrente, uma torrente de águas doces para o nosso povo tão sofrido.
Como sou da área religiosa, a pergunta que se levanta na nossa frente é:
E nós, a igreja, o que vamos fazer?
Ou melhor, quem voltará ao “Caminho” (termo usado pelo novo Ministro da Justiça), ou, então, à “POLÍTICA” original da igreja de Jesus?
Como lembrei no artigo anterior, a “adoração de verdade é cuidar dos pequeninos, é estar presente na vida dos outros, dos mais fracos, dos necessitados! Assim como Maria cuidou de Jesus-criança!”
(As crônicas têm um podcast. Se você enviar seu e-mail, terei muito prazer em enviá-lo para você. Até – talvez você conheça alguém que não gosta de ler, mas gostaria de ouvir…)
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, FUAL – Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – UniDoctum
E-mails: [email protected] ou [email protected]