*Eugênio Maria Gomes
No começo eram apenas rios, cachoeiras, matas, planícies, montanhas, água de boa qualidade, ar puro e bichos. Praticamente de todas as espécies, menos uma, aquela que chegaria para “botar fogo no parquinho” e transformar a perfeita harmonia existente entre a terra, a água e o ar. De repetente, chegou a mais predadora de todas as espécies animais, conhecida como bicho-homem. Ele foi ocupando o Norte, o Sul, o Leste, o Oeste…
Se o rio incomoda, muda-se o seu curso. Não gosta daquela montanha, basta removê-la. Para quê tanto espaço para um córrego, se o melhor era fixar moradia às suas margens? Ah, mas se o córrego atrapalha… Canaliza-o! E assim o homem foi tomando conta, assumindo o seu papel de “dono”, de “chefe” de algo que não lhe pertencia.
Mas era pouco, apenas, mexer na parte física do meio ambiente. Depois de derrubar a árvore, seria bom queimá-la, transformá-la em carvão, movimentar máquinas e colorir o azul do céu com um pouco de fuligem. Máquinas produzem resíduos, mas para que servem os rios? Basta jogar na água que a sujeira vai embora rapidinho. Agora, com as encostas devastadas fica mais fácil construir casas e prédios com vistas privilegiadas!
Fura daqui, fura dali, e o homem descobriu o petróleo! Com ele, desenvolveu combustíveis, plásticos, asfaltos e o gás. Passou a movimentar mais máquinas, a se transportar com mais facilidade, a transformar o dia em noite, a ter mais conforto, a se alimentar melhor e a expandir os seus momentos de lazer e prazer.
Até aí, tudo certo. O único problema é que, a cada ação desenvolvida, o homem não se preocupava com qualquer tipo de análise sobre o impacto de suas múltiplas atividades, em um espaço que, inicialmente, só pertencia aos outros bichos. Estava tudo fácil demais, tudo à mão, então não fazia sentido questionar coisas do tipo “Se eu cerco o rio, para onde a água irá?”, “Que efeitos a poluição pode ocasionar na atmosfera?”, “Se eu arranco a mata das encostas, como é que o morro se sustentará?”, “Se eu espanto o bicho de seu habitat, para onde ele irá?”, “Como conciliar o conforto que eu quero com o bem estar do meio em que eu vivo e dependo?”… Enfim, eram perguntas demais para responder. Melhor era fazer o que tivesse que ser feito e depois pensar nas respostas.
O homem é, essencialmente, imediatista. Se o seu presente está dando para viver legal, para que se preocupar com o futuro? O próximo que vier que se vire! E, assim, séculos após séculos, o homem tornou-se um especialista em desmanchar o que levou milhões de anos para se formar naturalmente. O resultado é um número cada vez maior de catástrofes climáticas, com inundações em algumas regiões e insolação de deserto em outras. Cidades inteiras devastadas pela enchente ou pela seca, doenças mortais se alastrando a cada ciclo, porém, nada parece conseguir frear o descaso do homem com o lugar onde vive.
Nós criticamos os “chatos” dos ambientalistas, dizemos que isso é “questão ideológica”, “coisa de gente que não tem o que fazer”, que preservar as florestas é “atravancar o progresso”, atacamos os outros para justificar os nossos erros… Não abrimos mão do plástico – e também não sabemos descartá-lo -, geramos cada vez mais lixo sem qualquer preocupação com o que fazer dele, matamos as nascentes, poluímos os rios e provocamos queimadas.
Enquanto isso, a última década apresentou as temperaturas mais elevadas da história, diversas espécies de animais desapareceram, São Paulo já teve algumas chuvas químicas e as torneiras do Rio de Janeiro, há pouco tempo, jorraram água turva como se não tivesse sido tratada…O que mais de grave terá que acontecer para o homem entender que ele NÃO É DONO do meio ambiente, mas, pelo contrário, ele faz parte e precisa dele?
O problema ambiental é muito maior do que parece. Essencialmente, em sua causa principal, encontramos o mesmo fator que também é causa de inúmeras outras mazelas humanas; nossa profunda ganância, e nosso profundo egoísmo e egocentrismo. Já está mais do que provado que é possível conciliar desenvolvimento e boa qualidade de vida, preservando-se o meio ambiente. Não o fazemos em escala global por interesses econômicos. O homem não é a única espécie a habitar o planeta. Ele é apenas a espécie dominante, e a única capaz de destruir todas as demais. Mas se não conseguimos frear nosso egoísmo nem nas relações entre nós mesmos, como esperar que tenhamos respeito pelas demais espécies que dividem conosco o mesmo espaço?
Somos o resultado das nossas escolhas. E, ao que parece, na questão ambiental, fizemos e continuamos a fazer as escolhas erradas…
“Para a ganância do homem, toda a natureza é insuficiente”, Sêneca.
*Escritor e funcionário da Funec.